Comecei
uma nova fase de minha vida profissional: agora sou professora universitária. Recentemente
aprovada num concurso público, me vi ontem cheia de sentimentos ambivalentes em
meu primeiro dia de trabalho: culpa X alegria; tristeza X realização;
satisfação x angústia.
Passei
minha vida lutando por um objetivo e esta semana, finalmente, foi atingido.
Mesmo assim, após mais de 17 anos de estudo entre graduação, especializações,
mestrado e doutorado, me via as vias com sentimentos contraditórios que faziam
a danada da satisfação plena não me dominar.
Isso
porque serei professora em uma cidade do interior e, como as aulas são
noturnas, terei que dormir alguns dias da semana longe de meu pequeno. Dessa
falta que sinto, somada a culpa por estar longe, vem um sentimento que teima em
querer me fazer sentir mal, em me sentir culpada.
Levante
a primeira pedra a mãe que nunca sentiu culpa! Todas nós sentimos. Aquelas que
estão sempre fora... Aquelas que estão sempre perto. As que trabalham, as que
cuidam dos filhos em tempo integral... Todas nós sentimos culpa.
Buscando
ajuda para superar esta crise, uma primeira reflexão veio a minha mente: mãe
também é gente! Com isso, entendi que mães podem ser (e devem ser),
profissionais, mulheres, amigas e outros papéis que desejarem desempenhar.
Preciso
me sentir bem e realizada em minha vida profissional, para que consiga, também,
estar legal com meu Tom nos nossos muitos momentos juntos. Não terei mais as
noites todas colocando ele para dormir (ele adora ouvir canções de ninar e
receber massagem nestas horas), mas terei dias ao seu lado, coisa que antes não
podia usufruir. Poderei acompanhar tarefas, fazer salgadinho de queijo à tarde
e, até mesmo, levá-lo um dia por semana ao Judô e à Natação. Faremos destes
momentos os melhores possíveis.
Além
disso, pensei: eu não sou a única responsável pelo bem-estar do pequeno. Com
isso, nos dias que eu estarei fora, ele poderá contar com o apoio, amor e
carinho do pai, que é igualmente responsável pelo seu desenvolvimento e
felicidade. Como não sou a responsável integral pelo pequeno, dividir com meu
marido ajuda, também, ao exercício de uma paternidade saudável e feliz.
Isso
porque, as massagens, a canção de ninar e o chamego que Tomaz ama na hora de
dormir podem ser, facilmente, exercidos pelo pai e sua afetividade, estreitando
os vínculos entre os dois cada vez mais.
Além
disso, preciso, também, superar minha fantasia onipotente de que apenas eu faço
tudo certo e melhor com Tomaz. Esse garotinho especial tem uma sorte danada:
ele tem duas avós que se dedicam demais a ele, um pai presente e participativo,
uma madrinha sempre a postos e ainda conta com Janaína, uma pessoa ímpar que
cuida dele desde seu nascimento.
Todas
estas pessoas fazem com ele tudo que é necessário, cuidando e amparando da
melhor forma que elas podem. Com isso, eu posso me trabalhar para abandonar
qualquer expectativa de perfeição que eu busquei na minha maternidade
idealizada e me reconhecer como boa mãe mesmo sem cozinhar todas as refeições
do meu filho com material orgânico e sem estar sempre ao seu lado para
identificar o menor sinal de desamparo.
Além
disso, outra forma muito legal de trabalhar minha culpa está sendo dizer a
Tomaz tudo que nós sentimos. Digo a ele que preciso e gosto de trabalhar, que
me realizo como professora e que para mim é importante ensinar outras pessoas.
Digo que quando não estou com ele sinto sua falta (o que é verdade) e que
sempre volto para matarmos a falta que sentimos um do outro.
Numa das vezes que fui viajar ele me disse: “eu não gosto que você é uma mamãe viajenta!” Ao
ouvi-lo dizer isso, eu reconheci o sofrimento dele, disse que imaginava o quanto ele
não gostava, mas reforçava que a mãe dele era assim, “viajenta”
mesmo, porque ela precisa e queria trabalhar, porque gostava de fazer isso. Disse-lhe,
também, que sou uma mãe que está sempre disponível para ele, mesmo longe, e que
amo ele demais!
Acho que ele entendeu parcialmente. Aos poucos vai entendendo cada vez mais. Mas de uma
coisa eu tenho certeza: quando estamos juntos eu sou dele! Toda dele! Ele sabe
disso. Sabe que essa mãe que ele tem, do jeito que pode, é a melhor mãe que
consegue ser, mesmo, às vezes, estando cheia de culpa por ser tão “viajenta”.
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