sábado, 29 de março de 2014

Como a Lua... Pena que acabou!


 

Hoje foi a primeira ida de Tom ao teatro. Embora aqui em casa papai e mamãe amem artes cênicas, terminamos sempre adiando este momento, por acreditarmos que nosso Tom não iria gostar ou teria medo.

Finalmente, após 2 anos e quase 3 meses tomamos a decisão de não adiarmos mais e nos dirigimos ao Teatro Barreto Júnior para uma sessão da peça “Como a Lua”.  

Conhecia quase nada do espetáculo, apenas uma sinopse que li por acaso enquanto navegava pela internet. Que sorte a nossa... Esta primeira vez teve gostinho especial, regado a um lindo espetáculo e a atenção do Tom durante os quase 80 minutos de espetáculo.

A peça foi escolhida por ser um musical (todos aqui sabem da paixão de Tom pela música), mas superou em muito nossa expectativa, trazendo  um enredo centrado na história de crianças, animais e índios que brincam e se descobrem por meio das transformações do tempo.

A beleza do espetáculo foi envolvente, sobretudo pela forma doce, bonita e suave com que os artistas interpretavam, cantavam, tocavam e prendiam a atenção do público.

Certamente esta peça entrou na lista das coisas mais lindas que vi e das quais indico pra qualquer pessoa – grande ou pequena.

Para quem acreditar na indicação e quiser saber mais, seguem as principais informações:

 


Teatro Barreto Júnior
Sábados e Domingos às 16h30m
Temporada de 15 de Março à 27 de abril
Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (crianças, estudantes, professores e maiores de 60 anos).
Informações: 3355-6398.

 

sábado, 8 de março de 2014

O que meu filho precisa saber aos dois anos

Hoje li um texto que me rememorou uma angústia que sempre me acompanhou como educadora e agora como mãe: a necessidade que os pais contemporâneos possuem de que seus filhos sejam os melhores, saibam mais, façam aulas de inglês antes de aprenderem a falar, etc.
Quem me conhece sabe que não possuo esta angústia com meu Tom, procurando sempre respeitá-lo quanto ao ritmo, preferências e desejos. Não crio expectativas sobre o futuro do meu filho, sempre vivendo o hoje da maneira mais feliz que podemos.
O texto que li falava sobre o ter e saber como valores demasiadamente valorizados por esta sociedade que equaciona sucesso e dinheiro, estimulando as crianças, desde muito pequenas, a tentarem superar as outras pessoas e não a si mesmas, seus medos e limitações.
É por isso que resolvi escrever este texto, para pensar sobre o que precisa saber o meu Tom no auge de seus dois aninhos de vida.
Aos dois anos meu filho não precisa comer só, vestir-se só e falar um repertório de mil palavras, somente porque outras crianças com a sua idade já o fazem. Ele precisa, certamente:
- Saber que sua família o ama incondicionalmente e sempre estará ao seu lado para que ele possa crescer de forma segura e saudável.
- Saber que eu não preciso gritar com ele para que ele entenda que eu sou sua mãe e possuo autoridade, porque respeito não se impõe no grito, mas sim na relação de amor e confiança que construímos todos os dias;

