Estes dias nós
estávamos em casa quando Tomaz começou a assistir ao desenho animado da
Luluzinha. No episódio assistido houve a seguinte fala de Bolinha:
- As mulheres
são fracas e não mandam em nada.
Quando
pensei em fazer alguma intervenção para
descontruir a asneira dita, escuto Tomaz falar a um amigo que dormia em nossa
casa:
- Nossa,
Bolinha não sabe de nada. Dilma é mulher e era presidente do país antes de
roubarem o governo dela.
Ao ouvir Tomaz
falar isso me deu um alívio enorme quanto a eficácia da educação feminista que
adotamos em casa. Confesso que sempre me preocupei muito, sendo mãe de meninos,
em educá-los numa perspectiva de equidade de gênero porque acredito que superar
o machismo não deve somente ser uma luta das mulheres, mas de todos os cidadãos
e cidadãs. Eu, como mãe de meninos num país tão machista, me vejo envolta à
necessidade de educá-los para reconheçam essa necessária equidade e possam, com
isso, respeitar as mulheres e, também, a forma de masculinidade que eles
escolham viver.
Homem chora!
Homem fraqueja! Homem sofre! Cotidianamente eu e meu marido trabalhamos
questões desta natureza em nossa casa e acreditamos que os meninos poderão
viver seus sentimentos sem que seja necessário pensar sobre o que é permitido
ou negado aos meninos. Sentimentos, em nossa casa, são tratados como algo
inerente aos humanos e não às mulheres.
No meio de
minhas reflexões sobre educação feminista li o livro: Para educar crianças
feministas: um manifesto (Companhia das Letras) escrito pela Ngozi Adichie.
Gostando muito do conteúdo pensei o quanto era “limitada” a obra ter sido
escrita para falar como educar uma menina feminista. Educar mulheres
empoderadas já é um discurso que circula com certa aceitação, embora ainda
esteja iniciando. Entretanto, quase impossível é encontrar reflexões em torno
da educação de meninos que seja respeitosa e que valide a igualdade de direitos
entre os gêneros, máxima de uma educação feminista.
Por isso,
decidi eu mesma, inspirada por este livro, fazer minhas reflexões sobre como
educar meus garotos feministas. Penso isso porque acho que não é suficiente
eles não serem machistas. É preciso ir além e reconhecer que homens e mulheres
podem ser feministas quando reconhecem o que já nos anunciou Simone de Beauvoir:
Não acredito que existam qualidades, valores, modos de vida
especificamente femininos: seria admitir a existência de uma natureza feminina,
quer dizer, aderir a um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na
sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de se afirmar como
mulher, mas de tornarem-se seres humanos na sua integridade.
Por isso,
acreditando que não existe modos de vida puramente femininos ou masculinos,
resolvi reescrever o manifesto incluindo minhas reflexões sobre educar meninos
feministas. Para isso, segui a ordem da autora na sequência da obra, posto que
ela nos traz quinze sugestões fundamentais para esta perspectiva educacional.
São estas sugestões, uma a uma, que serão traduzidas aqui para mim, mãe de três
meninos, a fim de que eu nunca as esqueça nas relações que estabeleço com
minhas crianças e que, por serem interações sociais, estão permeadas de valores
que os educam. Vamos lá...
Tomaz, Théo e
Thales, meus amores. A mamãe acredita muito num mundo no qual todas as pessoas,
sem distinção de crença, etnia, gênero ou qualquer outra diferença sejam
tratadas como humanas. Por isso, ela investe numa educação não racista e não
sexista para vocês, desejando, com todo o coração, que valores de igualdade,
respeito, justiça e generosidade estejam contemplados na identidade de vocês.
É por isso, a
mamãe investe numa educação feminista, pois, para ela, estes valores são marcas
desta forma de educar. É claro que apenas acreditar nisso e investir na educação
de vocês não garante que os formarão como garotos feministas. É preciso que eu
lhes garanta, também, autonomia de pensamento, pois decidir entre o que é certo
e errado depende muito do contexto. É por isso que em nossa casa nos
dialogamos, respeitamos o sentimento uns dos outros e valorizamos as escolhas
pautadas nos valores dos quais não abrimos mão. Eu acredito que, a partir dos
valores que vivemos em nossa casa, vocês serão capazes de julgar as relações e
agir pautados no respeito mútuo.
Por isso, a
mamãe reescreve este manifesto, na verdade, mais para ela do que para vocês.
Ela reescreve para que consiga pensar sobre o feminismo dela mesma e, com isso,
as práticas educativas de vocês. Ela escreve, ainda, para ajudar outras mães,
também feministas, a pensarem sobre a educação de seus meninos.
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