quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

A bula Pula-pula e as aulas de brincadeira

Ontem, na noite de Natal, o pequeno Tomaz ganhou um presente do Tio Bruninho e da Tia Ritinha: uma bola pula-pula da Galinha Pintadinha.  Como já estava dormindo, deixamos para abrir o presente com ele, a fim de que aproveitasse o carinho recebido desde o momento de rasgar o papel até o de brincar, no sentido literal da palavra.
Confesso que hoje pela manhã, enquanto ele abria a embalagem, meu coração neurótico-materno (sim, eu sei que isso é pleonasmo), tremeu imaginando: este é o tipo de brinquedo que certamente causará acidente!
Mesmo assim, superei, segui em frente, e ajudei meu filhote a abrir o brinquedo e explorá-lo. Logo no primeiro momento ele tentou dar sentido ao objeto, uma vez que era a sua primeira experiência com uma bola que possui duas orelhas.

Olhou, pensou e, sem saber que era para sentar em cima e pular, tratou de me dizer:
- Você é Tia Bela e eu sou seu aluno! – após esta frase, sem que eu pudesse respondê-lo, voltou a prosseguir:
- Tia Bela, qual a atividade de hoje? – e ainda sem me deixar falar, completou:
- Deitar na bola, rolar e cair sem deixar bater a cabeça.
A mim restou sorrir da sua explicação e entender o motivo da utilização desse argumento... A explicação dessa experiência é a razão do post de hoje que terminou sendo completamente maternogógico, contemplando o verdadeiro duelo das duas mulheres que moram em mim: a mãe e a pedagoga.  
Há mais ou menos 6 meses o pequeno Tom iniciou uma atividade chamada Moviment Kids no mesmo local onde ele faz natação: ALL 4 KIDS. Esta aulinha, carinhosamente chamada por ele de brincadeira, tem como objetivo estimular habilidades motoras, focando, sobretudo, na força, no equilíbrio e na consciência corporal.
Eu adoro tudo o que ele aprende lá e acho o máximo ele nomear dessa maneira - aula de brincadeira - porque esta mãe pedagoga entende que ele aprende da forma mais significativa que um serzinho da idade dele pode aprender: brincando.
E foi lá que ele aprendeu a rolar sobre um cilindro, mais ou menos como a bola que ganhou, e, por isso, foi lá que ele adquiriu conhecimento prévio suficiente para levantar a hipótese de que era essa a finalidade do objeto que lhe foi dado pelos seus tios.
Vejamos bem! Piaget nos explica que um novo conhecimento somente é possível porque há outros anteriores, levando-nos a compreender que é dessa maneira que se desenvolve a inteligência. O grande mestre nos explica que desde o nascimento as pessoas começam a realizar processos contínuos e infinitos de desenvolvimento, partindo de estruturas mais simples rumo a outras mais complexas.
Essa evolução se dá passo a passo, de modo que as estruturas cognitivas anteriores são condições prévias para a elaboração de outras mais complexas. Ao agir sobre um novo objeto ou situação que entre em conflito com as capacidades já existentes, as crianças fazem um esforço de modificação para que suas estruturas compreendam a novidade.
Foi exatamente isso que fez o meu pequeno, ajustando suas experiências anterioes a nova situação de conflito. Ele sabia, a partir do que vivia com Tia Bela, que objetos como aquele serviam para rolar e cair. Mesmo que a bola pula-pula, como o próprio nome diz, tivesse outra função, Tomaz ainda não tinha nenhuma experiência anterior que lhe permitisse levantar essa hipótese, e, buscando equilibrar-se diante o objeto (equilibrio aqui no sentido piagentiano), recorreu às suas experiências das aulas de brincadeira.
É fantástico entender porque meu filho agiu dessa maneira! É mais fantástico ainda entender o que aprendi ainda na faculdade: a evolução do conhecimento se dá a partir do que a criança já sabe - a ideia-âncora - servindo de ponte para a construção de um novo conhecimento por meio da reconfiguração das estruturas mentais existentes ou da elaboração de outras novas.
Foi assim que o Tom fez. E é por isso que todos nós que lidamos com crianças – pais, educadores, cuidadores, etc. - deveríamos entender que os conhecimentos prévios são muito importantes ao desenvolvimento, porque somente é possível avançar no desenvolvimento se a intervenção educativa levar em consideração o ponto de partida de cada um (isso é algo ímpar e intranferível).
É justo por isso que o Piaget nos diz no livro Problemas de Psicologia Genética : "Para que um novo instrumento lógico se construa, é preciso sempre instrumentos lógicos preliminares; quer dizer que a construção de uma nova noção suporá sempre substratos, subestruturas anteriores."
É pelas estruturas anteriores e por tudo que aprende nas aulas de brincadeiras que me resta a agradecer a Tia Bela, por ter ensinado algo tão importante ao meu filho.
Sim, saber cair (no sentido denotativo e conotativo), certamente, é uma competência que levaremos por toda vida e é por isso que minha gratidão se dá, justamente, porque sabendo rolar sobre a bola com uma desenvoltura de quem já se tornou expert, meu coração  neurótico-materno tem mais um pouco de sossego e, o que é mais importante, meu filho tem mais segurança não apenas física, mas, também, emocional.
  Obrigada, Tia Bela, essa atividade aqui em casa, não precisa mais de capacete (rsrrsrsrs).




quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O dia que Tom saiu e só queria voltar semana que vem



Hoje o pequeno Tomaz estava em sua aula de movimento, carinhosamente chamada por ele de “aula de brincadeira”. Ao ser direcionado pela professora para realizar uma atividade que não queria, prontamente lhe disse:
- Então eu vou embora e semana que vem eu volto!
Como pode uma criança tão pequena dessas querer decidir quando e como desempenhará suas atividades? Certamente esta é a primeira pergunta que surge em nossas cabeças.
Em seguida, podem surgir dúvidas quanto aos limites que são postos ao meu gordinho. Antes de qualquer julgamento precipitado, destaco logo que ele recebe limite sim e que aqui em casa consideramos que os limites são, sem dúvida, fundamentais na formação moral da criança, visto que, sem eles, a liberdade vira licença e a autoridade vira autoritarismo.
O que acontece é que Tomaz, como qualquer criança de sua idade, tem dificuldade de se frustrar. Isso porque, vivenciar a frustração e a decepção, embora seja um processo natural de crescimento das crianças, não é algo simples. Assim, quando as coisas não saem como elas desejam ou idealizam, vai embora o sentimento mágico de que tudo vai dar certo e de que basta o desejo dela para que as coisas aconteçam.
Quando a realidade é outra, a criança sente tristeza e, justo por isso, ela faze birra, grita e esperneia como forma de significar o sentimento negativo que experencia.
Compreendendo esta questão, percebo até como positivo Tomaz propor ir embora. Isso demonstra que ele está amadurecendo na externalização de seus sentimentos. Ao invés de se jogar no chão e bater pernas, ele sugere ir embora fazendo uso da linguagem oral para dizer que não gostou. Sem dúvidas, essa é uma proposta mais assertiva quando falamos em expressão dos sentimentos.
Antes que algum julgador de plantão esteja por aqui pensando que ele faz o que quer e bem entende... destaco logo: eu não deixaria ele ir embora (embora não tenha intervido porque esta era tarefa da sua professora). Por mim explicaria a ele que a gente não pode ir embora na hora que queremos e aí veria se ele iria gritar ou encontrar outra frase oportuna para significar seu sentimento de frustração.  

Agora só me resta a curiosidade, mas, se bem conheço meu filho, tenho certeza que ele teria outra frase espetacular para ajudá-lo a lidar com a frustração natural da condição humana. 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Tomaz e duas historinhs sobre suas construções de gênero

História 1

Estes dias ri muito com o Tomaz (Não achem estranho... Vocês entenderão logo mais porque não escrevi com o Tom).
Tudo começou quando ele chegou na minha cama, logo cedo, e eu lhe perguntei: 
- Tom, você quer leite? 
Prontamente e com uma cara nada feliz ele me disse: 
- Meu nome não é Tom! Meu nome é Tomaz! Tomaz Carneiro Gonçalves de Lemos. Não é para me chamar de Tom... É Tomaz!
Meio que atônita, eu lhe disse: 
- Por que, meu filho? Você não gosta de Tom? 
Neste momento ele se resumiu a dizer: 
- Meu nome é Tomaz! – esclarecendo que era a forma como eu deveria chamá-lo.
Mesmo que com o coração partido eu disse-lhe: 
Tudo bem, meu filho. Sendo assim, vou lhe chamar de Tomaz, certo?
Então ele tratou de completar, meio como se quisesse garantir que eu tinha entendido, que ele era Tomaz Carneiro Gonçalves de Lemos. Foi então que eu fui explicá-lo que ele era Carneiro Gonçalves igual à mãe e Lemos igual ao pai. Foi aí que a parte mais engraçada da história aconteceu:
Você não é Carneiro. Carneiro somos só nós dois (apontando com o dedinho para ele e para o pai)!
Sem entender a confusão eu tratei de insistir de que eu era Carneiro sim e que o pai era Lemos. Nesta hora, cheio de certeza, ele disparou:
- Você não é Carneiro, você é Cabra!
Morrendo de rir só me restou concordar com ele... Vai ver que ele está certo, eu sou Cabra mesmo!


História 2

Sexta-feira minha irmã e meu sobrinho amado chegaram da Inglaterra e toda família correu para buscá-los no aeroporto à noite. Quando voltávamos para casa Tomaz queria que André, o namorado de Luiza, viesse no nosso carro e ficou chamando: Dedé, Dedé, Dedé...
Entendendo seu desejo eu orientei a ele:
- Diga assim, meu filho: vem conosco, Dedé!
Prontamente ele repetiu:
- Vem conosco (com o dedinho virado para ele) e conosca (com o dedinho virado para mim).
Bem, acho que meu Tomaz não terá nenhuma dificuldade em chamar a Dilma de presidenta, como resistem muitos adeptos dessa gramática formal/tradicional/arcaica. Com 2 anos e 10 meses ele já demonstrou que entende tudo de gênero, identificando que a nossa gramática é arbitrariamente machista e que a lógica dele é a da equidade.   


sábado, 18 de outubro de 2014

Não há preço para solidariedade

Ultimamente tenho lido muitas notícias de pais que “ensinam” como calcular a mesada das crianças, trocando serviços domésticos por quantias em dinheiro. Em umas das mais populares, que já chegou a 85 mil compartilhamentos, um pai divulgou uma tabela, na qual utiliza para calcular quanto os filhos "merecem" receber ao fim de cada mês. De um total de R$ 50,00, o pai desconta valores entre R$ 0,25 e R$ 3,00 para cada desrespeito as regras estabelecidas. A lista de normas penaliza por "faltar, atrasar ou reclamar para ir à escola", "pular no sofá/cadeiras", "não tomar banho" e "desobedecer pai ou mãe". Entre outras problemas, evidencia alguns  valores que eu acho bastante equivocados e, por isso, o post de hoje é sobre este tipo de prática que eu condeno e que, jamais, farei uso em minha casa com o pequeno Tom.