- Saber que seus pais o amam acima de tudo e, justamente por isso, irão fazer algumas intervenções que podem desagradá-lo, mas são necessárias;  
- Precisa saber que ele não precisa gostar das coisas que os seus amigos gostam e que, mesmo assim, poderá continuar convivendo com eles de forma assertiva;
- Descobrir que é importante emprestar o brinquedo não apenas porque eu mando, mas porque a brincadeira é muito mais legal com as outras crianças;
- Saber que o fato da sua família amá-lo de qualquer forma não o dá o direito de maltratar estas pessoas, o que não significa que ele tenha sempre que agradar a todos;
- Saber que para ser feliz ele não precisa de todos os brinquedos de uma loja, e que ele pode ser feliz mesmo sem nenhum deles;
- Saber que não se rir das pessoas e que, caso eu cometa esta falha, ele deve exigir respeito;
- Saber que não se comparam as pessoas e que ele pode viver do seu próprio modo;
- Saber que seu sofrimento é legítimo e que os adultos que o cercam não julgam como bobagens de criança;
- Saber que não o deixarei chorando para que aprenda algo, porque o choro não é professor de ninguém;
- Saber que aqui em casa não usamos o discurso: choro não mata, porque estamos criando uma criança e não um sobrevivente; 
- Saber que o princípio moral que diz que uma criança JAMAIS será abandonada é respeitado pela sua família e, por isso, mesmo que ele faça birra jamais será ameaçado de que o deixaremos sozinho (embora façamos uma intervenção que o ajude a controlar-se);
- Saber que ele não precisa comer tudo o que eu gosto, mas que ele tem o direito de escolher o que deseja provar, embora tenha que se alimentar de forma saudável;
- Saber que a leitura de um livro pode ser uma viagem das mais especiais;
- Compreender que quando ele fica com raiva ou triste pode usar palavras para falar sobre isso, não sendo necessário chorar (embora possa fazê-lo) nem gritar com os outros;
- Saber que não se bate nas pessoas, não se grita com as pessoas, para que, no futuro, ele entenda que a vida é um valor que deve ser preservado;
É por tudo isso que eu dedico minhas horas de convivência com ele. Pouco me importo se ele já sabe as letras, sabe contar ou diz palavras em inglês.
Pouco me importa, também, que os meninos de sua idade fazem mais coisas que ele ou pronunciam mais palavras.
Ele tem muito tempo pela frente para aprender o que for necessário do ponto de vista conceitual, embora precise da vida inteira para aprender a ser uma pessoa melhor (sempre se pode ser), a fim de conviver melhor consigo mesmo e com os outros.
Aqui em casa, o que vale mesmo, são as relações de amor que temos construído, a forma respeitosa com que temos nos tratado e o carinho que demonstramos sentir, a todo momento, uns pelos outros.
Amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Acho que é isso que o Tom precisa saber com 2, 20 ou 200 anos.   

  Pra quem quiser fazer uma boa leitura, indico o texto que me inspirou, que pode ser encontrado neste link

terça-feira, 4 de março de 2014

O dia em que o Tom apanhou no parquinho


Ontem levamos o Tom para brincar em uma lanchonete que tem em minha cidade, cujo parquinho é bem adequado para idade dele. Gostamos muito de ir lá porque, além dos brinquedos serem apreciados pelo pequeno, há muitas crianças da idade dele, que o ajudam a aprender a interagir de forma cada vez melhor.

Como o Tom é filho único, neto único e sobrinho único (por enquanto), levá-lo aos locais nos quais há crianças é a prioridade número 1 na hora em que escolhemos os passeios nos finais de semana e feriados. 

Ocorre que ontem um fato inusitado aconteceu: um garotinho que também brincava no parque decidiu que Tom seria seu “saco de pancada” e, toda vez que olhava para meu filho, o atacava com murros e ponta-pés, que o atingiam até no rostinho.

Como o Tom não é acostumado com esse tipo de situação, ficou sem reação alguma com a atitude do “coleguinha” e me olhava como se estivesse pedindo:

- Mamãe, me salva!

Sem deixar meu coração agir mais que minha razão, eu, ao invés de intervir diretamente, disse:

- Filho, fala para ele que não se bate nas pessoas! Não deixa ele te bater, filho, isso não é certo!

Mas o pequeno Tom apenas chorava e colocava a mãozinha na frente numa tentativa de impedir o que o garotinho, com também 2 anos e 1 mês, fazia contra ele.

Nossa, nunca é legal ver uma criança apanhando, sobretudo o filho da gente. Mas mais chato que ver esta parte da cena foi ver os pais do menino sentados a uma mesa distante do local em que ele brincava, pouco interessados com o que acontecia ali, enquanto uma babá, com pouca autoridade sobre a criança, me olhava envergonhada dizendo:

- Eu digo para ele não fazer isso, mas a mãe também tem que dizer.  

Por fim, a história “terminou” com a babá indo contar aos pais, que, em seguida, vieram segurando o menino pelo braço, obrigando-o a pedir desculpas ao meu filho, e lhe dar um abraço, que não foi consumado porque o Tom, em pânico, gritava:

- Abraço não, mamãe! (o que, prontamente, foi respeitado.)

