domingo, 20 de setembro de 2015

Lições do Pequeno Príncipe para uma adulta mãe: o filme.



Ontem à tarde, fomos ao cinema eu, Tom, o pai dele e um amiguinho que meu pequeno convidou para ir junto conosco. A escolha do dia foi O PEQUENO PRÍNCIPE, uma história cujo livro é admirado por mim desde a infância e que eu queria muito que meu filho pudesse começar a conhecer.
Como a maioria das pessoas, o que mais me impressiona na obra literária é a profundidade e leveza com que coisas tão lindas são ditas. Eu jamais me esquecerei, durante toda a minha vida, das frases tradicionais que li no livro e que me acompanham durante todos os momentos: “o essencial é invisível aos olhos”; “só se vê bem com os olhos do coração”; “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”; “a gente só conhece bem as coisas que cativou” e tantas outras que me ensinam, sem dúvida, a ser uma pessoa melhor (ou ao menos tentar).
Fui ao cinema permeada pelo mais ambivalente dos sentimentos: expectativa e insegurança. Isso porque toda vez que um livro é traduzido para as telonas chovem críticas que afirmam: o livro é muito superior! Assim, decidi embotar a expectativa e me aventurar a, durante a sessão, me deixar cativar. Pensei: mesmo que não valha tanto a pena, alguma coisa eu ei de apreciar e logo lembrei da frase do Pequeno Príncipe: “é preciso que eu suporte duas ou três larvas se eu quiser conhecer as borboletas!”
Entretanto, a borboleta me apareceu logo que sentei na poltrona, de modo que desde a primeira cena a fotografia me impressionou, a trilha sonora me sensibilizou e a delicadeza das falas das personagens me emocionaram tanto que, muitas vezes, foi impossível segurar as lágrimas. Nessa hora, lembrei da raposa e pensei: “ a gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar” e percebi que eu estava completamente apaixonada por este filme, cada vez mais.


A obra é leve e profunda. Não é uma tradução pura e simples da obra de Saint-Exupéry, mas uma imersão da sua poética na história de uma garotinha, cuja mãe é uma controladora obsessiva que possui como meta de vida a sua aprovação na melhor escola da cidade.
Para isso, a mãe embota a infância da menina, controlando, a todo momento, todos os passos e ações da garota: estudar, ler, fazer exercício, comer... Tudo minimamente programado. A mãe esquece, apenas, de que do outro lado, aquele ser, que mais parece um robô, é uma criança que já tem sentimentos e que precisa ser feliz.
Diálogos como “você será uma grande pessoa quando crescer, minha filha!” são muito comuns nas trocas entre mãe e filha e evidenciam uma concepção materna muito clara: a mãe percebe a  filha como um projeto para seus sonhos pessoais, não como uma criança que sente, pensa e vive.


