terça-feira, 8 de setembro de 2015

A babá dependência e os modelos educativos no Brasil

No último mês viajamos de férias: eu, Tom o pai dele e mais os padrinhos, os tios e a avó materna. O objetivo da viagem foi comemorar o primeiro aninho do priminho dele, Samuel, que mora na terra da rainha.
Além de participarmos da festinha, aproveitamos para passear em várias cidades inglesas, onde visitamos o Parque da Pepa para que o Tom pudesse ver um lugar infantil inteiramente dedicado a porquinha mais famosa dos últimos tempos.
Em todos os lugares que fomos, desde os mais infantis (como o parque citado), até lugares bem adultos (como as universidades em Cambridge), observamos pais e crianças que passeavam com tranquilidade, aproveitando a companhia uns dos outros.
Justo por isso, me chamou atenção que em nenhum lugar nós observamos babás acompanhando as famílias, o que permitia ver a naturalidade com que os adultos cuidavam dos filhos de forma tão espontânea e rotineira. A tranqüilidade com que todos conduziam as crianças era tão natural que não soava o martírio que, muitas vezes, me transparece nas famílias brasileiras que ficam desesperadas quando precisam levar os filhos a um parque.
Aqui no Brasil estamos exagerando na necessidade de ter, sempre, alguém que faça por nós aquilo que cansa, mas que deve ser motivo de prazer para os pais. Tem sempre babá, folguista, folguista da folguista, e os pais quase nunca se aventuram a trocar uma fralda, correr atrás dos filhos em um parque, dar a comida, banho e tantas coisas que fazem parte da rotina de quem tem filho pequeno.
A babá dependência está tão forte que fui fechar o quarto aninho do Tom em um Buffet infantil e tive que dizer quantos adultos, crianças e babás seriam convidados para que fosse finalizado o orçamento do evento. Vejam, as babás são tão presentes que os buffets já reconhecem a sua participação nas festas infantis como certa, tendo que cobrar por isso também (apesar de que eu acho que deveriam ser tratadas como qualquer adulto, pois é isso que são de verdade).
Sei que algumas mães têm muitos filhos, ou tem criança que demanda necessidade especial que requer mais atenção. Mas tem sido muito comum ver nos parques um pai, uma mãe e uma babá, compondo três adultos para olhar apenas uma criança que brinca, como todas as outras e, por isso, cansa muito os pais no corre-corre da infância.
Isso não é possível! Não podemos, em nome de um cansaço, abrir mão de conviver com as crianças, usufruindo tudo o que elas fazem: correr, comer, tomar banho, etc. Não podemos abrir mão de estar junto e orientar quando preciso. Uma babá, por mais boa vontade que tenha, nunca conseguirá transmitir os valores da família de forma clara nem educar conforme os pais legitimam. Mais do que isso, quando nos afastamos dos cuidados necessários aos pequenos, delegando sempre a terceiros a responsabilidade com isso, fragilizamos a construção de vínculos sólidos entre pais e filhos, pois estas tarefas significam doação – questão necessária no processo de vinculação.
A educação dos filhos é responsabilidade nossa. E ela se torna necessária, justamente, quando eles estão vivos na brincadeira, quando eles estão bravos na hora do banho, quando eles estão birrentos no momento do almoço quando eles estão sendo crianças. Somos nós que devemos educá-los e se abrirmos mão disso, esvaziamos a relação entre pais e crianças.
Não quero dizer, com isso, que ninguém possa contar com a ajuda de alguém na educação da criança. Estou dizendo, apenas, que não podemos ter babás 24 horas por dia em sete dias da semana. Hoje as babás têm que dormir, tem que ter substituta no sábado, no domingo, nos feriados. O problema reside aí. A tarefa materna/paterna não é gerencial, mas de colocar a mão na massa por obrigação e por prazer de cuidar daqueles que amamos acima de tudo.
Se gostamos de ser mãe ou pai apenas quando as crianças dormem, há algo errado nisso e nós precisamos rever a relação afetiva que temos construído nesse processo maternal/paternal.
Ser pai ou mãe é cansativo, mas é necessário e prazeroso... os filhos crescem e logo, logo não precisarão mais de nós nos cuidados básicos... e o mais cruel disso tudo é que o tempo não volta. Por isso, vamos dar folga as babás nos finais de semana... vamos assumir os cuidados com os filhos enquanto eles precisam.
Vamos cuidar dessa relação da maneira que podemos, para que os nossos filhos reconheçam que, da forma como é possível, estamos nos doando nessa relação.      

  

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