Estava eu estudando estes
dias quando tive o privilégio de ler no livro da minha querida professora
Luciene Tognetta a seguinte reflexão:
Eis como uma amiga me contou a história passada com sua
filha:
Preocupada com sua demora em chegar da escola,
eu estava aborrecida quando ela finalmente apareceu. Com a voz zangada, pedi a
ela que explicasse a razão do atraso.
Ela disse:
- Mamãe, eu estava
vindo a pé com a Julie, quando, no meio do caminho, ela deixou cair a boneca,
que se partiu em mil pedaços.
- Ah, meu bem –
respondi- você se atrasou porque foi ajudar Julie a tentar colar os pedaços da
boneca.
Com sua vozinha
inocente minha filha me disse:
- Não, mamãe. Eu não
sabia como consertar a boneca. Só fiquei lá para ajudar a Julie a chorar.
(Dan Clark)
Com os olhos marejados eu
quase não consegui terminar de ler o texto e comecei a refletir que o tema da
generosidade estava aparecendo, de forma recorrente, nos meus dias. Dias atrás,
por exemplo, meu querido e amado orientador Fernando Andrade (mesmo tendo
concluído o mestrado ele ainda é meu orientador e será sempre) me perguntou o
que de melhor eu tinha aprendido com meu pai. Na hora eu pensei e, de forma
rápida, respondi: aprendi a ser uma pessoa generosa. Ah, isso meu pai sabia ser!
Quem nunca chegou à minha
casa e não comeu um pãozinho torrado por ele? Quem de nossa família nunca foi
levado ao trabalho, à faculdade ou à qualquer canto por ele, que ainda se
sentia lisonjeado em nos dar carona? Luizinha, quer seu leite? Até mesmo a
Amanda, que ele sabia que não tomava café de manhã, ele dirigia a pergunta: o
que queres que eu faça para você, minha filha?
Quantas manhãs meu telefone
tocava e era ele: “minha filha, como Tomazinho passou a noite?” E eu respondia:
“passou bem, pai”! E ele desligava... Não era nada, ele queria apenas saber como
estávamos.
Meu pai sempre foi assim.
Isso eu não tenho dúvidas: generosidade aprendi com ele. Ainda bem. Penso isso
porque se tem algo que eu acho horrível é quem não sabe compartilhar, quem
pensa que o mundo é seu próprio umbigo e não divide as coisas com os outros. Infelizmente
nesse mundo tem gente que dá mais valor as coisas do que as pessoas.
É por isso que hoje no café
da manhã, quando surgiu o tema do que queríamos que Tomaz fosse quando
crescesse eu não tive dúvidas: um homem generoso. Tudo o mais de sua vida será
escolha sua, mas a generosidade, a honestidade, a solidariedade, ou seja, as
virtudes, isso não vou esperar ele crescer para tomar essa decisão. Essa
escolha eu já fiz desde antes dele nascer e, é por isso, que tenho pensado
tanto nas virtudes: hoje, mais do que nunca, tenho a responsabilidade de
educar!
Alguém pode estar se
perguntando: será que eu posso escolher isso por ele? Com certeza não! Mas posso
escolher tomar atitudes que favoreçam a sua formação moral e fazer da minha
casa um ambiente no qual ele aprenda a cooperar, tendo oportunidade de
desenvolver uma personalidade ética. Ética, o que é ética? Ah, essa palavra tão
pequena e cheia de significados quer dizer uma vida boa para e com o outro em
instituições justas.
Como desejo que Tomaz seja
uma criança, um adolescente, um jovem e um homem capaz de reconhecer que a vida
dele só pode ser boa para e com o outro em instituições justas. Para ele
reconhecer isso, eu terei que fazer a minha parte: oferecê-lo uma educação na
qual o outro tenha valor, na qual a justiça seja um ideal de vida!
Não apenas eu posso fazer
isso: todos nós que temos o privilégio de educar (sendo pai, mãe ou professor e
professora) podemos fazer isso. Temos que tomar essa decisão: formar meninos
que sejam melhores para si e para o mundo.
Para isso, precisamos
compreender que a virtude não é circunstancial. Algumas pessoas dizem: “vou
ensinar meu filho a dividir apenas com quem divide com ele...” “Vou permitir
que meu filho empreste o lápis na escola apenas aos garotos que são cuidadosos.
Aquele menino que todo dia esquece o lápis, ah, a esse eu não vou deixar ele emprestar
não!” Quando escuto esse tipo de
afirmação eu fico triste e penso, isso não fará parte da vida de Tomaz.
Quanto erro temos cometido
ao educar! Não podemos educar os nossos filhos desenvolvendo neles a crença de
que a solidariedade ou qualquer outra virtude é circunstancial ou seletiva. Não
posso ser bom apenas para mim ou para poucos ao meu redor. Essa forma de ser
não é ética.
O que eu quero mesmo é que
Tomaz aprenda que, sendo melhor para o outro ele está sendo melhor para ele
próprio. Eu desejo, de fato, que isso seja introjetado em sua personalidade. Não
quero isso apenas para que Tomaz seja considerado bonzinho. Desejo isso,
sobretudo, para que ele possa ser feliz! (esse é o desejo de toda mãe: ver seu
filho feliz). Mas o que tem a ver ser generoso e feliz? Comte-Sponville,
citando Spinoza, afirma que “o amor é a felicidade e a generosidade é o caminho”.
É por isso que tenho que
apresentar esse caminho ao meu filho. Por isso, tentarei fazer com que Tomaz
aprenda que o prejuízo de ter um lápis quebrado por um colega é menor do que o
benefício de ter ajudado alguém... Tenho essa dívida com ele porque isso eu
pude aprender com meu pai, vivendo em uma família que sempre favoreceu o
compartilhar: eu faço parte de uma família de pessoas generosas: mãe, pai,
irmãs, sobrinhas... Atém mesmo o cunhado, que chegou na família de repente, é
uma das pessoas mais generosas que pude conhecer.
GENEROSIDADE: Isso eu
aprendi. Por isso, espero conseguir fazer pelo meu filho aquilo que meu pai fez
por mim: ajudá-lo a ser alguém melhor, por ele mesmo e não em função do contexto.
Assim, se um dia Tomaz se atrasar na volta da escola porque ajudou alguém a
chorar, eu também chorarei, mas de alegria, tendo a certeza de que minha missão
foi cumprida.
Lindo Catarina! Assim espero fazer com meus pequenos uma vez que escolhi que eles serão Felizes!, agora vc me lembrou qual o caminho! :)
ResponderExcluirOh, Marina, que bom que gostou! Espero que no mundo, cada vez mais gente, encontre esse caminho da felicidade.
ExcluirTomaz será um grande homem. O nosso anjinho nasceu com muita sorte, tenho certeza que apesar de ter convivido apenas alguns meses com vovô, ele vai ter muito orgulho. Assim como eu tenho. E você, me detona sempre no modo e no que escreve, parabéns pelo texto, Gatinha!
ResponderExcluirMeu amor, você é que me detona com a sua existência em minha vida! Te amo!
ExcluirComo pessoa generosa que você é, Tomaz vai viver e praticar essa virtude no dia-a-dia!
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