domingo, 6 de maio de 2018

Carta para o meu filho mais velho



Tom, nossa vida, há pouco tempo, mudou demais, não foi? Nossa rotina, nossas atividades, tudo que fazíamos juntos, de repente, parece ter ficado difícil de acontecer desde que nos tornamos uma família maior com cinco pessoas.
Imagino que a forma como as coisas estão acontecendo são bem diferentes de tudo que você esperava e desejou, não é? Você não desejou uma mãe e um pai sem tempo; você não desejou ter que ficar em casa porque agora temos dois bebês que não podem sair para passear; você não desejou que a mamãe e o papai estivessem tão cansados porque acordam a noite inteira para alimentar seus irmãos e cuidar para que eles estejam bem. Você queria, justamente, o contrário.
Conhecendo teu coração generoso e amigo, sei que o que querias era ter sempre companhia, era conviver com amigos que moram na sua mesma casa, era ter uma rotina de mais diversão e alegria. Justo por isso, a chegada dos bebês em casa foi um grande balde de água fria, não é? Esses dois menininhos vieram trazendo o contrário de tudo que você queria e esperava.
Sei bem que pode estar sendo tudo muito frustrante para você que imaginava que Théo e Thales trariam ainda mais aventura para nosso dia-a-dia e que tudo seria bem mais legal com eles junto de nós. Sim, você esperava que eles já soubessem brincar, que te fizessem companhia, não é? Seria bem legal se fosse assim, mas a vida é diferente. Eles chegaram junto de nós ainda muito pequenos e precisam que estejamos atentos às necessidades deles, cuidando para que cresçam bem e possam, no futuro, se tornarem crianças alegres e saudáveis como você.
Tudo que você desejou vai chegar, mas precisamos esperar e isso nem sempre é uma coisa fácil para um menino como você que ainda tem seis anos. Tão crescido para desejar irmãos e, ainda, tão pequeno para lidar com a chegada de uma duplinha completamente diferente das suas idealizações. Saiba que a mamãe, sendo adulta, compreende tudo que sentes e que respeita cada um dos teus sentimentos como legítimos e verdadeiros.
Eu sei que há milhares de crianças que estão vivendo isso que você vive neste exato momento, mas isso não faz com que eu julgue que seu sofrimento é menor por ser comum. Na verdade, apesar da alegria enorme que sinto agora pela chegada de seus irmãos, eu também me sinto, muitas vezes, arrasada em saber que sofres e se arrependes de ter desejado tanto ter irmãos. Muitas vezes, fico dividida querendo que meu tempo se triplique para que eu possa ser inteira integralmente para cada um de meus filhos. Infelizmente, não consigo e aprender a dividir minha atenção e meu tempo será algo que terei que aprender com vocês.
Imagino que essa parte seja, particularmente, mais difícil para você. Théo e Thales nunca me tiveram somente para eles, aprendendo a me dividir desde o pouco espaço que eu tinha para eles na vida intrauterina. Você não, não é filho? Você me teve, por seis anos, exclusivamente para você.
Teu sofrimento e tudo que te envolve, meu amor, me diz respeito e mexe comigo. Se estais feliz eu estou feliz, e se estais triste, mesmo o momento sendo único, eu fico triste também e me ocupo em pensar como posso te fazer entender melhor o momento e o quanto é mágico tudo que estamos vivendo. Sim, Théo e Thales vão crescer, mas isso requer tempo. Théo e Thales dividem, apenas, meu tempo contigo, mas eles trouxeram como eles para mim uma capacidade ainda maior de amar e hoje eu sou capaz de amar cada um de vocês três ainda mais intensamente.
Como não posso te arrancar a frustração, eu queria apenas te ajudar a perceber, como você mesmo já me disse, que irmãos são os presentes mais preciosos que podemos receber. Te falo isso com segurança porque tenho duas irmãs que são as pessoas que mais amo e as únicas que tenho certeza que estarão sempre comigo, mesmo uma morando no outro lado do oceano lá na terra da rainha.
Quero te dizer, também, que a chegada de seus irmãos não diminui em nada o amor que sinto por você e que tu terás, eternamente, um lugar muito especial na minha vida materna, por ter sido tu quem me ensinou a ser mãe. Seus irmãos serão sempre gratos a ti por isso.
Queria te dizer, ainda, que tudo isso que vivemos hoje será muito pequeno diante de tudo que viveremos juntos e que nós cinco (eu, você, papai e os gêmeos), de agora em diante, teremos a certeza de que nunca estaremos sozinhos, porque somos uma família que se ama e se cuida. Oh, meu Tom, que alegria eu sinto em saber que te dei o presente de ter dois irmãos para chamar de seus e conviver cuidando e respeitando. Por mais que hoje seja difícil perceber a grandeza disso, no futuro tu vais saber bem do que estou falando.
Sim, dizer que será pequeno não significa dizer que seja pequeno hoje. Neste domingo, que tu querias tanto a minha companhia para sair e passear, sei que não a ter é um grande problema e reconhecer seu sofrimento é algo que eu nunca quero deixar de fazer. Obrigada por estar comigo nesta vida para vivermos junto a chegada desses novos amores. Obrigada, mais ainda, por me mostrar que a vida é bem ambivalente e que podemos não nos sentir amados mesmo quando o outro julga nos dar todo amor do universo.
Vamos em frente superando os obstáculos e construindo o amor que une nós cinco para sempre! Te amo, meu ontem pequeno e hoje grande Tom.


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