Bem, vamos aos argumentos. Em primeiro lugar caso eu venha a fazer opção em dar mensalmente uma quantia financeira ao Tom, a fim de que ele aprenda a gerenciar seu próprio dinheiro, farei isso em função do valor que eu tenha condições de fornecer e, ao mesmo tempo, que ele precise, em cada idade, receber.
Não farei isso para recompensá-lo por atividades desenvolvidas no lar, até porque, aqui em casa reconhecemos que todos formam uma família e, por isso, precisam se ajudar, colaborando uns com os outros. Jamais quero que meu filho lave a louça porque receberá algo em troca ou deixe fazer com medo de perdas financeiras. Ele fará, certamente, mas porque é importante colaborar para o bem estar de todos em nossa casa, o que é muito diferente.
Ao meu ver, este tipo de postura pautada em punições expiatórias ou recompensas prende a criança na necessidade de receber sempre benefícios, o que é muito ruim ao desenvolvimento moral infantil. Digo isso porque uma criança não distingue o que pode ou não pode fazer desde seu nascimento. Estas descobertas sobre o mundo acontecerão pela ação física, pelo movimento, pelas sensações que são apresentadas e vivenciadas com os adultos, pessoas que as livram dos perigos, as alimentam e atendem as suas necessidades, sendo, por isso, consideradas como as que tudo sabem, que tudo podem.
Desse modo, se na família as crianças aprendem a trocar tudo por dinheiro ou a serem responsabilizadas pelos seus atos (ou ausência deles) apenas financeiramente, podem chegar a acreditar que o maior prejuízo que teremos na vida são os relativos às finanças e, o que é ainda pior, que o maior benefício é a troca de nossa ação por uma remuneração – o que impede que reconheçamos os sentimentos alheios.
Mais importante do que educar filhos obedientes e controlados financeiramente, é educar crianças que sejam virtuosas e, para isso, como destaca o professor Yves de La Taille, é necessário que os pequenos construam representações equilibradas de si, do ponto de vista das disposições para ser solidário, generoso, etc., sem nenhuma recompensa por trás disso. Isso porque, o que nos leva a agir moralmente é o bem estar que sentimos com tais ações e não a recompensa financeira que recebemos.
O que eu preciso mesmo, como mãe, é ajudar o Tom a ser solidário e entender que numa comunidade, seja a nossa família, na sua escola, seu grupo de amigos ou, até mesmo na cidade na qual ele reside com estranhos, todos precisam se ajudar. É importante que meu pequeno compreenda que é importante sair de si e contemplar o outro na sua condição também humana, o que irá demandar dele ações de acolhimento e doação.
Certamente, educando-o numa perspectiva de troca como esta proposta por uma mesada pautada em “compras” de serviço, eu terei poucas chances de ajudá-lo a enxergar o outro de forma empática e generosa. Isso porque, ao perder 2 reais porque desrespeitou ou bateu alguém, Tomaz pode achar que, ao abater essa quantia de sua mesada, já acertou suas contas com a infração e, por isso, está liberado para agir novamente da mesma maneira.
Vejam bem... o que há de mais grave por trás do ensinamento desta mesada é que, ao bater em uma pessoa, o maior problema é a perda de dois reais e isso não é, de modo algum, educativo do ponto de vista moral.
Outro aspecto que chamou a minha atenção foi a perda de 0,25 centavos ao ir, durante a noite, ao quarto dos pais. A dita mesada ensina, com isso, que o medo dele é algo sem valor, a medida que o pune com alguns centavos caso ele vá a cama dos pais durante a noite.
Nossa! Como pode alguém acreditar que isso é, realmente, uma boa prática educativa? Há muitas razões que levam uma criança a buscarem os pais durante a noite e o medo é, sem dúvidas, a maior de todas elas. Por 0,25 centavos as crianças aprendem que não devem recorrer aos pais nos momentos difíceis e, assim, me pergunto: irão recorrer a quem?
Será que não enxergamos que adotando medidas desta natureza poderemos contribuir para formarmos crianças inseguras que, por não sentirem seus medos respeitados, serão incapazes de respeitar o medo alheio?
É preciso instituir na família práticas que sejam pautadas em trocas afetivas e não materiais como as propostas pela “milagrosa tática da mesada”. Não estou dizendo, com isso, que tudo será tolerado pelos pais e que as crianças não sofrerão sanções por comportamentos inadequados. Estou defendendo, apenas, a tese de que as trocas entre pessoas deve se pautar em reflexões sobre as ações e não em punições sem sentido que em nada promovem reflexão sobre o ato infracionado.
O que temos, de verdade, é que ajudar aos nossos filhos a encontrarem os limites para as ações a partir da legitimação de valores que partam, primeiro, do gostar de si, a fim de que, assim, possam gostar do outro tratando-o com respeito. A gratidão de quem recebe um benefício é sempre menor que o prazer daquele que o faz, dizia o escritor Machado de Assis no conto Almas Agradecidas. É esse bem estar que devemos procurar em nossas famílias e não o temor de receber um valor menor em nossas mesadas.    
Quando há conflitos na família, como, por exemplo, ao deixar as luzes acesas, os pais precisam promover o diálogo, a fim de exemplificarem as conseqüências dessa ação, dizendo o que os incomoda, a fim de que os filhos aprendem a olhar o outro com generosidade. Certamente uma aprendizagem tão rica não se dará com menos cinquenta centavos, como propõe a técnica aqui discutida.
Por isso, a melhor forma de estimular a cooperação em família é levando a todos o reconhecimento de como as pessoas sentem-se melhores num ambiente no qual todos trabalham coletivamente pelo bem da família. Por isso, termino destacando que as crianças aprenderão a importância da solidariedade a medida que puderem exercitá-la. Assim, poderão compreender que é importante cooperar com a mãe e o pai para manter a ordem na casa pelo bem de todos e não por recompensas.
Certamente, assim, espero que aqui em casa o Tom aprenda que cada um deve dar o melhor de si para o outro e que quando as pessoas se ajudam todo mundo sai ganhando. Essa é grande lição que a forma como essa mesada é paga ainda não entendeu. Para o aprendizado da solidariedade, não há dinheiro no mundo que pague.