A infância, de verdade, começa a se evidenciar quando a garotinha faz amizade com o aviador que lhe apresenta o texto do pequeno príncipe de modo despretensioso, sem obrigações nem, tampouco, aplicabilidade.
A menininha, que até então só lia o que servia para sua aprovação na famosa escola, começa a imaginar, a viajar pelo mundo da fantasia bem característico às crianças, fazendo-a descobrir o que, de verdade, é importante ao mundo e a nós mesmos. 
O filme fala de infância, mas fala, sobretudo, da efemeridade das relações, de como nós, os adultos, valorizamos coisas secundárias, subjugando o que essencial e invisível aos olhos sem reconhecer que há coisas que são inacessíveis ao dinheiro.
Ah, para mim, essa foi uma das partes mais marcantes do filme. Em uma das cenas mais lindas, o Pequeno Príncipe se encontra com o homem de negócios que contava as estrelas do céu, julgando-se dono delas. Quanto mais estrelas contava, mais rico se sentia. Apoderara-se das estrelas que jamais tinham sido reivindicadas. Sua fortuna brilhava no céu, impalpável, como a ilusão de todas as riquezas do mundo e, percebendo isso, o principezinho lhe pergunta: o que fazes tu dessas estrelas?
- O que faço delas?
-Sim.
-Nada. Eu as possuo.
- Tu possuis as estrelas?
- Sim.
- Mas eu já vi um rei que...
- Os reis não possuem. Eles “reinam” sobre. É muito diferente.
- E de que te serve possuir as estrelas?
- Serve-me para ser rico.
- E para que te serves ser rico?
- Para comprar outras estrelas, se alguém achar.
(...)
- Basta isso? - E prosseguiu – Tu não podes colher as estrelas.
- Não, mas posso colocá-las no banco.
- Só isto?
- E basta...
- É divertido - pensou o principezinho. Eu possuo uma flor que rego todos os dias. Possuo um vulcão que revolvo toda semana, porque eu revolvo também o que está extinto. A gente nunca sabe. É útil para os meus vulcões, e útil para minha flor que eu os possua. Mas tu não és útil às estrelas.
O homem de negócios abriu a boca, mas não achou nada a responder.  Desiludido com a ganância do homem, o principezinho seguiu a sua jornada, mas não sem antes nos tocar profundamente e nos fazer refletir sobre como temos “colecionado estrelas” que em nada iluminam nossos dias. Como temos deixado pouco tempo para a convivência com os filhos, com os amigos, com aqueles que amamos, desprezando o ensinamento de “que foi o tempo que dedicastes a tua rosa que fez dela importante”.


Não pude sair do filme sem estar profundamente mexida... sem olhar para meu filho pensando o quanto tenho necessidade dele, pois “ele é, para mim, único no mundo e eu serei, sempre, para ele única também”, e mesmo que um dia nós já não estejamos juntos (infelizmente as mães não são para sempre), eu espero que ele tenha aprendido que basta que ele fique contente por ter me conhecido, e que ao lembrar de mim, ele perceba que passamos toda a nossa vida nos cativando e, justo por isso, estaremos sempre juntos, mesmo que não nos vejamos mais, porque “o essencial é invisível aos olhos”.

Resultado de imagem para o filme do pequeno príncipe

Filme lindo e emocionante, muito mais apreciado por mim do que pelo Tom, que ainda não entende o que significam aquelas palavras, mas já sente o quão grande é o amor que elas traduzem. Sai do cinema, realmente, cativada. 

