No
último mês viajamos de férias: eu, Tom o pai dele e mais os padrinhos, os tios e
a avó materna. O objetivo da viagem foi comemorar o primeiro aninho do priminho
dele, Samuel, que mora na terra da rainha.
Além
de participarmos da festinha, aproveitamos para passear em várias cidades
inglesas, onde visitamos o Parque da Pepa para que o Tom pudesse ver um
lugar infantil inteiramente dedicado a porquinha mais famosa dos últimos
tempos.
Em
todos os lugares que fomos, desde os mais infantis (como o parque citado), até
lugares bem adultos (como as universidades em Cambridge), observamos pais e
crianças que passeavam com tranquilidade, aproveitando a companhia uns dos
outros.
Justo
por isso, me chamou atenção que em nenhum lugar nós observamos babás
acompanhando as famílias, o que permitia ver a naturalidade com que os adultos cuidavam
dos filhos de forma tão espontânea e rotineira. A tranqüilidade com que todos conduziam as
crianças era tão natural que não soava o martírio que, muitas vezes, me
transparece nas famílias brasileiras que ficam desesperadas quando precisam levar os filhos a um parque.
Aqui
no Brasil estamos exagerando na necessidade de ter, sempre, alguém que faça por
nós aquilo que cansa, mas que deve ser motivo de prazer para os pais. Tem sempre
babá, folguista, folguista da folguista, e os pais quase nunca se aventuram a
trocar uma fralda, correr atrás dos filhos em um parque, dar a comida, banho e
tantas coisas que fazem parte da rotina de quem tem filho pequeno.
A
babá dependência está tão forte que fui fechar o quarto aninho do Tom em um
Buffet infantil e tive que dizer quantos adultos, crianças e babás seriam
convidados para que fosse finalizado o orçamento do evento. Vejam, as babás são
tão presentes que os buffets já reconhecem a sua participação nas festas
infantis como certa, tendo que cobrar por isso também (apesar de que eu acho
que deveriam ser tratadas como qualquer adulto, pois é isso que são de
verdade).
Sei
que algumas mães têm muitos filhos, ou tem criança que demanda necessidade
especial que requer mais atenção. Mas tem sido muito comum ver nos parques um
pai, uma mãe e uma babá, compondo três adultos para olhar apenas uma criança
que brinca, como todas as outras e, por isso, cansa muito os pais no
corre-corre da infância.
Isso
não é possível! Não podemos, em nome de um cansaço, abrir mão de conviver com
as crianças, usufruindo tudo o que elas fazem: correr, comer, tomar banho, etc.
Não podemos abrir mão de estar junto e orientar quando preciso. Uma babá, por
mais boa vontade que tenha, nunca conseguirá transmitir os valores da família
de forma clara nem educar conforme os pais legitimam. Mais do que isso, quando
nos afastamos dos cuidados necessários aos pequenos, delegando sempre a
terceiros a responsabilidade com isso, fragilizamos
a construção de vínculos sólidos entre pais e filhos, pois estas tarefas
significam doação – questão necessária no processo de vinculação.
A
educação dos filhos é responsabilidade nossa. E ela se torna necessária,
justamente, quando eles estão vivos na brincadeira, quando eles estão bravos na
hora do banho, quando eles estão birrentos no momento do almoço quando eles
estão sendo crianças. Somos nós que devemos educá-los e se abrirmos mão disso,
esvaziamos a relação entre pais e crianças.
Não
quero dizer, com isso, que ninguém possa contar com a ajuda de alguém na
educação da criança. Estou dizendo, apenas, que não podemos ter babás 24 horas
por dia em sete dias da semana. Hoje as babás têm que dormir, tem que ter
substituta no sábado, no domingo, nos feriados. O problema reside aí. A tarefa
materna/paterna não é gerencial, mas de colocar a mão na massa por obrigação e por prazer de cuidar daqueles que amamos acima de tudo.
Se
gostamos de ser mãe ou pai apenas quando as crianças dormem, há algo errado
nisso e nós precisamos rever a relação afetiva que temos construído nesse
processo maternal/paternal.
Ser
pai ou mãe é cansativo, mas é necessário e prazeroso... os filhos crescem e
logo, logo não precisarão mais de nós nos cuidados básicos... e o mais cruel
disso tudo é que o tempo não volta. Por isso, vamos dar folga as babás nos
finais de semana... vamos assumir os cuidados com os filhos enquanto eles precisam.
Vamos
cuidar dessa relação da maneira que podemos, para que os nossos filhos
reconheçam que, da forma como é possível, estamos nos doando nessa relação.
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