quinta-feira, 16 de outubro de 2014

No Quintal

Como pedagoga tenho certeza que a brincadeira livre é fundamental ao desenvolvimento dos pequenos, porque estimula a criatividade, o desenvolvimento emocional sadio e a possibilidade de entreter-se sem a necessidade de um aparato tecnológico a todo momento.
Por isso, compreendo que a brincadeira, na vida infantil, é fundamental, uma vez que pode ser uma das linguagens expressivas das crianças e, por isso, proporcionar a comunicação, a exploração do mundo, a socialização e o desenvolvimento integral. Ademais,

“(...) Ao brincar, a criança é capaz de impor-se a condições externas, em vez de a elas ficar sujeita. Há uma inversão do controle social: enquanto brincam, são as crianças que dão as ordens (...) Provocar a oportunidade de inversões tem implicações importantes como motor do desenvolvimento. No plano emocional, brincar permite à criança libertar as tensões originadas pelas restrições impostas pelo meio ambiente; brincar fornece a oportunidade de resolver as frustrações, e é, por isso, altamente terapêutico. Ao brincar com os outros, a criança aprende a partilhar, a dar, a tomar, a cooperar pela reversibilidade das relações sociais.” (Kishimoto, 1995, p.13)

Assim, como mãe, tenho tentado oportunizar ao Tom possibilidades de brincadeiras livres, sobretudo junto a outras crianças, a fim de que ele consiga descobrir a magia das trocas com seus pares e, com isso, caminhar num percurso de desenvolvimento no qual os traços típicos de sua fase sejam respeitados.  
Nessa minha busca em deixar a rotina do meu filhote cada vez mais  lúdica, fui apresentada a um espaço bem legal em minha cidade (Recife), pela querida amiga Paloma Mendes: No Quintal – uma lanchonete que se propõe a oportunizar as crianças brincadeiras de antigamente, sem muita tecnologia ou informação.
No Quintal, além de ter uma comida da melhor qualidade, com apresentação de encher os olhos das crianças, possui um espaço bastante agradável, ao ar livre, que possibilita que se brinque livremente. Lá não tem aqueles brinquedões que encontramos em todas as lanchonetes da cidade, não tem escorrego, nem brinquedos elétricos-eletrônicos.
No Quintal, como antigamente, a diversão fica a cargo de capas de super-heróis, confeccionadas com tecido de chita; uma casinha de madeira cheia de almofadas e livros, cavalos de pau (alguns poucos), que são saudavelmente disputados pelas crianças, além de paredes que podem ser ilustradas livremente com giz.


(Esse lindo da foto é meu afilhado Rafa)


(Estes lindos são os amigos da escola de Tom).

Por isso, justamente por não ter uma oferta enorme de brinquedos, mas oferecendo o que poucas crianças tem hoje em dia – liberdade - a diversão fica a cargo da imaginação, de modo que, motivadas pelo encanto do lugar, os pequenos terminam se divertindo da forma mais incrível que podemos imaginar.

Para mim, mais do que trazer apenas entretenimento, No Quintal oportuniza uma forma de desenvolvimento que respeita a infância, visto que, por sua estrutura, permite a realização de jogos simbólicos, ação que tem papel fundamental na formação dos conceitos e da própria representação cognitiva da criança.
Vale ressaltar, que os jogos simbólicos são formas da criança adaptar-se à realidade, transformando-a e assimilando-a ao seu eu por meio de uma mecanismo assimilativo. Um exemplo claro de que as assimilações são determinadas pelo eu, é o fato do Tom, ao ser indagado sobre a utilidade das moedas, responder: “para tirar bolinhas das máquinas”, exemplificando que a sua compreensão é marcada pelas suas vivências.

