domingo, 18 de junho de 2017

O mundo é de agora em diante

Muitos aqui já sabem que nossa corrida para aumentar a família é grande e árdua. Como convivemos com o fantasma da infertilidade e, ao mesmo tempo, desejamos muito que a família cresça, contamos com a persistência de quem quer muito mais filhos e vai atrás das possibilidades.
Já fizemos de tudo: simpatia, remédios naturais, posições mirabolantes que podem favorecer a gestação, etc. Também já adotamos o caminho da medicina e fizemos muito tratamento para engravidar, passando por longos estresses que só conhece quem faz milhares de ultrassonografias por mês para acompanhar a ovulação e tentar acertar com os poucos óvulos que possui (Pois é, o que parece fácil para muitos é, para alguns, verdadeira loteria).
Desde o ano passado, decidimos percorrer outras estradas e tomamos a decisão de ampliar a família via uma adoção, gestando em nossos corações a espera por mais uma criança (ou duas, quem sabe?!) que chegará para aumentar o amor que existe em minha família e que deseja tanto ser vivido ao lado de mais gente.
Esta semana estamos vivendo um momento especial neste processo: será nossa primeira entrevista depois de uma longa espera de mais de um semestre. Para quem está com o coração cheio de amor e ansiedade, estes meses pareceram anos e eu, Pery e Tomaz aguardamos este dia cheios de expectativa para sabermos como será daqui para frente: ainda demora muito? Será rápido? Saberemos em quanto tempo quem será nosso(a) filho(a)?
Estas questões não têm saído de minha cabeça e a minha imaginação tem ido a mil pensando nesse filho (a): sua idade, seu sexo, suas preferências, gostos, desejos e expectativas... Sabemos que numa adoção o caminho é de mão dupla: enquanto estamos aqui na expectativa pela chegada deste(a) filho(a) ele(a) também está, em algum lugar, nos esperando.
É pensando sobre isso que decidi que escreveria um cordel para esta criança que nós esperamos e que, certamente, também, nos espera. Para este filho, que ainda se encontra em nosso ventre afetivo, de quem não sabemos nada, mas já amamos tanto, dedico estas palavras de amor que habitam em meu coração desde o dia que lhe desejei a primeira vez.




Te esperando

Neste dia de tanta espera
Por tu que já és tão amado
Queremos sempre que saiba
Que por nós já és desejado
Como filho, como irmão
Como sobrinho, de coração
És por todos muito esperado.


Saiba, isso não é só um texto
Também não é só uma poesia
Tudo que aqui lhe digo
Reflete a minha alegria
Pedindo a Deus discernimento
Pra falar desse sentimento
Da forma como eu queria

Por isso te digo meu filho
Ou serás minha filha amada?
Isso bem pouco importa
És a nossa criança esperada
Para quem daremos carinho
Encheremos de beijinhos
Nessa família abençoada

Seremos teus melhores amigos
Seremos, também, teus protetores
Compartilharemos tuas alegrias
Dividiremos as tuas dores
Saiba, amada criança
Nunca perderemos a esperança
De que sejamos teus guardadores

Ainda te digo será pra sempre
Pois te prometo amor materno
Receberás de todos nós
Um sentimento que será eterno
Pois um filho pode vir da gente
Ou chegar bem de repente
Despertando amor fraterno

O que vale mesmo é o amor
E que tenhamos a quem amar
Só quero, meu filho amado
Que consigamos te adotar
Pois é este nosso desejo
Darmos e ti mais que um beijo
Em nossa família terás lugar

Não é um lugar qualquer
Mas um espaço bem planejado
Serás nossa criança
Filho, irmão... bem desejado
A quem ainda não conhecemos
De ti nada sabemos
E mesmo assim já és amado

Filho ou filha não é de sangue
É fruto de uma decisão
De uma escolha de dar amor
Desses, no fundo do coração
Por isso te demos à luz
Ou és tu quem nos reluz
Esse amor que é imensidão?

