domingo, 22 de fevereiro de 2015

O H maiúsculo deveria ser de hombridade

Ontem vi um vídeo que me fez mal: uma mulher, embriagada, sem blusa, sendo alisada por homens de forma animalesca. O conteúdo do vídeo me causou mal, porque ver uma mulher vulnerável, sendo abusada por homens sem nenhum pingo de hombridade me fez questionar o valor da humanidade e a forma como temos nos relacionado com as pessoas.
Isso porque, a pessoa que me enviou o vídeo destacava a embriaguez da mulher quando, ao meu ver, o grande problema da cena era a falta de generosidade das pessoas ao redor – mulheres e homens, que se aproveitavam de uma situação para abusar do corpo da moça. Os peitos de fora não eram nada (já que eram dela e ela faz o que quer com eles), mas o que me deprimiu foi o fato de julgarem que ela merecia ser abusada por estar sem blusa e bêbada em ambiente público.  
Vendo aquilo e refletindo sobre o que via pensei: que vergonha eu sentiria se me filho estivesse ali, abusando da garota de maneira covarde; que vergonha eu sentiria se eu fracassasse tanto como mãe ao ponto de educar um filho oportunista e desrespeitador que ao invés de ser um homem - com H de hombridade - fosse um mero animal irracional que ignora a condição humana diante de uma embriaguez.
É por isso que depois desse vídeo eu me esforçarei cada vez mais para que meu Tomaz, hoje ainda com três anos, possa se desenvolver num ambiente no qual a maior manifestação de masculinidade seja o respeito ao outro independentemente das “oportunidades” e do que o outro esteja fazendo.
Me esforçarei para que ele entenda que se aproveitar de uma mulher ou de um homem bêbado é um sinal de pouco caráter e que nós NUNCA devemos sentir prazer as custas da exploração alheia, sobretudo a sexual. Lutarei, ainda, para que Tomaz saiba, sempre, que qualquer tipo de relação com outra pessoa só pode ser prazerosa se for consentida e que o consentimento passa, necessariamente, pela capacidade de decidir.
Continuarei me esforçando para que o Tomaz saiba que numa cena daquela, ao invés de seguir o movimento da maioria, ele deve agir para acabar com uma coisa tão absurda e que, justo por isso, ao invés de alisá-la ele poderia ajudá-la a sair dali.
Ensinarei ao meu filho, ainda, que vergonhoso não é estar de peitos de fora, mas é, sim, se aproveitar disso julgando que o corpo alheio me pertence e pode ser usufruído sem nenhum pudor.
E ao ensinar estas coisas ao meu pequeno eu espero, apenas, que ele se torne um homem e que, justo por ser da espécie humana, ele olhe para todos os seus semelhantes vendo a si mesmo e respeitando-os em sua integralidade. Porque como mãe, o que eu preciso ensinar ao Tomaz é que aquela mulher deveria ter sido respeitada não apenas porque ela merecia respeito, mas, sobretudo, porque o meu respeito não depende da ação alheia, mas dos valores que nos cultuo em mim mesma.

E como eu não estava lá para tentar ajudar a moça, faço a minha parte criticando o ato e não compartilhando o vídeo. Porque vergonha mesmo eu sinto daqueles homens e de todos os outros que compartilham a cena achando-a engraçada e não daquela mulher que longe de ser a culpada pela cena grotesca, era vítima de uma cultura machista e heteronormativa como a nossa.