segunda-feira, 4 de junho de 2012

Generosidade não pode ser circunstancial


Estava eu estudando estes dias quando tive o privilégio de ler no livro da minha querida professora Luciene Tognetta a seguinte reflexão:

 Eis como uma amiga me contou a história passada com sua filha:
 Preocupada com sua demora em chegar da escola, eu estava aborrecida quando ela finalmente apareceu. Com a voz zangada, pedi a ela que explicasse a razão do atraso.
Ela disse:
- Mamãe, eu estava vindo a pé com a Julie, quando, no meio do caminho, ela deixou cair a boneca, que se partiu em mil pedaços.
- Ah, meu bem – respondi- você se atrasou porque foi ajudar Julie a tentar colar os pedaços da boneca.
Com sua vozinha inocente minha filha me disse:
- Não, mamãe. Eu não sabia como consertar a boneca. Só fiquei lá para ajudar a Julie a chorar.
(Dan Clark)


Com os olhos marejados eu quase não consegui terminar de ler o texto e comecei a refletir que o tema da generosidade estava aparecendo, de forma recorrente, nos meus dias. Dias atrás, por exemplo, meu querido e amado orientador Fernando Andrade (mesmo tendo concluído o mestrado ele ainda é meu orientador e será sempre) me perguntou o que de melhor eu tinha aprendido com meu pai. Na hora eu pensei e, de forma rápida, respondi: aprendi a ser uma pessoa generosa. Ah, isso meu pai sabia ser!


Quem nunca chegou à minha casa e não comeu um pãozinho torrado por ele? Quem de nossa família nunca foi levado ao trabalho, à faculdade ou à qualquer canto por ele, que ainda se sentia lisonjeado em nos dar carona? Luizinha, quer seu leite? Até mesmo a Amanda, que ele sabia que não tomava café de manhã, ele dirigia a pergunta: o que queres que eu faça para você, minha filha?
Quantas manhãs meu telefone tocava e era ele: “minha filha, como Tomazinho passou a noite?” E eu respondia: “passou bem, pai”! E ele desligava... Não era nada, ele queria apenas saber como estávamos.
Meu pai sempre foi assim. Isso eu não tenho dúvidas: generosidade aprendi com ele. Ainda bem. Penso isso porque se tem algo que eu acho horrível é quem não sabe compartilhar, quem pensa que o mundo é seu próprio umbigo e não divide as coisas com os outros. Infelizmente nesse mundo tem gente que dá mais valor as coisas do que as pessoas.
É por isso que hoje no café da manhã, quando surgiu o tema do que queríamos que Tomaz fosse quando crescesse eu não tive dúvidas: um homem generoso. Tudo o mais de sua vida será escolha sua, mas a generosidade, a honestidade, a solidariedade, ou seja, as virtudes, isso não vou esperar ele crescer para tomar essa decisão. Essa escolha eu já fiz desde antes dele nascer e, é por isso, que tenho pensado tanto nas virtudes: hoje, mais do que nunca, tenho a responsabilidade de educar!
Alguém pode estar se perguntando: será que eu posso escolher isso por ele? Com certeza não! Mas posso escolher tomar atitudes que favoreçam a sua formação moral e fazer da minha casa um ambiente no qual ele aprenda a cooperar, tendo oportunidade de desenvolver uma personalidade ética. Ética, o que é ética? Ah, essa palavra tão pequena e cheia de significados quer dizer uma vida boa para e com o outro em instituições justas.
Como desejo que Tomaz seja uma criança, um adolescente, um jovem e um homem capaz de reconhecer que a vida dele só pode ser boa para e com o outro em instituições justas. Para ele reconhecer isso, eu terei que fazer a minha parte: oferecê-lo uma educação na qual o outro tenha valor, na qual a justiça seja um ideal de vida!
Não apenas eu posso fazer isso: todos nós que temos o privilégio de educar (sendo pai, mãe ou professor e professora) podemos fazer isso. Temos que tomar essa decisão: formar meninos que sejam melhores para si e para o mundo.
Para isso, precisamos compreender que a virtude não é circunstancial. Algumas pessoas dizem: “vou ensinar meu filho a dividir apenas com quem divide com ele...” “Vou permitir que meu filho empreste o lápis na escola apenas aos garotos que são cuidadosos. Aquele menino que todo dia esquece o lápis, ah, a esse eu não vou deixar ele emprestar não!”  Quando escuto esse tipo de afirmação eu fico triste e penso, isso não fará parte da vida de Tomaz.
Quanto erro temos cometido ao educar! Não podemos educar os nossos filhos desenvolvendo neles a crença de que a solidariedade ou qualquer outra virtude é circunstancial ou seletiva. Não posso ser bom apenas para mim ou para poucos ao meu redor. Essa forma de ser não é ética.
O que eu quero mesmo é que Tomaz aprenda que, sendo melhor para o outro ele está sendo melhor para ele próprio. Eu desejo, de fato, que isso seja introjetado em sua personalidade. Não quero isso apenas para que Tomaz seja considerado bonzinho. Desejo isso, sobretudo, para que ele possa ser feliz! (esse é o desejo de toda mãe: ver seu filho feliz). Mas o que tem a ver ser generoso e feliz? Comte-Sponville, citando Spinoza, afirma que “o amor é a felicidade e a generosidade é o caminho”.  
É por isso que tenho que apresentar esse caminho ao meu filho. Por isso, tentarei fazer com que Tomaz aprenda que o prejuízo de ter um lápis quebrado por um colega é menor do que o benefício de ter ajudado alguém... Tenho essa dívida com ele porque isso eu pude aprender com meu pai, vivendo em uma família que sempre favoreceu o compartilhar: eu faço parte de uma família de pessoas generosas: mãe, pai, irmãs, sobrinhas... Atém mesmo o cunhado, que chegou na família de repente, é uma das pessoas mais generosas que pude conhecer.
GENEROSIDADE: Isso eu aprendi. Por isso, espero conseguir fazer pelo meu filho aquilo que meu pai fez por mim: ajudá-lo a ser alguém melhor, por ele mesmo e não em função do contexto. Assim, se um dia Tomaz se atrasar na volta da escola porque ajudou alguém a chorar, eu também chorarei, mas de alegria, tendo a certeza de que minha missão foi cumprida.

5 comentários:

  1. Lindo Catarina! Assim espero fazer com meus pequenos uma vez que escolhi que eles serão Felizes!, agora vc me lembrou qual o caminho! :)

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    1. Oh, Marina, que bom que gostou! Espero que no mundo, cada vez mais gente, encontre esse caminho da felicidade.

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  2. Tomaz será um grande homem. O nosso anjinho nasceu com muita sorte, tenho certeza que apesar de ter convivido apenas alguns meses com vovô, ele vai ter muito orgulho. Assim como eu tenho. E você, me detona sempre no modo e no que escreve, parabéns pelo texto, Gatinha!

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    1. Meu amor, você é que me detona com a sua existência em minha vida! Te amo!

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  3. Como pessoa generosa que você é, Tomaz vai viver e praticar essa virtude no dia-a-dia!

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