quinta-feira, 5 de abril de 2018

A chegada de um (ou dois) irmãos e a invisibilidade do primogênito


A chegada de um irmão (ou dois) é sempre um misto de sentimentos para o irmão mais velho. Aqui em casa não haveria de ser diferente. Embora Tomaz tenha desejado muito um irmãozinho e tenha ficado eufórico em descobrir que ao invés de ganhar um ganharia dois irmãos, ele tem sentido muito o nascimento dos gêmeos.
Tudo começou quando, no momento do nascimento, os pequenos precisaram ir, mediatamente, para UTI. Com isso, Tomaz não pôde vê-los e começou a sentir muito por não ter condições cognitivas nem afetivas de construir estes irmãos sem vê-los.
Com a estadia dos pequenos na UTI neonatal e, pelo fato de serem dois, a mãe e o pai precisavam estar sempre presentes no hospital e, em função disso, o ex pequeno (agora grande) Tomaz começou a sentir, ainda mais, a chegada dos irmãos.
Tom fez de tudo. Adoeceu, chorou muito, cobrou atenção, disse que a gente não amava mais ele e fez tudo o que uma pessoa, muito enciumada, é capaz e fazer. Isso ocorre porque as crianças pequenas representam o amor de seus pais pela atenção que deles elas recebem. Como a atenção foi comprometida, é natural que a criança fique insegura em relação a este amor que, para ela, é estruturante.
Para lidarmos com esta fase que é difícil para todo mundo, sobretudo para Tomaz, temos buscado uma dose extra de empatia, para nos colocarmos, mais ainda, no lugar desse menino lindo que, durante 6 anos, foi o centro das atenções e agora precisa ceder espaço para duas criaturinhas que ele ora ama e ora não ama tanto assim (Jamais devemos obrigar os mais velhos a verbalizarem que amam os mais novos).
Com esta empatia, buscamos sempre reconhecer o sentimento dele e damos legitimidade para que ele possa sentir tais emoções sem culpa. Assim, sempre que podemos nós lhe dizemos:
- Você está chateado, Tom? E quando ele responde afirmativamente, eu complemento:
- Os irmãos estão chorando e mamãe precisa, agora, dar atenção a eles. Ela sabe que você também queria ficar com ela agora, não é? Eu posso ficar contigo daqui a pouco e, se você quiser a companhia de alguém agora, posso pedir para o papai ficar com você, pode ser?
Com isso, além de legitimarmos que ele pode estar chateado, sentir raiva dos irmãos ou outro sentimento que desperte nele sensações desagradáveis, demonstramos que estamos atentos e nos importamos com o que ele sente, embora, nem sempre, consigamos deixar o que estamos fazendo para atendê-lo em todos os momentos.
Além disso, eu ou o pai estamos buscando ficar disponíveis para ele, enquanto o outro, com a ajuda da família ou das pessoas que colaboram em nossa casa, dar conta dos pequenos, alimentando-os e cuidando deles. Por mais difícil que seja, temos tentado manter a rotina de Tomaz, levando ele na escola, pegando ele na escola, acompanhando nas lições de casa, descendo para brincar embaixo do prédio, ajudando na alimentação, etc.
O importante é que os adultos da relação entendam que o momento da chegada de novos membros à família é difícil para todos, mas que cabe aos adultos darem o suporte às crianças, a fim de que a fantasia do abandono possa ir sendo, pouco a pouco, ressignificada. Para dar este suporte, faz-se urgente tirar este mais velho da invisibilidade, questão muito recorrente quando um novo bebê chega ao recinto e, com sua fofura, ganha todos os olhares.
Sobre esta invisibilidade do primogênito, Luci Lima (@luciglima) traz um relato emocionante, que a mim e ao pai do Tom muito tocou ao ponto de nos arrancar lágrimas. Pela profundidade do texto, decidi compartilhá-lo aqui, para que todos pudessem, também, se emocionar.

O menino invisível (lindo!)

“Outro dia ao usar o elevador do prédio, eu, meu filhão e minha bebê, encontramos alguns vizinhos.
Durante o trajeto, os vizinhos foram brincando com a bebê, perguntando nome, idade... Quando saímos do elevador, meu filho diz:” mãe, já percebeu que parece que eu estou invisível? Ninguém mais me nota, só olham para a minha irmãzinha. Os vizinhos nem me deram bom dia! “ .
Tomei um susto quando ouvi, e na hora me veio a resposta (normalmente isso não acontece, mas nesse dia fluiu): “eu te entendo filho, você já percebeu que ninguém pergunta como eu estou? Se eu consigo dormir bem, se estou sentido alguma dor, nada. Só querem saber da bebê.”
Ele me deu um abraço e disse:” é mãe o jeito é a gente se ajudar.” “Mas filho, eu não fico triste. Quando você era bebê acontecia a mesma coisa, todo mundo só queria saber de você e eu e o papai ficamos invisíveis, mas felizes porque todos queriam conhecer o mais novo membro de nossa família.
Você vai ver, já, já essa novidade passa e tudo volta ao normal.
Passando alguns dias, a cena no elevador se repetiu.
Como que por proteção olhei imediatamente para ver como meu filho estava reagindo aquela bajulação dos vizinhos com a irmã. Ele estava sorrindo e quando viu que eu estava olhando para ele, segurou minha mão e me deu uma piscadinha com um dos olhos. Tive vontade de parar tudo e esmagá-lo de beijos.
Quando saímos do elevador perguntei para ele: ”filho , está tudo bem?“
A resposta dele me surpreendeu: “não se preocupe, mamãe. Eu já entendi que a neném é novidade, um dia eu passei por isso, agora é a vez dela”.
Simples assim, resolvido e superado. Ao menos por hoje.
Como ele me ensina.
Ele pode até estar invisível para alguns, mas para mim ele brilha.”