Desse modo, ao permitir que as crianças criem, brinquem sem a interferência direta dos adultos (já que o espaço é projetado para que os pais consigam olhar as crianças sem que seja necessário ficar junto a elas interferindo ou mediando, diretamente, nas brincadeiras), No Quintal é uma ótima opção pra quem deseja momentos de pura diversão e crescimento para os pequenos.    
Por fim, deixo o poema No Fundo do Quintal da querida Roseana Murray, para nos ajudar a pensar:
No fundo o quintal,
amarelinha,
esconde-esconde,
jogo do anel,
um amor e três segredos.

No fundo do quintal,
passarinhos,
tesouros,
piratas e navios,
as velas todas armadas.

No fundo do quintal,
casinha de boneca,
comidinha de folha seca,
eu era a mãe, você era o pai,
Quando não existe quintal, como é que se faz?



Bem, acho que a resposta seria: Inventa!!!

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Eu vou, mas bem devagarzinho

Senta que lá vem história...

Tomaz espalha no chão uma quantidade quase infinita de brinquedos que mal nos permite ver a cerâmica do piso. De repente, ele decide pegar outra caixa cheia de pecinhas minúsculas para espalhá-las no chão. Neste momento, eu lhe digo:

- Tomaz, antes de começar a brincar com estas pecinhas você irá, primeiro, juntar estas outras.
Ele, então, me responde:
- Não vou não, mamãe!
Então, eu lhe digo:
- Eu não estou perguntando se você vai vir, eu estou dizendo que você vai. Agora escolha se quer vir andando, ou quer que eu ajude você a chegar aqui (apontando para o local onde estão todos os brinquedos no chão.
O pequeno para, me olha e responde:
- Eu vou, mas bem devagarzinho.
Mesmo com vontade de rir, eu mantenho a seriedade e prossigo:
- Tudo bem! Você pode vir rápido, normal, devagar... Mas tem que vir!
E assim, em passos quase minúsculos, ele começa a se deslocar até minha direção e junta todos os brinquedos no seu próprio tempo (que durou uns 15 minutos).

Fico imaginando algumas pessoas presenciando esta cena e pensando: “como a mãe deixa ele lhe dar uma resposta destas”; “Se fosse meu filho, me levantava e lhe dava uns tapas que, num instante, ele viria correndo”; “se continuar assim, quando crescer, vai bater em vocês”.
A estas pessoas o que posso dizer é: não, ele não me faltou com respeito. Ele não gritou comigo, não usou palavras inadequadas e, inclusive, atendeu ao meu comando. O que acontece é que nesta fase do desenvolvimento as crianças estão em processo de construção da identidade e, justamente por isso, precisam se reconhecer como diferentes das outras pessoas – ou seja, ele é diferente de mim e, justamente por isso, não precisa agir do meu modo.
O que meu pequeno estava dizendo com seus passos lentos era: “eu também tenho direito de pensar e decidir, escolhendo como cumprirei esta obrigação de juntar os brinquedos”. Isso não é ruim, muito ao contrário. Nesta idade é importante que ele tenha limite sim, mas isso ele teve. O que eu procurei foi dar ao meu pequeno oportunidade para que ele entendesse que suas particularidades são respeitadas em nossas interações, fortalecendo sua autoconfiança e, sobretudo, a idéia de que também é respeitado pela mãe.
Digo isso porque penso que o respeito é condição importante e imprescindível nas interações sociais e, se eu desejo que meu filho aprenda a respeitar, eu preciso, primeiro, fazer com que ele se sinta respeitado. Esta é minha responsabilidade, pois é na proteção que eu sou capaz de oferecê-lo que o Tom se inserirá no mundo, replicando a qualidade dos relacionamentos estabelecidos dentro da nossa família, o que, certamente, poderá influenciar na formação da identidade.   
A identidade está ligada às características que compõem o que são próprias do indivíduo, diferenciando-o do outro. A noção de identidade sugere que o sujeito precisa de outro para se desenvolver, para adquirir atitudes, valores e princípios que vão norteá-lo em sua vida adulta e social e, à medida que a criança cresce e se desenvolve, ela vai se tornado uma pessoa diferenciada dos pais, adquirindo com a ajuda deles, certa autonomia, num processo de identificação.
Por isso, como eu não quero que o Tom seja um submisso ou alguém que violenta as pessoas porque quer que tudo ocorra ao seu próprio modo, achei muito legal que ele pudesse me dizer que viria devagarzinho.
Eu só espero que, também devagarzinho, eu oportunize ao meu pequeno vivências que o levem a valorizar as particularidades, as diferenças, a alteridade. Mesmo que isso seja, sempre, devagarzinho!



domingo, 28 de setembro de 2014

Para que servem os joelhos?

Este post é mais um da série COISAS QUE EU NÃO QUERO ESQUECER. É claro que se eu fosse escrever aqui realmente tudo que desejo guardar não poderia sair da frente do computador, porque exatamente tudo do meu pequeno eu desejo reservar na mente. 
Mas, como não dá para eternizar cada suspiro seu, eu fico tentando guardar suas falas inusitadas, porque além de alegrar minha alma elas orgulham meu coração, reconhecendo que o desenvolvimento do meu Tom é a coisa mais linda que eu poderia acompanhar. 

Então, relato um diálogo que marcou nossa brincadeira ontem...

Sempre pergunto ao Tom os nomes das partes do corpo e ele me responde, seja cantando, tocando nela ou da forma que inventarmos no dia. 

