Winnicott diz que não existe bebê sem a mãe, assim como não
existe uma mãe sem o pai. A função do pai no estágio inicial de vida do bebê é a
de maternar a mãe, assim como a da
mãe, consequentemente, maternar o
bebê.
Um bebê, na concepção dele, inicialmente
é composto por partes separadas (não-integradas) de: pés, cabeça, braços, corpo
etc. Como diz Winnicott (2000, p. 224), um “bebê que não teve uma única pessoa
que lhe juntasse os pedaços começa com desvantagem a sua tarefa de
auto-integrar-se, e talvez nunca o consiga, ou talvez não possa manter a
integração de maneira confiante.”
É na experiência de alimentar o bebê,
da amamentação (seja qual forma for: seio ou mamadeira) que se promove a
possibilidade de construção de vínculo com o mundo. O momento da ilusão, em que
o bebê acredita ser ele o criador de tudo que recebe (o seio, o leite etc.),
possibilitará a entrada no mundo externo quando a mãe favorecer esse tipo de
experiência (o bebê acreditar que seja ele o criador da situação). A mãe oferece
ao bebê continuamente um pedacinho simplificado do mundo, de algo que está fora
(mesmo que ele creia que seja criação dele, não o é verdadeiramente, mas ele só
descobrirá isso mais tarde), que ele, através da mãe, passa a ter contato, a
conhecer.
Nessa perspectiva, fazer uma boa “maternagem”
é ser uma mãe suficientemente boa (na minha visão, é uma mãe que é nem
tanto nem tampouco, é na medida, atende às necessidades do bebê instintuais e
egóicas, vai se desligando gradualmente do bebê, à medida que o bebê vai
necessitando menos dela e saberá quando de disponibilizar ao bebê, caso haja
necessidade novamente). Inicialmente há uma adaptação quase completa às
necessidades do bebê, e à medida que o tempo passa – e o bebê vai indicando
essa possibilidade – ela adapta-se cada vez menos, de modo gradativo, seguindo
a crescente capacidade do bebê em lidar com o afastamento dela.
O bebê pode ganhar com a experiência
do afastamento, uma vez que a adaptação incompleta às suas necessidades abre
espaço para a entrada real do seu conhecimento sobre o mundo externo a ele, no
que ele, gradualmente, perderá a ilusão de que ele cria tudo e passará a
existir o outro além dele (antes dessa fase o bebê acreditava que ele e a mãe
fossem um só). Desde que essa experiência de afastamento não seja por um tempo
maior que o tempo que ele possa suportar, é uma experiência importante e
positiva na estruturação do psiquismo da criança, que possibilitará o
crescimento de um sujeito confiante e seguro.
Assim mamães, ajudem seus bebês nessa
jornada de tornar-se um sujeito maduro, capaz de adequar-se às exigências da
sociedade sem abrir mão excessivamente de sua espontaneidade pessoal. E papais,
ajudem as mamães, e consequentemente seus bebês, nessa tarefa, que pode ser
naturalmente e simultaneamente deliciosa e apreensiva.
A foto abaixo é uma ilustração da pessoa que faz a maternagem com Tomaz e da pessoa que exerce a maternagem com a mãe dele.
[1]
Psicóloga Clínica, Psicanalista da Sociedade Psicanalítica da Paraíba, Mestre
em Educação (UFPB), Especialista em Psicologia Clínica – Psicanálise (EPSI/PB)
e Especialização na Área da Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes
(TELELACRI/USP).
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