A chegada de um irmão (ou dois) é
sempre um misto de sentimentos para o irmão mais velho. Aqui em casa não
haveria de ser diferente. Embora Tomaz tenha desejado muito um irmãozinho e
tenha ficado eufórico em descobrir que ao invés de ganhar um ganharia dois
irmãos, ele tem sentido muito o nascimento dos gêmeos.
Tudo começou quando, no momento do
nascimento, os pequenos precisaram ir, mediatamente, para UTI. Com isso, Tomaz
não pôde vê-los e começou a sentir muito por não ter condições cognitivas nem
afetivas de construir estes irmãos sem vê-los.
Com a estadia dos pequenos na UTI
neonatal e, pelo fato de serem dois, a mãe e o pai precisavam estar sempre
presentes no hospital e, em função disso, o ex pequeno (agora grande) Tomaz
começou a sentir, ainda mais, a chegada dos irmãos.
Tom fez de tudo. Adoeceu, chorou
muito, cobrou atenção, disse que a gente não amava mais ele e fez tudo o que
uma pessoa, muito enciumada, é capaz e fazer. Isso ocorre porque as crianças
pequenas representam o amor de seus pais pela atenção que deles elas recebem. Como
a atenção foi comprometida, é natural que a criança fique insegura em relação a
este amor que, para ela, é estruturante.
Para lidarmos com esta fase que é
difícil para todo mundo, sobretudo para Tomaz, temos buscado uma dose extra de
empatia, para nos colocarmos, mais ainda, no lugar desse menino lindo que,
durante 6 anos, foi o centro das atenções e agora precisa ceder espaço para
duas criaturinhas que ele ora ama e ora não ama tanto assim (Jamais devemos obrigar
os mais velhos a verbalizarem que amam os mais novos).
Com esta empatia, buscamos sempre
reconhecer o sentimento dele e damos legitimidade para que ele possa sentir
tais emoções sem culpa. Assim, sempre que podemos nós lhe dizemos:
- Você está chateado, Tom? E
quando ele responde afirmativamente, eu complemento:
- Os irmãos estão chorando e mamãe
precisa, agora, dar atenção a eles. Ela sabe que você também queria ficar com
ela agora, não é? Eu posso ficar contigo daqui a pouco e, se você quiser a
companhia de alguém agora, posso pedir para o papai ficar com você, pode ser?
Com isso, além de legitimarmos que
ele pode estar chateado, sentir raiva dos irmãos ou outro sentimento que
desperte nele sensações desagradáveis, demonstramos que estamos atentos e nos
importamos com o que ele sente, embora, nem sempre, consigamos deixar o que
estamos fazendo para atendê-lo em todos os momentos.
Além disso, eu ou o pai estamos
buscando ficar disponíveis para ele, enquanto o outro, com a ajuda da família
ou das pessoas que colaboram em nossa casa, dar conta dos pequenos,
alimentando-os e cuidando deles. Por mais difícil que seja, temos tentado
manter a rotina de Tomaz, levando ele na escola, pegando ele na escola,
acompanhando nas lições de casa, descendo para brincar embaixo do prédio, ajudando
na alimentação, etc.
O importante é que os adultos da
relação entendam que o momento da chegada de novos membros à família é difícil
para todos, mas que cabe aos adultos darem o suporte às crianças, a fim de que
a fantasia do abandono possa ir sendo, pouco a pouco, ressignificada. Para dar
este suporte, faz-se urgente tirar este mais velho da invisibilidade, questão muito
recorrente quando um novo bebê chega ao recinto e, com sua fofura, ganha todos
os olhares.
Sobre esta invisibilidade do
primogênito, Luci Lima (@luciglima) traz um relato emocionante, que a mim e ao pai do Tom
muito tocou ao ponto de nos arrancar lágrimas. Pela profundidade do texto,
decidi compartilhá-lo aqui, para que todos pudessem, também, se emocionar.
O menino invisível (lindo!)
“Outro dia ao usar
o elevador do prédio, eu, meu filhão e minha bebê, encontramos alguns vizinhos.
Durante o trajeto,
os vizinhos foram brincando com a bebê, perguntando nome, idade... Quando
saímos do elevador, meu filho diz:” mãe, já percebeu que parece que eu estou
invisível? Ninguém mais me nota, só olham para a minha irmãzinha. Os vizinhos
nem me deram bom dia! “ .
Tomei um susto
quando ouvi, e na hora me veio a resposta (normalmente isso não acontece, mas
nesse dia fluiu): “eu te entendo filho, você já percebeu que ninguém pergunta
como eu estou? Se eu consigo dormir bem, se estou sentido alguma dor, nada. Só
querem saber da bebê.”
Ele me deu um abraço e
disse:” é mãe o jeito é a gente se ajudar.” “Mas filho, eu não fico triste.
Quando você era bebê acontecia a mesma coisa, todo mundo só queria saber de
você e eu e o papai ficamos invisíveis, mas felizes porque todos queriam
conhecer o mais novo membro de nossa família.
Você vai ver, já,
já essa novidade passa e tudo volta ao normal.
Passando alguns dias, a cena no elevador se repetiu.
Como que por proteção olhei imediatamente para ver como meu filho estava reagindo aquela bajulação dos vizinhos com a irmã. Ele estava sorrindo e quando viu que eu estava olhando para ele, segurou minha mão e me deu uma piscadinha com um dos olhos. Tive vontade de parar tudo e esmagá-lo de beijos.
Passando alguns dias, a cena no elevador se repetiu.
Como que por proteção olhei imediatamente para ver como meu filho estava reagindo aquela bajulação dos vizinhos com a irmã. Ele estava sorrindo e quando viu que eu estava olhando para ele, segurou minha mão e me deu uma piscadinha com um dos olhos. Tive vontade de parar tudo e esmagá-lo de beijos.
Quando saímos do
elevador perguntei para ele: ”filho , está tudo bem?“
A resposta dele me surpreendeu: “não se preocupe, mamãe. Eu já entendi que a neném é novidade, um dia eu passei por isso, agora é a vez dela”.
Simples assim, resolvido e superado. Ao menos por hoje.
Como ele me ensina.
A resposta dele me surpreendeu: “não se preocupe, mamãe. Eu já entendi que a neném é novidade, um dia eu passei por isso, agora é a vez dela”.
Simples assim, resolvido e superado. Ao menos por hoje.
Como ele me ensina.
Ele pode até estar
invisível para alguns, mas para mim ele brilha.”
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