Há mais de 90 dias, minha vida
mudava de forma irreversível. Às 7h37 do dia 09 de janeiro de 2012, meu Tomaz
chorou pela primeira vez e, sem que eu pudesse prever, a partir daquele momento
minha história ganhava nova trilha sonora.
Não foi apenas a trilha sonora
que mudou. Até mesmo os capítulos ganharam novos personagens. A partir desse dia,
eu me tornei Mãe... Pery virou pai, e
todos ao nosso redor ganharam “assessórios” aos seus nomes: tios, avós, avôs...
Ninguém mais permaneceu o mesmo. Todos mudaram de posição: eu, que no capítulo
anterior era filha, virei mamãe de repente!
Mas não foram só as pessoas que
mudaram de posição. As gravações passaram a acontecer em outro cenário. A rotina,
por exemplo, nunca mais foi a mesma. As noites, que sempre foram inteiras,
passaram a ser extensões dos dias, tendo horário até de comer. Sair de casa,
que era rápido e fácil, passou a ser motivo de planejamento prévio e de muito
trabalho e bagagem. A arquitetura da casa passou a contar com um varal no meio
da sala de estar, sem que isso causasse qualquer tipo de desconforto. É,
realmente as coisas não são mais as mesmas.
Eu, que me achava muito
esperta... que acreditava que após uma graduação, um mestrado e três
especializações, entendia da vida, descobri que não sabia de quase nada. A
primeira descoberta foi sobre felicidade, pois achava que era feliz e só fui descobri
o que era realmente felicidade quando você, meu filho, olhou para mim pela
primeira vez.
Eu, que achava que entendia o
prazer de uma boa música, descobri que o melhor som que pode existir é o do seu
sorriso, do seu grunhido, do seu balbucio.
Eu, que achava que sabia o que
era amar, descobri que com você tudo ficou mais intenso, mais surpreendente,
mais gostoso.
Nesse turbilhão de mudanças, nada
foi preservado. Até mesmo a televisão de casa não é mais a mesma: quase não
passam mais as novelas. No lugar delas surgiram A Galinha Pintadinha e O Patati
Patatá. O que será que aconteceu com a programação da Globo? Será que até ela
ficou de pernas pro ar? Claro que não! É que agora, ao invés do meu lazer, a
felicidade de Tomaz passou a ser o meu maior entretenimento.
É, realmente não existe mais a
minha vida... ou melhor, ela pode até existir, mas não é mais tão minha assim.
Eu, que era protagonista, passei a mera coadjuvante da minha história. No meu
lugar ficou Tomaz, levando minha história para nem sei onde vai chegar. Mesmo
assim, eu tenho uma certeza: essa história que já não é tão minha ficou bem
mais feliz e interessante.
Obrigada, meu filho! Obrigada por
fazer tudo isso comigo!