Então, para inovar, decidi perguntá-lo, além dos nomes, para que servia cada coisa. Foi aí, que quando lhe perguntei para que servia o joelho ele prontamente me disse: 
- Para cair!!!!!

Então eu prossegui: 
- E os olhos? - ele, rapidamente, completou: 
- Para chorar!

Não contive a gargalhada e me encantei com a forma como  procurou  me explicar a serventia daquelas partes do corpo que, certamente, ele nunca havia pensado antes. Nessa hora, me lembrei de Wallon e de sua forma de explicar o desenvolvimento  partir da afetividade. 

Isso porque, este teórico compreende que a criança constrói teorias e, para isso, lança mão de um repertório de informações e observações que se relacionam com ela de maneira muito particular. Como o Tom (e todas as crianças desta fase) possui uma foma de pensamento que o Wallon nomeou de sincrético, ele vai construindo uma espécie de nuvem de elementos que vai combinando para dar sentido as coisas, sempre a partir de suas próprias experiências, não tendo condições de pensar para além dele (egocentrismo). 

Assim, quando ele é chamado a pensar sobre o joelho, parte do corpo que funciona muito mais como elo do que de forma independente,  o pequeno retoma suas tantas quedas que machucam e o fazem chorar, reconhecendo, por isso, que esta é a utilidade desta parte do corpo.  E, justamente por isso, ele entende, também, a função dos olhos. 

É uma maravilha poder entender isso! Quando o Tom me diz: "serve para cair!" ele está me dizendo: "esta é a utilidade do joelho para mim!" "É assim que eu percebi"!.  

Por isso, quando as crianças pequenas nos perguntam sobre algo, devemos ajudá-las explicando o mundo a partir delas próprias. Talvez seja essa a maior dificuldade que nos adultos sentimos, porque queremos que a criança olhe a vida da nossa forma, ao invés de entendermos a suas maneiras de ver (que certamente são muito mais interessantes que as nossas). 

- Para que servem os olhos?
- Servem para você ver o desenho da Pepa, chorar quando estiver triste, ver o mar e olhar pra mamãe!!!

Certamente, se eu ajudar ao Tom a entender a vida a partir de suas experiências, seu projeto de conhecimento do mundo, dele mesmo e de tudo que o cerca será muito mais fácil. 

Bem, se é assim, passarei a ver o mundo "pela luz dos olhos teus", meu filho! Obrigada por me dar este presente!








sábado, 27 de setembro de 2014

Apenas Brincando

Quando eu estiver no quarto, construindo um edifício de blocos, por favor, não diga que eu “estou apenas brincando”. Já que, entenda, eu estou aprendendo enquanto brinco sobre equilíbrio e forma.

Quando eu estiver bem vestido, arrumando a mesa, cuidando do bebê,
não tenha a ideia de que eu “estou apenas brincando”. Já que, entenda, eu estou aprendendo enquanto brinco, pois algum dia eu posso ser uma mãe ou um pai.

Quando você me vir até meus cotovelos na pintura, ou ajeitando uma moldura, ou moldando e dando forma à argila, por favor, não me deixe ouvi-lo dizer que eu “estou apenas brincando”. Já que, entenda, eu estou aprendendo enquanto brinco.Eu estou me expressando e sendo criativo, pois algum dia eu posso ser um artista ou um inventor.

Quando você me vir sentado em uma cadeira “lendo” para uma audiência imaginária, por favor, não ria e não pense que eu “estou apenas brincando”.
Já que, entenda, eu estou aprendendo enquanto brinco, já que algum dia eu posso ser um professor.

Quando você me vir recolhendo insetos ou colocando coisas que encontro no bolso, não os jogue fora como se eu “estivesse apenas brincando”.
Já que, entenda, eu estou aprendendo enquanto brinco, pois algum dia eu posso ser um cientista.

Quando você me vir montando um quebra-cabeças, por favor, não pense que estou desperdiçando tempo “brincando”. Já que, entenda, eu estou aprendendo enquanto brinco. Estou aprendendo a concentrar-me e resolver problemas, já que algum dia eu posso ser um empresário.
Quando você me vir cozinhar ou provar comidas, por favor não pense que estou aproveitando, que é “só para brincar”. Já que, entenda, eu estou aprendendo enquanto brinco. Eu estou aprendendo sobre os sentidos e as diferenças. Algum dia eu posso ser um “chef”.

Quando você me vir aprendendo a saltar, pular, correr e mover meu corpo,
por favor não diga que eu “estou apenas brincando”. Já que, entenda, eu estou aprendendo enquanto brinco. Eu estou aprendendo como meu corpo trabalha e algum dia eu posso ser um médico, uma enfermeira ou um atleta.



Quando você me perguntar o que fiz na escola hoje, e eu responder: “eu brinquei”, por favor não me entenda mal. Já que, entenda, eu estou aprendendo enquanto brinco.

Eu estou aprendendo apreciar e ser bem sucedido no trabalho.
Eu estou preparando-me para o amanhã.
Hoje, eu sou uma criança e meu trabalho é brincar.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Tomaz entrou, Tomaz saiu e conseguiu!


Neste São João o Tom estava mais falante de que nunca.  Talvez por isso ele tenha se esmerado em ampliar o repertório das suas lindas palavras e frases que eu não quero esquecer.

