Todo
final de semana Tomaz traz um livro da escola que deve ser lido pela/em
família. Nesta última semana o escolhido para ser trazido pelo pequeno foi
MARIA VAI COM AS OUTRAS, da Sylvia Orthof, cujo enredo trata de uma ovelhinha
que faz tudo que as outras fazem, incluindo consumir alimentos que não gosta.
Entretanto,
ao final da história, Maria surpreende ao decidir não ir com as outras, justo
quando as ovelhas decidem pular para lagoa do Corcovado e caem fora da lagoa
quebrando o pé. Nessa hora, mesmo 42 ovelhas pulando, “Maria deu uma
requebrada, entrou num restaurante e comeu uma feijoada”. Com isso, a autora
evidencia que daquele momento em diante Maria só vai para onde caminha seu pé.
Justo
por isso, concluída a história, perguntei ao pequeno o que poderíamos aprender
com Maria e, sem nem pestanejar, ele me respondeu:
- O
comportamento dela foi horrível, mamãe.
Meio
sem entender, eu lhe fiz outra pergunta:
-
Por que, meu filho?
E
ele prosseguiu:
-
Porque as amigas dela estavam todas machucadas e ao invés de ajudar as amigas
ela foi comer uma feijoada. Isso não se faz, mamãe!
Confesso
que fiquei surpresa e, ao mesmo tempo, feliz. Já tinha lido essa história
algumas vezes e jamais tinha feito esse tipo de reflexão tão linda e
necessária.
É
claro que Tomaz não possuía um repertório sobre a expressão popular MARIA VAI
COM AS OUTRAS, mas é evidente, também, que ele tem um olhar sensível para as
amizades – um olhar empático – demonstrando que devemos nos solidarizar com os
outros.
É
por isso que eu senti um orgulho imenso do meu pequeno e tive, também, a
certeza que investir na qualidade das relações é uma das coisas mais
importantes que podemos fazer pelos nossos filhos. Isso porque, o desenvolvimento
da empatia nas crianças depende, sobremaneira, das condições de socialização
oferecidas pelo contexto em que elas crescem e, nesse sentido, pais que
favorecem o respeito e o reconhecimento do outro contribuem para que suas
crianças possam, no sentido metafórico, calçar os sapatos de alguém.
É
isso! Meu filho não precisa ser “Maria vai com as outras”. Mas, o que eu não
quero que ele faça é deixar os amigos em sofrimento enquanto ele come uma
feijoada. Por sorte minha, meu Tomaz já entendeu.
Quem quiser conhecer a história Maria Vai com as Outras, segue abaixo:
Maria
Vai com as Outras - Sylvia Orthof (Editora Ática)
Era uma vez uma ovelha chamada Maria.
Onde as outras ovelhas iam, Maria ia também. As ovelhas iam para baixo, Maria
ia também. As ovelhas iam para cima, Maria ia também.
Um dia, todas as ovelhas foram para o
Pólo Sul. Maria foi também. E atchim! Maria ia sempre com as outras.
Depois todas as ovelhas foram para o
deserto. Maria foi também.
- Ai que lugar quente!
As ovelhas tiveram insolação. Maria
teve insolação também. Uf! Uf! Puf! Maria ia sempre com as outras.
Um dia, todas as ovelhas resolveram
comer salada de jiló. Maria detestava jiló. Mas, como todas as ovelhas comiam
jiló, Maria comia também. Que horror! Foi quando de repente, Maria pensou:
- “Se eu não gosto de jiló, por que é
que eu tenho que comer salada de jiló?”
Maria pensou, suspirou, mas continuou
fazendo o que as outras faziam.
Até que as ovelhas resolveram pular
do alto do Corcovado pra dentro da lagoa. Todas as ovelhas pularam.
Pulava uma ovelha, não caía na lagoa,
caía na pedra, quebrava o pé e chorava: mé! Pulava outra ovelha, não caía na
lagoa, caía na pedra e chorava: mé!
E assim quarenta duas ovelhas pularam, quebraram o
pé, chorando mé, mé, mé! Chegou a vez de Maria pular. Ela deu uma requebrada, entrou
num restaurante comeu, uma feijoada. Agora, mé, Maria vai para onde caminha seu
pé.