Relato este caso para trazer algumas reflexões que acho oportunas quando falamos em crianças que batem nas outras, fato este bastante recorrente.

Bem, em primeiro lugar, acredito que nenhum pai nem nenhuma mãe fica feliz em ver seu filho batendo nos outros. Senti o constrangimento dos pais do garoto quando vieram se desculpar.

Entretanto, envergonhar-se não é suficiente! Os estudos sobre desenvolvimento moral já evidenciaram que não adianta apenas recriminar o filho por uma atitude inadequada. É claro que sempre devemos levar a criança a pensar sobre os atos, enxergando que esta é uma condição necessária, mas não suficiente para a adequação de um comportamento.

Portanto, antes de julgar o filho ou obrigá-lo a se desculpar, era necessário que os pais estivessem por ali, em alguns momentos, observando os filhos na brincadeira. Por mais difícil que seja a vida e por mais corrido que estejamos, não podemos delegar a babá todas as situações de interação com a criança pois, caso contrário, corremos um sério risco de não acertarmos na educação de nossos filhos.

Terceirizar a educação dos filhos é um problema cada vez mais recorrente. As famílias hoje possuem babás, folguistas, substituta de folguistas, etc, restando aos pais poucas oportunidades de interagirem, de fato, com a criança.

Digo isso porque compreendo como fundamental as trocas que são estabelecidas com os filhos, afinal, para modificar os comportamentos das crianças é necessário que uma virtude seja construída, o que somente acontecerá quando a própria criança puder pensar e construir instrumentos cognitivos que lhe permita sair de seu ponto de vista e ir para outro – é a reversibilidade de pensamento que permite isso.

Mais do que obrigar o filho a desculpar-se (antes mesmo que tivesse reconhecido a culpa), era importante que os pais, estando presentes, pudessem levá-lo a perceber o que sentiu o pequeno Tom ao apanhar daquela forma.

Além disso, era necessário, também, que os pais instituíssem o limite, levando a pensar e tomar uma decisão:

- Você escolhe: ou para de bater nas outras crianças ou sairemos do parque.

Podendo decidir sobre o que fazer, o garotinho poderia escolher e, em função ou não da adequação de sua escolha, sofrer uma sanção. Não podemos achar que as crianças pequenas não pensam. Elas pensam sim e já são capazes, com as nossas mediações, de se situarem no mundo do certo e errado a partir de princípios reais. Entretanto, isso apenas se concretizará se permitirmos que elas façam escolhas e assumam a responsabilidades delas. 

Quem “tentou resolver” o conflito foi o pai ao obrigar o menino a se desculpar com o Tom. Agir desta forma é dar ao filho poucas oportunidades de decidir e, assim, desenvolver-se rumo à autonomia.

Alguém pode estar se perguntando: E por que você não interviu? Por que você não promoveu essa reflexão?

A resposta é simples: uma criança de dois anos não respeita a regra (não bater, por exemplo), mas sim quem a institui, por sentir pelo “guardião da regra” amor, medo e confiança. O menininho em questão é incapaz (por questões óbvias) de sentir isso por mim uma pessoa que ele jamais viu. Até mesmo pela babá ele não sentia esta tríade de sentimentos tão necessários à mudança de atitude e incorporação da regra: não se bate nas pessoas.

Por isso, enquanto os pais não se levantarem das cadeiras e forem ao parque observar a forma como o filho age e interagir com o mesmo no sentido de apresentar-lhe formas mais assertivas de comportamentos, eu percebo poucas chances dessa atitude ser modificada.

É por isso que, mesmo tendo uma vida maluca, não abro mão de estar ao lado de Tom, conduzindo-o rumo ao desenvolvimento moral que ele, e toda sociedade, tanto precisam.

Termino este post com uma frase já bem conhecida, cujo autor desconheço:

Não adianta esperar um mundo melhor para nossos filhos. Temos, sim, é que deixar filhos melhores para o mundo.    
E é por isso que o lema aqui em casa é: ame o quanto pode e aproveite cada momento.