Assim, trato logo de eternizá-las aqui, a fim de que eu não fique refém da minha humilde memória, que, por sinal, tem me deixado na mão muitas vezes nos últimos tempos de mãe, trabalhadora, estudante e outras coisitas mais.

A narrativa de hoje foi logo pela manhã, quando ele entrava e saia de uma casinha que está localizada no parque do condomínio de seus primos em Gravatá. A cada entrada e saída ele emitia esta frase:

- Eu entrou, eu saiu... Eu conseguiu!

Ao invés de achar engraçado ou corrigi-lo, fiquei eufórica e meu coração se encheu de alegria ao ouvir esta fala do meu pequeno, porque, neste momento, tive certeza e que ele deixava o lugar de interpretado (típico das crianças em fase inicial de fala, na qual os pais – e eu me incluo – buscam significar tudo o que é dito pelo filho) assumindo o papel de intérprete de sua língua materna.

Do ponto de vista do desenvolvimento isto é uma conquista entanto.  Tomaz buscava narrar suas conquistas de tal modo que reproduzia a fala dos adultos (vejam que se fosse eu narrando diria: Tomaz entrou, Tomaz saiu, Tomaz conseguiu).

Se acreditamos no que nos disse Vygotsky sobre o papel da imitação para aprendizagem, poderia dizer que esta narrativa do meu pequeno apresenta um progresso enorme em seu desenvolvimento linguístico, porque entende que há uma forma própria de se comunicar e que a maneira correta é a fala do outro.

Não tenho dúvidase, justo por acreditar nisso, posso afirmar:

_ Tomaz entrou, Tomaz saiu e conseguiu não apenas evoluir em sua compreensão acerca da comunicação, mas encher de orgulho essa mãe professora.

Um viva para esta conquista do Tom!

domingo, 15 de junho de 2014

As mais lindas palavras de amor...


Tudo o que um filho faz nos encanta, mas há algumas coisas que nós gostaríamos que ficassem registradas para sempre num lugarzinho bem especial da memória. Por isso, decidi escrever as falas inusitadas do meu pequeno, sempre que elas encham de alegria meus ouvidos e me façam considerar alguma coisa especial. Isso porque, seja o que for, são palavras de amor para mim!
 
Sei que estou correndo o risco de no primeiro ano ter um exemplar mais grosso do que a trilogia do senhor dos anéis, mas prefiro correr este risco do que perder ao vento palavras que meu pequeno Tom proferiu e que me alegraram a alma.

Sendo assim começo narrando sua consulta à alergologista semana passada. Enquanto a médica tentava convencê-lo a permitir que ela o examinasse, ofereceu ao Tom uma máquina fotográfica de brinquedo.  Em seguida, entregoulhe um bonequinho do Mike, personagem dos Monstros S.A e disse-lhe:
- Tira uma foto do Mike, Tom.

Neste momento meu filhote junta o bonequinho ao seu rosto e dispara:
- Self com Mike.

Neste momento a médica gargalhou tanto, enquanto ele olhava com espanto a risada proferida.
 No segundo episódio da semana o pequeno Tom, em sua síndrome Pepa Pig, deseja pular em qualquer aglomeração de água que o faça pensar que é uma poça de lama. Vendo que após a chuva havia várias na casa de sua avó decide brincar nelas e quando começa a farra dispara cheio de alegria no olhar:

- Estou me divertindo!
 

Por fim, a terceira narrativa de hoje é sobre o fato dele ter aprendido a perguntar, modificando a entonação da fala quando a frase é interrogativa. É muito engraçado ouvi-lo perguntar, sobreduto a interrogação mais presente em seu vocabulário: “que barulho é esse?” para qualquer novo som que escuta.  
Certamente estas pequenas falas, que podem ser bobas aos ouvidos de alguns, mas surpreendentes aos meus, não gostaria que fossem esquecidas. Aqui tenho certeza que ficarão muito bem guardadas!!!

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Tom está aprendendo que não há coisa de menino...


Nos planos que eu faço para o Tom não estão os de que ele seja bem sucedido, rico e casado com a mulher mais bonita. No meio dos planos que faço para ele, estão aqueles que se voltam à possibilidade de que meu filho seja feliz e, por isso, tento oferecer ao pequeno uma educação pautada em valores que sejam morais, não sexistas e de base humanística

Meu maior anseio não está relacionado ao valor de salário que o meu filho terá, porque dinheiro, para mim, serve para atender as necessidades e não para trazer-me felicidade. Por isso, e pensando que assim também será para o Tom, busco oferecer a ele uma formação não sexista, cuja equidade de gênero seja uma realidade.

E isso começa do básico! Tom brinca de carrinho, boneca, panelinha ou jogo de encaixe, porque possui, entre os que têm acesso, todos estes. Aqui em casa não há brinquedos de menino ou de menina... Há brinquedos com os quais se pode se divertir.

Também não há sempre tudo azul, porque a cor tem a ver com momento, com finalidade, com desejo. Ele pinta de rosa, de azul, de verde e de qualquer cor que ele desejar que faça parte de suas artes, de sua vida.

Não há um monte de super-heróis... Em seu quarto há poesia, há brinquedos e há muito amor para que ele se sinta acolhido e possa achar que beijar e abraçar os outros é coisa de menino e de menina.

