segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Quem precisa de um filho genial?


Hoje estava fuçando o facebook quando vi um post do querido Francisco Alexandrino sobre o livro abaixo.


Imediatamente o título da obra me chamou atenção, acendendo em mim a luz vermelha de preocupação: minha nossa, só me faltava essa! Estou até vendo mães e pais consumidos pelo desejo de educarem filhos gênios, aplicando letra por letra da leitura do livro. Estou até vendo – como conseqüência – crianças sofrendo pelas pressões paternas e maternas, sem conseguirem atender as expectativas de seus pais. E por fim, vejo pais frustrados, crianças deprimidas, e nenhum gênio que tenha sido treinado para isso através desta magnífica obra.
Minha nossa, um livro dessa natureza é um risco a saúde social. Isso porque leva pais e mães a colocarem a saúde mental de seus filhos em risco, motivados pela possibilidade de sucesso: meta geral nesta sociedade pós-moderna, cujos valores capitalistas são tão presentes.
O pior é que esta obra não é uma publicação isolada. Apenas numa busca rápida pela internet achei mais de dez livros cujas propostas são as mesmas das defendidas no livro aqui apresentado: orientar pais a educarem filhos para serem gênios. Não é possível que isso esteja acontecendo e nós, pedagogos, pais e mães estejamos indiferentes a isso.
É preciso que questionemos esta realidade, a partir de algumas reflexões. A primeira delas é: qual a importância de que nossos filhos sejam gênios? Será que é porque acreditamos que sendo eles demasiadamente inteligentes garantimos que terão sucesso financeiro, quase como se isso fosse uma equação exata?
Ledo engano! Dias desses li um estudo longitudinal, feito por pesquisadores norte americanos, cujo acompanhamento de crianças com alto, médio e baixo desempenho permitiu afirmar: não são as pessoas com maiores notas na escola que garantem o sucesso profissional, mas a existência de projetos claros de vida. Isso quer dizer que mais vale saber aonde se quer chegar do que ter 10 em todas as disciplinas do boletim escolar.
Segundo, é possível transformar nossos filhos em gênios? Para esta, a resposta é negativa. E, ainda mais, ela é um risco, porque a vida de uma criança cuja meta paterna é transformá-la em gênio vira um verdadeiro martírio: ela ouve Mozart desde o nascimento, porque os pais ouviram que música clássica potencializa a inteligência; ela faz inglês antes de aprender a falar sua língua materna; faz aula de reforço antes de aprender a escrever seu próprio nome, freqüenta teatro, cinema, exposição e tudo mais que possa fortalecer seu repertório cultural, transformando o entretenimento sempre em possibilidade de desenvolvimento... A criança gênio em potencial faz tudo... só não faz o que ela poderia fazer para crescer saudável e feliz: ser criança.
Não estamos nos dando conta de que estamos vivendo num mundo tão competitivo que nos leva a adotar uma posição de competição incluindo a criança nisso. É preciso que reconheçamos que cada criança é única, possuindo um ritmo de aprendizado próprio, adequando aos seus níveis de desenvolvimento. Não adianta querer que uma criança faça equações aos oitos anos, porque ela não tem condições cognitivas para isso.
Na tentativa de educarmos gênios estamos, na verdade, pulando fases e enlouquecendo as escolas que, cada vez mais, se vêem obrigadas a alfabetizar as crianças com quatro ou cinco de anos de idade, alimentando o ego dos pais que poderão dizer nas festinhas infantis: meu filho lê e escreve aos cinco anos.
Gente, isso é um absurdo, pois o sistema nervoso da criança ainda não está maturado para esse tipo de atividade e forçá-la a realizar tarefas para as quais ainda não está pronta pode levar a criança a apresentar dificuldades de aprendizagem um pouco mais tarde.
Essa geração de gênios é a mesma geração da depressão infantil, das crianças com distúrbios do sono, com alterações alimentares, com fobias e tantos outros transtornos psicológicos que até pouco tempo era “privilégio” do mundo adulto. Isso não é coincidência.
Estamos, como pais, tão preocupados com o futuro dos filhos que acabamos transmitindo para eles nossas expectativas. Enquanto as crianças de antes fantasiavam sobre o futuro imaginando se seriam astronauta ou estrela de cinema, as crianças educadas para serem gênios imaginam, cada vez mais cedo, quantos carros terão na garagem ou quantas viagens vão fazer ao exterior. A preocupação desta geração que forma gênios está sempre ligada à riqueza material.
Não podemos fazer nossos filhos acreditarem que dinheiro é o único sinal de sucesso e que a obtenção desse sucesso virá através de boas notas. Corremos o risco de estressar nossos filhos e, ainda mais, inibi-los na busca do que realmente importa na vida: a busca pela felicidade.
É por isso que eu penso que não precisamos de filhos geniais, mais de filhos que enxerguem em nós o suporte emocional que precisam para se desenvolver saudável e feliz.
  

   

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