sábado, 8 de março de 2014

O que meu filho precisa saber aos dois anos

Hoje li um texto que me rememorou uma angústia que sempre me acompanhou como educadora e agora como mãe: a necessidade que os pais contemporâneos possuem de que seus filhos sejam os melhores, saibam mais, façam aulas de inglês antes de aprenderem a falar, etc.
Quem me conhece sabe que não possuo esta angústia com meu Tom, procurando sempre respeitá-lo quanto ao ritmo, preferências e desejos. Não crio expectativas sobre o futuro do meu filho, sempre vivendo o hoje da maneira mais feliz que podemos.
O texto que li falava sobre o ter e saber como valores demasiadamente valorizados por esta sociedade que equaciona sucesso e dinheiro, estimulando as crianças, desde muito pequenas, a tentarem superar as outras pessoas e não a si mesmas, seus medos e limitações.
É por isso que resolvi escrever este texto, para pensar sobre o que precisa saber o meu Tom no auge de seus dois aninhos de vida.
Aos dois anos meu filho não precisa comer só, vestir-se só e falar um repertório de mil palavras, somente porque outras crianças com a sua idade já o fazem. Ele precisa, certamente:
- Saber que sua família o ama incondicionalmente e sempre estará ao seu lado para que ele possa crescer de forma segura e saudável.
- Saber que eu não preciso gritar com ele para que ele entenda que eu sou sua mãe e possuo autoridade, porque respeito não se impõe no grito, mas sim na relação de amor e confiança que construímos todos os dias;

- Saber que seus pais o amam acima de tudo e, justamente por isso, irão fazer algumas intervenções que podem desagradá-lo, mas são necessárias;  
- Precisa saber que ele não precisa gostar das coisas que os seus amigos gostam e que, mesmo assim, poderá continuar convivendo com eles de forma assertiva;
- Descobrir que é importante emprestar o brinquedo não apenas porque eu mando, mas porque a brincadeira é muito mais legal com as outras crianças;
- Saber que o fato da sua família amá-lo de qualquer forma não o dá o direito de maltratar estas pessoas, o que não significa que ele tenha sempre que agradar a todos;
- Saber que para ser feliz ele não precisa de todos os brinquedos de uma loja, e que ele pode ser feliz mesmo sem nenhum deles;
- Saber que não se rir das pessoas e que, caso eu cometa esta falha, ele deve exigir respeito;
- Saber que não se comparam as pessoas e que ele pode viver do seu próprio modo;
- Saber que seu sofrimento é legítimo e que os adultos que o cercam não julgam como bobagens de criança;
- Saber que não o deixarei chorando para que aprenda algo, porque o choro não é professor de ninguém;
- Saber que aqui em casa não usamos o discurso: choro não mata, porque estamos criando uma criança e não um sobrevivente; 
- Saber que o princípio moral que diz que uma criança JAMAIS será abandonada é respeitado pela sua família e, por isso, mesmo que ele faça birra jamais será ameaçado de que o deixaremos sozinho (embora façamos uma intervenção que o ajude a controlar-se);
- Saber que ele não precisa comer tudo o que eu gosto, mas que ele tem o direito de escolher o que deseja provar, embora tenha que se alimentar de forma saudável;
- Saber que a leitura de um livro pode ser uma viagem das mais especiais;
- Compreender que quando ele fica com raiva ou triste pode usar palavras para falar sobre isso, não sendo necessário chorar (embora possa fazê-lo) nem gritar com os outros;
- Saber que não se bate nas pessoas, não se grita com as pessoas, para que, no futuro, ele entenda que a vida é um valor que deve ser preservado;
É por tudo isso que eu dedico minhas horas de convivência com ele. Pouco me importo se ele já sabe as letras, sabe contar ou diz palavras em inglês.
Pouco me importa, também, que os meninos de sua idade fazem mais coisas que ele ou pronunciam mais palavras.
Ele tem muito tempo pela frente para aprender o que for necessário do ponto de vista conceitual, embora precise da vida inteira para aprender a ser uma pessoa melhor (sempre se pode ser), a fim de conviver melhor consigo mesmo e com os outros.
Aqui em casa, o que vale mesmo, são as relações de amor que temos construído, a forma respeitosa com que temos nos tratado e o carinho que demonstramos sentir, a todo momento, uns pelos outros.
Amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Acho que é isso que o Tom precisa saber com 2, 20 ou 200 anos.   

  Pra quem quiser fazer uma boa leitura, indico o texto que me inspirou, que pode ser encontrado neste link

2 comentários:

  1. Orgulho de ter tido a oportunidade de ter uma "professora" como você, suas orientações vão além da academia.
    Danielly Rodrigues

    ResponderExcluir
  2. Todo dia aprendo com você! Texto excelente e a certeza que o meu neto está sendo educado da maneira correta. Com muiro amor e respeito pelo próximo.

    ResponderExcluir