Faço isso porque acredito que crianças que aprendem que meninos e meninas devem ter direitos, deveres e oportunidades iguais serão adultos que saberão respeitar o outro, independentemente do fato de ser homem ou mulher. Isso me importa: realmente quero que meu filho aprenda a respeitar e incorpore isto a sua personalidade.

É nesta meta que temos trabalhado aqui em casa e ontem, ao ver o desenho da Pepa Pig, a porquinha famosa do momento, me animei ao ter certeza de que há programação para crianças que já transmitem esta mensagem.

Isso ficou claro no episódio nomeado de "Primeira aula de balé", cujo nome já anunciava que trataria do primeiro encontro da porquinha com este tipo de dança. No episódio em questão, ao chegar na escola de dança, Pepa encontrou-se com todos os outros animais que atuam no enredo, independentemente de serem meninos ou meninas. O que o autor de Pepa evidenciou, neste desenho, foi o fato de balé ser uma dança, ser arte e, por isso, poder ser executado por qualquer pessoa, independentemente do sexo.

Ainda nesse episódio da trama ,a porquinha voltou ao lar e quis mostrar à sua família os passos aprendidos na aula. Neste momento, embora toda família estivesse na sala, foi seu pai que a ajudou, verbalizando os nomes dos passos de balé que ela tinha esquecido e reproduzindo-os junto com Pepa, da forma mais natural e tranquila que pode ser uma relação entre pai e filha. Isso me alegrou!

Ainda para aumentar minha alegria, logo após o episódio citado, teve início outro cujo tema era a importância de lavar o carro - objeto que, em nossa sociedade, serve para reafirmar estereótipos de gênero. 

Nesta história, o Papai e a Mamãe Pig agiam igualmente, lavando todo o automóvel. Quando ele ficou bem limpinho, foi dirigido pela mamãe e não pelo papai, como acontece na maioria dos filmes e desenhos infantis.

Ver estas cenas me alegraram a alma. Realmente, espero que meu pequeno entenda que as tarefas domésticas são atribuições tanto do pai quanto da mãe, assim como tanto o pai quanto a mãe têm capacidade de lavar e dirigir o carro.

Sei que essa forma de ver a vida não se dá por um passe de mágicas, mas com uma rotina na qual estereótipos de gênero possam ser rompidos. A menina linda, loira e bailarina, que está entre as ideias que ressaltam o preconceito em relação aos papéis masculinos e femininos na sociedade, devem ser abominados, dando origem a pessoas normais, com suas belezas e preferências, que dançam e são felizes.

Aqui em casa temos tentado esta ruptura. Ainda bem que a Pepa também tem nos ajudado e que o Tom tem o exemplo de um pai que é maravilho e, além de tudo, um grande homem... Tão grande, que não precisa ser machista.
 

domingo, 18 de maio de 2014

Lições do Circo

Ontem foi dia de Circo e, como toda primeira vez do Tom fica registrada aqui, esta não poderia ser diferente.
Passamos toda semana planejando, esperando, e curtindo nossa ida ao Spettacolo Florilegio. Mas, para nossa surpresa, enquanto estávamos na organização, descobrimos que o circo tinha ido embora e, junto com ele, nossa possibilidade de vivenciar esta experiência naquele momento.
Foi no espírito de frustração que iniciamos a peleja de nova programação para o sábado e descobrimos que um novo circo estava na cidade: Empyre Circus.
Ao buscarmos informações sobre este espetáculo, identificamos de cara que era bem mais simples, bem menor, mas não menos circo que o escolhido anteriormente e que, assim sendo, haveria de ser a melhor programação para nossa tarde.
Foi pensando dessa forma que nos dirigimos ao lugar marcado, esperando fazer da tarde do Tom uma verdadeira diversão, ao enredo de malabaristas, com trilha sonora marcada por risadas com os palhaços e aplausos da plateia.
 Acontece que quando tudo começou eu fiquei bem mexida. Ao observar a estrutura do Circo e a forma colaborativa como as pessoas atuavam ali eu pensei que o senso de comunidade presente naquelas relações era o que eu mais queria que meu filho pudesse levar daquela tarde. Mais do que qualquer risada ou surpresa.
Isso porque, com poucos recursos, todos naquele espaço desempenhavam muitas funções. A moça que fazia o número como equilibrista vendia churros após sua apresentação; a mágica (o que já me encantou porque são sempre mágicos), vendia pastéis; e assim naquele espaço todos colaboravam fazendo daquilo ali suas vidas e famílias.  
Até mesmo um garotinho, aprendiz de palhaço (na forma mais nobre da profissão), recebia os convidados e cumprimentava um a um na tentativa de nos fazer sentir em casa o que, certamente, conseguiu. 

Mais do que desempenhar vários papéis, todos agiam com naturalidade e simplicidade, encantando a mim, meu marido e ao pequeno Tom. Depois dessa lição, pouco me importava que os movimentos do malabarista não eram “tão perfeitos” assim ou que os malabares, por vezes, iam ao chão.
Eles conseguiam fazer coisas que eu jamais conseguirei e eu os valorizo por isso. Valorizo, ainda mais, por realizarem coisas tão lindas, de uma forma tão especial: sendo simples!

Que essa lição habite meu coração, a fim de que eu possa, na educação do meu pequeno, retomar sempre estes valores vivenciando-os.