Saiba que nosso sangue
É completamente indiferente
O que vale, meu querido
É o amor que tem na gente
Pois para mim a maternidade
E pra teu pai a paternidade
Tem a ver com o que se sente

Serás um pedaço de nós
Onde para sempre iremos estar
És a prova de que o amor
Não vem do fato de poder gerar
Basta que estejamos aberto
Pois nem sempre o céu é perto
Que presente é te adotar

Sabemos que não é só isso
Há algo que vai mais além
A adoção é uma via dupla
Quem adota quem? 
Todos vamos nos adotar
Decidindo nos amar
Os pais e filhos também

Temos certeza vai ser necessário
Algum tempo esperar
Para que tudo entre nós
Possa aos poucos se ajustar
Te daremos todo o tempo
Para que construas um sentimento
E seja capaz de nos amar

E assim vou terminando
Esperando esta alegria
Deste dia tão esperando
Quando iluminarás meu dia
Para te dar o verdadeiro
Um amor tão por inteiro
E calor em noite fria

Chega logo
Estamos te esperando
A muito tempo já estamos
Por aqui te desejando
Para de ti poder cuidar
Dar carinho, acalentar
Estamos só lhe aguardando







domingo, 4 de junho de 2017

Ajudando seu filho a se alfabetizar

                                             


Aqui em casa estamos em processo de alfabetização. O Tom começou, pouco a pouco, a compreender a relação entre sons e letras, e a compreender particularidades do sistema de Escrita Alfabética.
Meu esforço, como mãe e professora, não é de fazer o papel da escola, já que isso não me cabe, mas de criar um ambiente em casa que favoreça as conquistas do meu filho e contribua com seu desenvolvimento.
Para isso eu sigo algumas dicas que toda mãe pode fazer em casa e, com isso, vou estimulando sem cobrar de meu pequeno mais do que ele pode me dar. Não podemos esquecer que a infância não é uma corrida contra o tempo e que não é necessário que a criança leia e escreva rapidamente. A leitura e sua aquisição não é uma corrida na qual quem chega na frente vence. É preciso que este processo seja respeitoso a fim de que os pequenos estabeleçam uma relação prazerosa com a leitura.
Pensando nisso, eu faço:

1-     Reconheço que o mundo é letrado e exploro isso com meu Tom. Mostro para ele as placas, os nomes que estão escritos nos lugares. Exploro palavras que possuem escrita igual e/ou diferente. E faço isso com qualquer palavra, não apenas aquelas que julgo simples ou acho que ele consegue. Não acredito que a criança aprende a ler porque as palavras são simples, mas, sim, porque as palavras fazem sentido para ela. Para explorar o letramento tudo é válido: pacotes de bolacha, placas, outdoors, letreiro de loja, etc.
2-     Brinco muito com ele usando jogos pedagógicos. Faço brincadeiras com letras móveis que Tom chama de letras mágicas. 


     Também fazemos bingo de palavras, fazemos jogos de rima (essa fazemos muito no carro indo para escola). Vamos falar palavras que rimam com irmão: macarrão, feijão, manjericão... e também brincamos de palavras que começam iguais: bolo, bola, bolacha, boboca... Gosto muito deste da imagem a seguir. 
                                        Resultado de imagem para bingo de letras

3-       O ajudo nas tarefas de casa. Faço perguntas que vão além do enunciado, promovo reflexões sobre a língua, a partir de questões como: o que há de igual nestas palavras? O que há de diferente?


4-     Leio muito para ele. Leio, sobretudo, livros que brincam com a sonoridade das palavras. Como jogamos muito com os sons das palavras, ele ama quando percebe isso nos livros. Uns que ele adora são os  da Sylvia Orthof: Não confunda, Assim Assado e Você Troca?


5-     Recito muitos poemas e o ajudo a recitá-los também. A sonoridade das poesias ajuda muito no desenvolvimento da consciência fonológica. Há um tempo atrás, enquanto estudava a cidade do Recife, ele me perguntou: 
                                               - Mamãe, qual o bairro da minha avó? 
        Ao escutar eu dizer que o bairro era espinheiro ele me saiu com essa: É parecido com a escola de Bernardo: Maciel Pinheiro. 
6-     Tenho sempre no carro os CDs da Bia Bedran e coloco as histórias para ele ouvir. Como, quase sempre, as histórias dela trazem canções, eu brinco de trocar palavras da música por outras parecidas. As vezes ele troca por umas que parecem no começo e, as vezes, quando parece no final.
7-     E por fim, eu tento encantá-lo com o mundo das letras para que, maravilhado, ele queira dominá-lo.  


