quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Primeira sugestão: Seja uma mulher completa.



Filhos, ser mãe não é fácil nem, tampouco, natural. A gente aprende a ser mãe na relação com vocês e conosco mesmo. Saibam que há muita ditadura em torno da maternidade perfeita. Muitas mulheres acreditam que a boa mãe é aquela que se dedica integralmente e exclusivamente às crias, abrindo mão de trabalhar ou fazer outras coisas que goste e ache importante.
Saibam que eu amo vocês acima de tudo, mas amo, também, meu trabalho e outras vidas que eu tenho além da materna. Por isso, eu desejo trabalhar, me divertir, estudar e fazer outras coisas além de cuidar de vocês. Além disso, eu também preciso do meu emprego. Ao trabalhar, eu espero que vocês entendam que as mulheres gostam do que fazem, se realizam no exercício profissional e podem e devem conciliar os muitos papéis que desempenham porque são completas. Isso não quer dizer nunca que eu deva bancar a supermulher e retroalimentar o discurso machista de que as mulheres fazem mil coisas ao mesmo tempo, diferentemente dos homens.
Espero que aprendam, também, que mulheres e homens, juntos, devem batalhar pelo provimento da família e que nunca se julguem como os únicos que precisam trazer os alimentos para casa. Os adultos da relação precisam garantir o sustento e, se por alguma razão sua esposa ganhar mais do que você, não se constranja por isso. Numa família não importa de quem venha a renda, sobretudo porque o que é de um deve ser de todos. 
Aprendam, também, que pessoas devem fazer mil coisas ao mesmo tempo quando precisam e não fazer nada quando podem, incluindo, nisso, homens e mulheres. Para dar conta das muitas demandas, divida as tarefas em casa com suas esposas e não trate como ajuda aquilo que faz na educação dos filhos. O casal precisa refletir sobre como conciliar carreira e filhos e não apenas a mulher. Aprendam, por fim, que homens e mulheres desempenham múltiplos papeis e o trabalho feminino conciliado com a maternidade é tão natural quanto o trabalho masculino conciliado com a paternidade.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Para educar meninos feministas: um manifesto.




Estes dias nós estávamos em casa quando Tomaz começou a assistir ao desenho animado da Luluzinha. No episódio assistido houve a seguinte fala de Bolinha:
- As mulheres são fracas e não mandam em nada.
Quando pensei  em fazer alguma intervenção para descontruir a asneira dita, escuto Tomaz falar a um amigo que dormia em nossa casa:
- Nossa, Bolinha não sabe de nada. Dilma é mulher e era presidente do país antes de roubarem o governo dela.
Ao ouvir Tomaz falar isso me deu um alívio enorme quanto a eficácia da educação feminista que adotamos em casa. Confesso que sempre me preocupei muito, sendo mãe de meninos, em educá-los numa perspectiva de equidade de gênero porque acredito que superar o machismo não deve somente ser uma luta das mulheres, mas de todos os cidadãos e cidadãs. Eu, como mãe de meninos num país tão machista, me vejo envolta à necessidade de educá-los para reconheçam essa necessária equidade e possam, com isso, respeitar as mulheres e, também, a forma de masculinidade que eles escolham viver.
Homem chora! Homem fraqueja! Homem sofre! Cotidianamente eu e meu marido trabalhamos questões desta natureza em nossa casa e acreditamos que os meninos poderão viver seus sentimentos sem que seja necessário pensar sobre o que é permitido ou negado aos meninos. Sentimentos, em nossa casa, são tratados como algo inerente aos humanos e não às mulheres.
No meio de minhas reflexões sobre educação feminista li o livro: Para educar crianças feministas: um manifesto (Companhia das Letras) escrito pela Ngozi Adichie. Gostando muito do conteúdo pensei o quanto era “limitada” a obra ter sido escrita para falar como educar uma menina feminista. Educar mulheres empoderadas já é um discurso que circula com certa aceitação, embora ainda esteja iniciando. Entretanto, quase impossível é encontrar reflexões em torno da educação de meninos que seja respeitosa e que valide a igualdade de direitos entre os gêneros, máxima de uma educação feminista.
Por isso, decidi eu mesma, inspirada por este livro, fazer minhas reflexões sobre como educar meus garotos feministas. Penso isso porque acho que não é suficiente eles não serem machistas. É preciso ir além e reconhecer que homens e mulheres podem ser feministas quando reconhecem o que já nos anunciou Simone de Beauvoir:
Não acredito que existam qualidades, valores, modos de vida especificamente femininos: seria admitir a existência de uma natureza feminina, quer dizer, aderir a um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de se afirmar como mulher, mas de tornarem-se seres humanos na sua integridade.
Por isso, acreditando que não existe modos de vida puramente femininos ou masculinos, resolvi reescrever o manifesto incluindo minhas reflexões sobre educar meninos feministas. Para isso, segui a ordem da autora na sequência da obra, posto que ela nos traz quinze sugestões fundamentais para esta perspectiva educacional. São estas sugestões, uma a uma, que serão traduzidas aqui para mim, mãe de três meninos, a fim de que eu nunca as esqueça nas relações que estabeleço com minhas crianças e que, por serem interações sociais, estão permeadas de valores que os educam. Vamos lá...

Tomaz, Théo e Thales, meus amores. A mamãe acredita muito num mundo no qual todas as pessoas, sem distinção de crença, etnia, gênero ou qualquer outra diferença sejam tratadas como humanas. Por isso, ela investe numa educação não racista e não sexista para vocês, desejando, com todo o coração, que valores de igualdade, respeito, justiça e generosidade estejam contemplados na identidade de vocês.
É por isso, a mamãe investe numa educação feminista, pois, para ela, estes valores são marcas desta forma de educar. É claro que apenas acreditar nisso e investir na educação de vocês não garante que os formarão como garotos feministas. É preciso que eu lhes garanta, também, autonomia de pensamento, pois decidir entre o que é certo e errado depende muito do contexto. É por isso que em nossa casa nos dialogamos, respeitamos o sentimento uns dos outros e valorizamos as escolhas pautadas nos valores dos quais não abrimos mão. Eu acredito que, a partir dos valores que vivemos em nossa casa, vocês serão capazes de julgar as relações e agir pautados no respeito mútuo.
Por isso, a mamãe reescreve este manifesto, na verdade, mais para ela do que para vocês. Ela reescreve para que consiga pensar sobre o feminismo dela mesma e, com isso, as práticas educativas de vocês. Ela escreve, ainda, para ajudar outras mães, também feministas, a pensarem sobre a educação de seus meninos.