quinta-feira, 1 de junho de 2017

O Fantasma da Infertilidade

Lidar com o fantasma da infertilidade é algo muito difícil, e não há, para quem passa por este problema, nada que amenize a angústia e o sofrimento vivido. É muito desagradável quando compartilhamos com alguém a nossa dificuldade em engravidar e escutarmos coisas do tipo:
- “Você ainda é nova!””
- “Você vai conseguir” (sobretudo quando a tentativa se alastra por anos)
- “Mas você já tem um filho!”
Este último comentário é o que eu mais tenho escutado nos últimos anos, sobretudo pelas pessoas que estão mais próximas a mim. Sim, eu sei que as pessoas não falam isso por mal. Na verdade, ao dizerem esta frase elas querem acalmar meu coração dizendo que há outras pessoas em situação pior do que a minha: as tentantes que não conseguiram nenhuma vez.
É verdade, sempre há, em quase todos os cenários, pessoas em situações piores que a nossa. Mas isso não minimiza a dor de quem sente, não embota o desejo de mais uma criança, nem, tampouco, conforma as tentantes que desejam ter uma família ou ampliá-la.
O mais aconselhável, ao meu ver, é reconhecer o sentimento de quem sofre dizendo: "Imagino como se sentes. deve ser difícil mesmo!" Apenas isso já ajudaria a nos sentirmos acolhidas e diminuiria o nosso medo de estar fazendo uma tempestade num copo d´água. É isso, além de lidarmos com as frustrações lidamos, também, com os julgamentos alheios de quem não vive e, por isso, não entende bem o drama que é a infertilidade na vida de uma mulher. 
O drama se alimenta de sensação de fracasso: por que todas conseguem menos eu? sim, temos certeza que somos apenas nós, embora encontremos milhares de mulheres iguais nas salas de consultórios médicos. Se alimenta, ainda, de medo de não conseguir e, ainda, da dificuldade que é lidar com esta expectativa sem data certa para acontecer.

No meu caso este desejo se tornou ainda maior depois que meu pequeno Tom passou a evidenciar seu desejo infinito de ter um irmão. Dia desses ele me disse: 
- Mamãe, sabe qual o presente mais precioso que uma pessoa pode receber?
Eu lhe respondi: - Não, meu filho! Qual?
Ele disse: Um irmão! Ganhar um irmão deve ser melhor do que jogar vídeo-game.
De fato, Tomaz está certo! As minhas irmãs são os presentes mais preciosos que a vida me deu e permitir que meu pequeno possa experimentar esta relação é, para mim, um grande desejo.
Acontece que gravidez, para mim, não é uma conquista fácil. Tenho problemas com a ovulação, com a qualidade dos meus óvulos e com mais outras coisas que eu nem sei o que são. Isso tudo me angustia demais, sobretudo porque o desejo de ter uma família enorme sempre foi algo que me rondou o imaginário.
Não conseguir algo que sempre desejamos é uma frustração imensa e lidar com isso não é fácil. As vezes bate tristeza, outras vezes chega o desespero e, em outras, umas revoltas: Por que tantas mulheres que nem querem filhos engravidam enquanto eu, que quero tanto, não tenho esta sorte? 
Mas, como disse Cora Coralina, sempre podemos escolher! E eu escolho, diante desta dificuldade, continuar tentando ser mãe. Se não dá para gerar, vou para o cadastro de adoção, mas eu quero ter mais filhos e, como diz meu marido, de uma forma ou de outra eles virão.
É por isso que no primeiro post deste mês eu tomei a decisão de falar sobre este tema que me acompanha desde que casei, posto que iniciei o processo de adoção e será no dia 21 minha primeira entrevista neste processo. O coração está a mil e a ansiedade não cabe em mim. Sinto-me exatamente igual ao dia em que fui fazer a primeira ultrassonografia de Tomaz. 
Penso, a este respeito, que os filhos não precisam vir da gente, mas passar pela gente e eu estou com o coração cheia de esperança que outra criança, menino ou menina, virá para nossa família mais cedo ou mais tarde. 
Agora é esperar mais um pouco e esperançar pelo dia que minha família será maior. É continuar lutando, pois para infertilidade pode não ter muito jeito, mas para a maternidade há: a adoção.   



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