quinta-feira, 16 de outubro de 2014

No Quintal

Como pedagoga tenho certeza que a brincadeira livre é fundamental ao desenvolvimento dos pequenos, porque estimula a criatividade, o desenvolvimento emocional sadio e a possibilidade de entreter-se sem a necessidade de um aparato tecnológico a todo momento.
Por isso, compreendo que a brincadeira, na vida infantil, é fundamental, uma vez que pode ser uma das linguagens expressivas das crianças e, por isso, proporcionar a comunicação, a exploração do mundo, a socialização e o desenvolvimento integral. Ademais,

“(...) Ao brincar, a criança é capaz de impor-se a condições externas, em vez de a elas ficar sujeita. Há uma inversão do controle social: enquanto brincam, são as crianças que dão as ordens (...) Provocar a oportunidade de inversões tem implicações importantes como motor do desenvolvimento. No plano emocional, brincar permite à criança libertar as tensões originadas pelas restrições impostas pelo meio ambiente; brincar fornece a oportunidade de resolver as frustrações, e é, por isso, altamente terapêutico. Ao brincar com os outros, a criança aprende a partilhar, a dar, a tomar, a cooperar pela reversibilidade das relações sociais.” (Kishimoto, 1995, p.13)

Assim, como mãe, tenho tentado oportunizar ao Tom possibilidades de brincadeiras livres, sobretudo junto a outras crianças, a fim de que ele consiga descobrir a magia das trocas com seus pares e, com isso, caminhar num percurso de desenvolvimento no qual os traços típicos de sua fase sejam respeitados.  
Nessa minha busca em deixar a rotina do meu filhote cada vez mais  lúdica, fui apresentada a um espaço bem legal em minha cidade (Recife), pela querida amiga Paloma Mendes: No Quintal – uma lanchonete que se propõe a oportunizar as crianças brincadeiras de antigamente, sem muita tecnologia ou informação.
No Quintal, além de ter uma comida da melhor qualidade, com apresentação de encher os olhos das crianças, possui um espaço bastante agradável, ao ar livre, que possibilita que se brinque livremente. Lá não tem aqueles brinquedões que encontramos em todas as lanchonetes da cidade, não tem escorrego, nem brinquedos elétricos-eletrônicos.
No Quintal, como antigamente, a diversão fica a cargo de capas de super-heróis, confeccionadas com tecido de chita; uma casinha de madeira cheia de almofadas e livros, cavalos de pau (alguns poucos), que são saudavelmente disputados pelas crianças, além de paredes que podem ser ilustradas livremente com giz.


(Esse lindo da foto é meu afilhado Rafa)


(Estes lindos são os amigos da escola de Tom).

Por isso, justamente por não ter uma oferta enorme de brinquedos, mas oferecendo o que poucas crianças tem hoje em dia – liberdade - a diversão fica a cargo da imaginação, de modo que, motivadas pelo encanto do lugar, os pequenos terminam se divertindo da forma mais incrível que podemos imaginar.

Para mim, mais do que trazer apenas entretenimento, No Quintal oportuniza uma forma de desenvolvimento que respeita a infância, visto que, por sua estrutura, permite a realização de jogos simbólicos, ação que tem papel fundamental na formação dos conceitos e da própria representação cognitiva da criança.
Vale ressaltar, que os jogos simbólicos são formas da criança adaptar-se à realidade, transformando-a e assimilando-a ao seu eu por meio de uma mecanismo assimilativo. Um exemplo claro de que as assimilações são determinadas pelo eu, é o fato do Tom, ao ser indagado sobre a utilidade das moedas, responder: “para tirar bolinhas das máquinas”, exemplificando que a sua compreensão é marcada pelas suas vivências.

Desse modo, ao permitir que as crianças criem, brinquem sem a interferência direta dos adultos (já que o espaço é projetado para que os pais consigam olhar as crianças sem que seja necessário ficar junto a elas interferindo ou mediando, diretamente, nas brincadeiras), No Quintal é uma ótima opção pra quem deseja momentos de pura diversão e crescimento para os pequenos.    
Por fim, deixo o poema No Fundo do Quintal da querida Roseana Murray, para nos ajudar a pensar:
No fundo o quintal,
amarelinha,
esconde-esconde,
jogo do anel,
um amor e três segredos.

No fundo do quintal,
passarinhos,
tesouros,
piratas e navios,
as velas todas armadas.

No fundo do quintal,
casinha de boneca,
comidinha de folha seca,
eu era a mãe, você era o pai,
Quando não existe quintal, como é que se faz?



Bem, acho que a resposta seria: Inventa!!!

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