Termino com uma frase de Rubem Alves sobre o tema e que tem servido para que eu tome cuidado nesse processo de alfabetização de meu pequeno: O prazer da leitura é o pressuposto de tudo mais. Quem gosta de ler tem nas mãos as chaves do mundo. 



quinta-feira, 1 de junho de 2017

O Fantasma da Infertilidade

Lidar com o fantasma da infertilidade é algo muito difícil, e não há, para quem passa por este problema, nada que amenize a angústia e o sofrimento vivido. É muito desagradável quando compartilhamos com alguém a nossa dificuldade em engravidar e escutarmos coisas do tipo:
- “Você ainda é nova!””
- “Você vai conseguir” (sobretudo quando a tentativa se alastra por anos)
- “Mas você já tem um filho!”
Este último comentário é o que eu mais tenho escutado nos últimos anos, sobretudo pelas pessoas que estão mais próximas a mim. Sim, eu sei que as pessoas não falam isso por mal. Na verdade, ao dizerem esta frase elas querem acalmar meu coração dizendo que há outras pessoas em situação pior do que a minha: as tentantes que não conseguiram nenhuma vez.
É verdade, sempre há, em quase todos os cenários, pessoas em situações piores que a nossa. Mas isso não minimiza a dor de quem sente, não embota o desejo de mais uma criança, nem, tampouco, conforma as tentantes que desejam ter uma família ou ampliá-la.
O mais aconselhável, ao meu ver, é reconhecer o sentimento de quem sofre dizendo: "Imagino como se sentes. deve ser difícil mesmo!" Apenas isso já ajudaria a nos sentirmos acolhidas e diminuiria o nosso medo de estar fazendo uma tempestade num copo d´água. É isso, além de lidarmos com as frustrações lidamos, também, com os julgamentos alheios de quem não vive e, por isso, não entende bem o drama que é a infertilidade na vida de uma mulher. 
O drama se alimenta de sensação de fracasso: por que todas conseguem menos eu? sim, temos certeza que somos apenas nós, embora encontremos milhares de mulheres iguais nas salas de consultórios médicos. Se alimenta, ainda, de medo de não conseguir e, ainda, da dificuldade que é lidar com esta expectativa sem data certa para acontecer.

No meu caso este desejo se tornou ainda maior depois que meu pequeno Tom passou a evidenciar seu desejo infinito de ter um irmão. Dia desses ele me disse: 
- Mamãe, sabe qual o presente mais precioso que uma pessoa pode receber?
Eu lhe respondi: - Não, meu filho! Qual?
Ele disse: Um irmão! Ganhar um irmão deve ser melhor do que jogar vídeo-game.
De fato, Tomaz está certo! As minhas irmãs são os presentes mais preciosos que a vida me deu e permitir que meu pequeno possa experimentar esta relação é, para mim, um grande desejo.
Acontece que gravidez, para mim, não é uma conquista fácil. Tenho problemas com a ovulação, com a qualidade dos meus óvulos e com mais outras coisas que eu nem sei o que são. Isso tudo me angustia demais, sobretudo porque o desejo de ter uma família enorme sempre foi algo que me rondou o imaginário.
Não conseguir algo que sempre desejamos é uma frustração imensa e lidar com isso não é fácil. As vezes bate tristeza, outras vezes chega o desespero e, em outras, umas revoltas: Por que tantas mulheres que nem querem filhos engravidam enquanto eu, que quero tanto, não tenho esta sorte? 
Mas, como disse Cora Coralina, sempre podemos escolher! E eu escolho, diante desta dificuldade, continuar tentando ser mãe. Se não dá para gerar, vou para o cadastro de adoção, mas eu quero ter mais filhos e, como diz meu marido, de uma forma ou de outra eles virão.
É por isso que no primeiro post deste mês eu tomei a decisão de falar sobre este tema que me acompanha desde que casei, posto que iniciei o processo de adoção e será no dia 21 minha primeira entrevista neste processo. O coração está a mil e a ansiedade não cabe em mim. Sinto-me exatamente igual ao dia em que fui fazer a primeira ultrassonografia de Tomaz. 
Penso, a este respeito, que os filhos não precisam vir da gente, mas passar pela gente e eu estou com o coração cheia de esperança que outra criança, menino ou menina, virá para nossa família mais cedo ou mais tarde. 
Agora é esperar mais um pouco e esperançar pelo dia que minha família será maior. É continuar lutando, pois para infertilidade pode não ter muito jeito, mas para a maternidade há: a adoção.