domingo, 4 de março de 2012

Qualquer roteiro é apenas uma referência


Um bebê muda a vida dos pais, familiares e amigos para sempre. Quando é planejado e desejado, vem ainda mais cheio de expectativas.
As expectativas são indispensáveis, porque dão aos pais uma referência básica sobre que pessoa é o bebê. Na verdade, o bebê está se tornando uma pessoa, ele ainda não é totalmente, do ponto de vista psicológico, já que seus processos psíquicos adaptam-se e fazem-se na medida em que o mundo estimula os sistemas orgânicos, os afetos e sua cognição.
Por isso, é muito importante que, em meio a momentos difíceis, em que a saúde do bebê torna-se causa de preocupação, que tais expectativas sejam mantidas e flexibilizadas, ao mesmo tempo.
Mantidas, porque os pais precisam continuar desejando esse bebê, ao mesmo tempo em que desejando pela criança (que somente começa a motivar-se psiquicamente em direção a uma autonomia mínima). Os pais precisam fazer pelo bebê o que o pequeno ainda não é capaz de dar conta sozinho. Em tempos de sofrimento, isso pode ser especialmente difícil, já que não há, de início, o retorno, ou seja, a correspondência direta, total e imediata da criança às expectativas evolutivas, afetivas e/ou cognitivas dos adultos que dele cuidam e que o amam.
Flexibilizadas, porque nenhuma expectativa é plenamente realizada, seja para menos, seja para mais. O bebê tem vida própria, sobretudo do ponto de vista orgânico e, já também, psíquico, de modo que sua nascente individualidade pode, gradualmente, fugir aos planos parentais. A flexibilização do roteiro presumido ajuda a entender que qualquer roteiro é apenas uma referência e que, se o bem-estar orgânico for pouco a pouco adquirido, o bebê também ensinará a seus pais o segredo de fazerem-se pais da criança.
Se não há receita para a serenidade em momentos de angústia em face das dificuldades em cuidar de um bebê doente, os princípios da manutenção e flexibilização das expectativas são importantes, porque ajudam a reforçar a autoconfiança dos pais, a convicção de que seu bebê ultrapassará as dificuldades e será capaz de tornar-se forte e saudável, além de dissipar muitas das eventuais culpas que possam emergir quando o neném está mais vulnerável.

Dr. FERNANDO ANDRADE
Psicólogo, Psicanalista, doutor em educação
Professor do curso de Pós-graduação em Educação da UFPB

3 comentários:

  1. Excelente texto! Certamente foram minhas expectativas e certezas quanto a força de Rafael que me fizeram otimista e confiante nos 12 dias de UTIN após seu nascimento! Nossos filhos já nasceram como grandes e fortes vencedores!

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  2. É isso mesmo, Paloma. Mas ao mesmo tempo em que mantemos nossas expectativas, precisamos, também, flexibilizá-las Isso porque nossos filhos, nem sempre, correspondem ao que planejamos para eles. É esse o desafio! Apenas dando conta de manter e flexibilizar continuamos ativas ao ponto de não desistir e equilibradas ao ponto de não enlouquecer.

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  3. É verdade! Atividade difícil essa, hein! :) Mas extremamente prazerosa. Sem falar que a medida que eles crescem, nós crescemos também. Mesmo sendo o 1º, 2º, 3º...15º filho! As experiências, expectativas, certezas e descobertas são únicas. E cada um deixa uma aprendizado diferente para a mamãe.
    Estou adorando o blog! Parabéns! Xero

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