terça-feira, 8 de setembro de 2015

A babá dependência e os modelos educativos no Brasil

No último mês viajamos de férias: eu, Tom o pai dele e mais os padrinhos, os tios e a avó materna. O objetivo da viagem foi comemorar o primeiro aninho do priminho dele, Samuel, que mora na terra da rainha.
Além de participarmos da festinha, aproveitamos para passear em várias cidades inglesas, onde visitamos o Parque da Pepa para que o Tom pudesse ver um lugar infantil inteiramente dedicado a porquinha mais famosa dos últimos tempos.
Em todos os lugares que fomos, desde os mais infantis (como o parque citado), até lugares bem adultos (como as universidades em Cambridge), observamos pais e crianças que passeavam com tranquilidade, aproveitando a companhia uns dos outros.
Justo por isso, me chamou atenção que em nenhum lugar nós observamos babás acompanhando as famílias, o que permitia ver a naturalidade com que os adultos cuidavam dos filhos de forma tão espontânea e rotineira. A tranqüilidade com que todos conduziam as crianças era tão natural que não soava o martírio que, muitas vezes, me transparece nas famílias brasileiras que ficam desesperadas quando precisam levar os filhos a um parque.
Aqui no Brasil estamos exagerando na necessidade de ter, sempre, alguém que faça por nós aquilo que cansa, mas que deve ser motivo de prazer para os pais. Tem sempre babá, folguista, folguista da folguista, e os pais quase nunca se aventuram a trocar uma fralda, correr atrás dos filhos em um parque, dar a comida, banho e tantas coisas que fazem parte da rotina de quem tem filho pequeno.
A babá dependência está tão forte que fui fechar o quarto aninho do Tom em um Buffet infantil e tive que dizer quantos adultos, crianças e babás seriam convidados para que fosse finalizado o orçamento do evento. Vejam, as babás são tão presentes que os buffets já reconhecem a sua participação nas festas infantis como certa, tendo que cobrar por isso também (apesar de que eu acho que deveriam ser tratadas como qualquer adulto, pois é isso que são de verdade).
Sei que algumas mães têm muitos filhos, ou tem criança que demanda necessidade especial que requer mais atenção. Mas tem sido muito comum ver nos parques um pai, uma mãe e uma babá, compondo três adultos para olhar apenas uma criança que brinca, como todas as outras e, por isso, cansa muito os pais no corre-corre da infância.
Isso não é possível! Não podemos, em nome de um cansaço, abrir mão de conviver com as crianças, usufruindo tudo o que elas fazem: correr, comer, tomar banho, etc. Não podemos abrir mão de estar junto e orientar quando preciso. Uma babá, por mais boa vontade que tenha, nunca conseguirá transmitir os valores da família de forma clara nem educar conforme os pais legitimam. Mais do que isso, quando nos afastamos dos cuidados necessários aos pequenos, delegando sempre a terceiros a responsabilidade com isso, fragilizamos a construção de vínculos sólidos entre pais e filhos, pois estas tarefas significam doação – questão necessária no processo de vinculação.
A educação dos filhos é responsabilidade nossa. E ela se torna necessária, justamente, quando eles estão vivos na brincadeira, quando eles estão bravos na hora do banho, quando eles estão birrentos no momento do almoço quando eles estão sendo crianças. Somos nós que devemos educá-los e se abrirmos mão disso, esvaziamos a relação entre pais e crianças.
Não quero dizer, com isso, que ninguém possa contar com a ajuda de alguém na educação da criança. Estou dizendo, apenas, que não podemos ter babás 24 horas por dia em sete dias da semana. Hoje as babás têm que dormir, tem que ter substituta no sábado, no domingo, nos feriados. O problema reside aí. A tarefa materna/paterna não é gerencial, mas de colocar a mão na massa por obrigação e por prazer de cuidar daqueles que amamos acima de tudo.
Se gostamos de ser mãe ou pai apenas quando as crianças dormem, há algo errado nisso e nós precisamos rever a relação afetiva que temos construído nesse processo maternal/paternal.
Ser pai ou mãe é cansativo, mas é necessário e prazeroso... os filhos crescem e logo, logo não precisarão mais de nós nos cuidados básicos... e o mais cruel disso tudo é que o tempo não volta. Por isso, vamos dar folga as babás nos finais de semana... vamos assumir os cuidados com os filhos enquanto eles precisam.
Vamos cuidar dessa relação da maneira que podemos, para que os nossos filhos reconheçam que, da forma como é possível, estamos nos doando nessa relação.      

  

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Quem precisa de um filho genial?


Hoje estava fuçando o facebook quando vi um post do querido Francisco Alexandrino sobre o livro abaixo.


