Ontem
levamos o Tom para brincar em uma lanchonete que tem em minha cidade, cujo
parquinho é bem adequado para idade dele. Gostamos muito de ir lá porque, além
dos brinquedos serem apreciados pelo pequeno, há muitas crianças da idade dele,
que o ajudam a aprender a interagir de forma cada vez melhor.
Como
o Tom é filho único, neto único e sobrinho único (por enquanto), levá-lo aos
locais nos quais há crianças é a prioridade número 1 na hora em que escolhemos
os passeios nos finais de semana e feriados.
Ocorre
que ontem um fato inusitado aconteceu: um garotinho que também brincava no
parque decidiu que Tom seria seu “saco de pancada” e, toda vez que olhava para
meu filho, o atacava com murros e ponta-pés, que o atingiam até no rostinho.
Como
o Tom não é acostumado com esse tipo de situação, ficou sem reação alguma com a
atitude do “coleguinha” e me olhava como se estivesse pedindo:
-
Mamãe, me salva!
Sem
deixar meu coração agir mais que minha razão, eu, ao invés de intervir
diretamente, disse:
-
Filho, fala para ele que não se bate nas pessoas! Não deixa ele te bater,
filho, isso não é certo!
Mas
o pequeno Tom apenas chorava e colocava a mãozinha na frente numa tentativa de
impedir o que o garotinho, com também 2 anos e 1 mês, fazia contra ele.
Nossa,
nunca é legal ver uma criança apanhando, sobretudo o filho da gente. Mas mais
chato que ver esta parte da cena foi ver os pais do menino sentados a uma mesa
distante do local em que ele brincava, pouco interessados com o que acontecia
ali, enquanto uma babá, com pouca autoridade sobre a criança, me olhava
envergonhada dizendo:
- Eu
digo para ele não fazer isso, mas a mãe também tem que dizer.
Por
fim, a história “terminou” com a babá indo contar aos pais, que, em seguida,
vieram segurando o menino pelo braço, obrigando-o a pedir desculpas ao meu
filho, e lhe dar um abraço, que não foi consumado porque o Tom, em pânico,
gritava:
-
Abraço não, mamãe! (o que, prontamente, foi respeitado.)
Relato
este caso para trazer algumas reflexões que acho oportunas quando falamos em
crianças que batem nas outras, fato este bastante recorrente.
Bem,
em primeiro lugar, acredito que nenhum pai nem nenhuma mãe fica feliz em ver
seu filho batendo nos outros. Senti o constrangimento dos pais do garoto quando
vieram se desculpar.
Entretanto,
envergonhar-se não é suficiente! Os estudos sobre desenvolvimento moral já
evidenciaram que não adianta apenas recriminar o filho por uma atitude
inadequada. É claro que sempre devemos levar a criança a pensar sobre os atos,
enxergando que esta é uma condição necessária, mas não suficiente para a
adequação de um comportamento.
Portanto,
antes de julgar o filho ou obrigá-lo a se desculpar, era necessário que os pais
estivessem por ali, em alguns momentos, observando os filhos na brincadeira.
Por mais difícil que seja a vida e por mais corrido que estejamos, não podemos
delegar a babá todas as situações de interação com a criança pois, caso
contrário, corremos um sério risco de não acertarmos na educação de nossos
filhos.
Terceirizar
a educação dos filhos é um problema cada vez mais recorrente. As famílias hoje
possuem babás, folguistas, substituta de folguistas, etc, restando aos pais
poucas oportunidades de interagirem, de fato, com a criança.
Digo
isso porque compreendo como fundamental as trocas que são estabelecidas com os
filhos, afinal, para modificar os comportamentos das crianças é necessário que uma
virtude seja construída, o que somente acontecerá quando a própria criança
puder pensar e construir instrumentos cognitivos que lhe permita sair de seu
ponto de vista e ir para outro – é a reversibilidade de pensamento que permite
isso.
Mais do
que obrigar o filho a desculpar-se (antes mesmo que tivesse reconhecido a
culpa), era importante que os pais, estando presentes, pudessem levá-lo a
perceber o que sentiu o pequeno Tom ao apanhar daquela forma.
Além
disso, era necessário, também, que os pais instituíssem o limite, levando a
pensar e tomar uma decisão:
- Você
escolhe: ou para de bater nas outras crianças ou sairemos do parque.
Podendo
decidir sobre o que fazer, o garotinho poderia escolher e, em função ou não da
adequação de sua escolha, sofrer uma sanção. Não podemos achar que as crianças
pequenas não pensam. Elas pensam sim e já são capazes, com as nossas mediações,
de se situarem no mundo do certo e errado a partir de princípios reais.
Entretanto, isso apenas se concretizará se permitirmos que elas façam escolhas
e assumam a responsabilidades delas.
Quem
“tentou resolver” o conflito foi o pai ao obrigar o menino a se desculpar com o
Tom. Agir desta forma é dar ao filho poucas oportunidades de decidir e, assim,
desenvolver-se rumo à autonomia.
Alguém
pode estar se perguntando: E por que você não interviu? Por que você não promoveu
essa reflexão?
A
resposta é simples: uma criança de dois anos não respeita a regra (não bater,
por exemplo), mas sim quem a institui, por sentir pelo “guardião da regra”
amor, medo e confiança. O menininho em questão é incapaz (por questões óbvias) de
sentir isso por mim uma pessoa que ele jamais viu. Até mesmo pela babá ele não
sentia esta tríade de sentimentos tão necessários à mudança de atitude e
incorporação da regra: não se bate nas pessoas.
Por isso,
enquanto os pais não se levantarem das cadeiras e forem ao parque observar a
forma como o filho age e interagir com o mesmo no sentido de apresentar-lhe
formas mais assertivas de comportamentos, eu percebo poucas chances dessa
atitude ser modificada.
É por
isso que, mesmo tendo uma vida maluca, não abro mão de estar ao lado de Tom,
conduzindo-o rumo ao desenvolvimento moral que ele, e toda sociedade, tanto
precisam.
Termino
este post com uma frase já bem conhecida, cujo autor desconheço:
Não
adianta esperar um mundo melhor para nossos filhos. Temos, sim, é que deixar
filhos melhores para o mundo.
E é por isso que o lema aqui em casa é: ame o quanto pode e aproveite cada momento.