Imediatamente o título da obra me chamou atenção, acendendo em mim a luz vermelha de preocupação: minha nossa, só me faltava essa! Estou até vendo mães e pais consumidos pelo desejo de educarem filhos gênios, aplicando letra por letra da leitura do livro. Estou até vendo – como conseqüência – crianças sofrendo pelas pressões paternas e maternas, sem conseguirem atender as expectativas de seus pais. E por fim, vejo pais frustrados, crianças deprimidas, e nenhum gênio que tenha sido treinado para isso através desta magnífica obra.
Minha nossa, um livro dessa natureza é um risco a saúde social. Isso porque leva pais e mães a colocarem a saúde mental de seus filhos em risco, motivados pela possibilidade de sucesso: meta geral nesta sociedade pós-moderna, cujos valores capitalistas são tão presentes.
O pior é que esta obra não é uma publicação isolada. Apenas numa busca rápida pela internet achei mais de dez livros cujas propostas são as mesmas das defendidas no livro aqui apresentado: orientar pais a educarem filhos para serem gênios. Não é possível que isso esteja acontecendo e nós, pedagogos, pais e mães estejamos indiferentes a isso.
É preciso que questionemos esta realidade, a partir de algumas reflexões. A primeira delas é: qual a importância de que nossos filhos sejam gênios? Será que é porque acreditamos que sendo eles demasiadamente inteligentes garantimos que terão sucesso financeiro, quase como se isso fosse uma equação exata?
Ledo engano! Dias desses li um estudo longitudinal, feito por pesquisadores norte americanos, cujo acompanhamento de crianças com alto, médio e baixo desempenho permitiu afirmar: não são as pessoas com maiores notas na escola que garantem o sucesso profissional, mas a existência de projetos claros de vida. Isso quer dizer que mais vale saber aonde se quer chegar do que ter 10 em todas as disciplinas do boletim escolar.
Segundo, é possível transformar nossos filhos em gênios? Para esta, a resposta é negativa. E, ainda mais, ela é um risco, porque a vida de uma criança cuja meta paterna é transformá-la em gênio vira um verdadeiro martírio: ela ouve Mozart desde o nascimento, porque os pais ouviram que música clássica potencializa a inteligência; ela faz inglês antes de aprender a falar sua língua materna; faz aula de reforço antes de aprender a escrever seu próprio nome, freqüenta teatro, cinema, exposição e tudo mais que possa fortalecer seu repertório cultural, transformando o entretenimento sempre em possibilidade de desenvolvimento... A criança gênio em potencial faz tudo... só não faz o que ela poderia fazer para crescer saudável e feliz: ser criança.
Não estamos nos dando conta de que estamos vivendo num mundo tão competitivo que nos leva a adotar uma posição de competição incluindo a criança nisso. É preciso que reconheçamos que cada criança é única, possuindo um ritmo de aprendizado próprio, adequando aos seus níveis de desenvolvimento. Não adianta querer que uma criança faça equações aos oitos anos, porque ela não tem condições cognitivas para isso.
Na tentativa de educarmos gênios estamos, na verdade, pulando fases e enlouquecendo as escolas que, cada vez mais, se vêem obrigadas a alfabetizar as crianças com quatro ou cinco de anos de idade, alimentando o ego dos pais que poderão dizer nas festinhas infantis: meu filho lê e escreve aos cinco anos.
Gente, isso é um absurdo, pois o sistema nervoso da criança ainda não está maturado para esse tipo de atividade e forçá-la a realizar tarefas para as quais ainda não está pronta pode levar a criança a apresentar dificuldades de aprendizagem um pouco mais tarde.
Essa geração de gênios é a mesma geração da depressão infantil, das crianças com distúrbios do sono, com alterações alimentares, com fobias e tantos outros transtornos psicológicos que até pouco tempo era “privilégio” do mundo adulto. Isso não é coincidência.
Estamos, como pais, tão preocupados com o futuro dos filhos que acabamos transmitindo para eles nossas expectativas. Enquanto as crianças de antes fantasiavam sobre o futuro imaginando se seriam astronauta ou estrela de cinema, as crianças educadas para serem gênios imaginam, cada vez mais cedo, quantos carros terão na garagem ou quantas viagens vão fazer ao exterior. A preocupação desta geração que forma gênios está sempre ligada à riqueza material.
Não podemos fazer nossos filhos acreditarem que dinheiro é o único sinal de sucesso e que a obtenção desse sucesso virá através de boas notas. Corremos o risco de estressar nossos filhos e, ainda mais, inibi-los na busca do que realmente importa na vida: a busca pela felicidade.
É por isso que eu penso que não precisamos de filhos geniais, mais de filhos que enxerguem em nós o suporte emocional que precisam para se desenvolver saudável e feliz.