Sempre que falamos em maternidade
vem a mente um discurso romântico e idealizado. Poucas vezes ouvimos pessoas
falarem nas dificuldades que enfrentamentos no exercício materno e de como
precisamos de sororidade e acolhimento para compreendemos os nossos papéis e
encontrarmos formas de exercermos uma maternidade saudável e feliz.
Se é preciso acolhimento numa
maternidade quando a viagem percorre o “guia esperado” imagina quando o destino
que se chega é diferente daquele idealizado previamente? Muitas mães vivem isso
em suas maternidades de crianças com deficiência, precisando descobrir seus
roteiros quando o avião já aterrissou.
Este mês vivemos dedicados a
conscientização do autismo infantil, data na qual se busca conscientizar a
população mundial sobre este transtorno que
atinge 70 milhões de
pessoas em todo o mundo. Estatísticas mais recentes apontam que uma a
cada 45 crianças esteja dentro do espectro autista.
Ao pensar nessa população toda
devemos pensar, também, naqueles e naquelas que estão as suas voltas e que
cuidam, amam e protegem todos eles. Devemos pensar, em especial, nas mães
dessas crianças que se enchem de coragem e força para educar suas crianças e
adolescentes com todo amor que possuem, se omitindo (muitas vezes) e
enfrentando uma luta diária muitas vezes solitária.
Márcia Basílio, mãe de um
jovem com autismo, diz que “o primeiro impacto do diagnóstico é a angústia pelo
futuro, porém, a medida que caminhamos, começa o crescimento de um amor sem
limites, que supera a dor na busca de um futuro melhor. O medo dá lugar a
alegria de cada conquista, de cada vitória alcançada. Chorar é natural, somos
humanos, mas superar é necessário para seguirmos em frente, pois nada na vida é
definitivo, e o amor tudo pode".
Andréa, mãe de Xandinho, chama
atenção para como sua vida seria se não tivesse seu pequeno, destacando que se
vê tão centrada e forte, aprendendo a valorizar pequenas coisas, pequenos
avanços, todos os dias. Ela diz, ainda,: “me distanciei de futilidades e sempre
me vejo diminuindo situações que poderiam ser problemas”!
Mesmo cheias de forças, essas
mães precisam, também, serem cuidadas. Se na maternidade já sentimos medo das
incertezas do futuro, na maternidade especial este medo se potencializa. É por
isso que devemos, sempre, acolher estas mães em suas dificuldades, angústias e
medos, nos doando na colaboração diante de suas dificuldades e colaborando no
cuidado com seus filhos. (posso te ajudar? Há algo que possa fazer para que
você descanse um pouco?)
Pensando nisso que eu refleti
sobre algumas coisas que uma mãe de autista gostaria de dizer as outras mães,
para que nos sensibilizemos e consigamos nos colocar no lugar do outro educando
uma geração mais respeitosa e justa. Para tal reflexão usei de minha empatia, mas, também, da escuta de mães de crianças e jovens autistas que me enriqueceram com suas vivências e experiências. A elas, minha gratidão.
1- Eu amo
meu filho e sei que ele precisa de mim, mas as vezes estou cansada, estressada
e/ou doente e gostaria (preciso) que alguém me ajudasse nos cuidados físicos e
afetivos que preciso ter diariamente com ele.
2- Tomar
banho, almoçar e outras coisas que são difíceis quando temos um bebê podem se
manter difíceis por toda vida quando temos uma criança autista. As vezes
gostaria que você me ajudasse para que eu fizesse estas coisas cotidianas com
tranquilidade.
3- Eu queria muito que você ensinasse aos seus
filhos que os nossos desafios são diários, mas que com muito amor, terapia e
foco conseguimos avanços (Andréa, mãe de Xandinho). Nossa rotina, por isso, é
árdua e não teremos mais muito tempo para outras coisas. Sendo minha amiga, não
fique chateada quando não estiver muito disponível para encontros ou passeios
(mas não deixe de me convidar por isso).
4- Saibam que em casa é muito importante instruir
os filhos a respeitar as diferenças, ter paciência com o amigo autista, pois ele
compreende praticamente tudo, mesmo não conseguindo se expressar. A base que se
dá em casa é muito importante para a convivência na escola e na vida. Sou mãe
igual às outras mães de criança típicas, minha luta é que a tolerância seja
exercida assim como o respeito. (Andréa, mãe de Xandinho).
5- As
mães dos autistas não são diferentes das outras mães. Também sou mãe de uma não
autista, e a experiência me mostra que o medo pelo futuro de um filho é
independente de sua condição. O amor é o mesmo. (Márcia, Mãe de Ysrael).
6- Não
deixem nossos filhos no anonimato. Mostrem aos seus filhos que há outras
crianças que são diferentes deles e que, mesmo assim, é possível conviver
respeitosamente. Ensine-os formas de comunicação alternativa, acolhimento e
respeito (Carol, mãe de Bruno).
7- Nunca
deixe de convidar nossos filhos para os aniversários dos seus. Mesmo que não consigamos
ir por conta de nossas crianças, muitas vezes, não tolerarem barulho ou
multidão, nos sentiremos felizes e acolhidas em recebermos os convites.
8- Não
falte ao aniversário dos nossos filhos. Eles podem não conseguirem expressar a
satisfação em recebê-los, mas são capazes de experimentar uma alegria imensa
com suas presenças. Respeito, generosidade, amor, alteridade e empatia são palavras-chave, como ressalta Vládia, mãe de Francisco.
9- Aprender
a cantar, falar, ou andar de bicicleta pode ser algo simples em sua casa, mas
na minha é uma vitória. "As crianças são capazes de coisas surpreendentes" (Iara, mãe de Clarice). Por isso, não estranhe se eu falar com entusiasmo dessas
coisas, pois, para nós, elas são muito importantes.
10- Saiba
que, assim como você, eu também vivo uma maternidade cheia de medo, de culpa,
de insegurança. Por isso, se quiser compartilhar comigo as suas questões, me deixará
mais livre para compartilhar as minhas também: ouça-as com atenção e interesse.
Tudo que li aqui é muito importante para nós mães de autistas...Precisamos de cuidados assim todas as mães mas para nós a maternidade é um pouco mais difícil. Familiares podem nos ajudar no dia a dia por que para nós coisas simples como tomar um banho ou arrumar os cabelos muitas vezes se torna complicado nosso tempo é dedicado com nossas crianças que por ser autista precisa de mais cuidados do que as outras crianças, então se vc tem uma familiar que tenha uma criança autista ou com alguma deficiência ajude,se oferça pra ficar com a criança enquanto a mãe descansa um pouco ou mesmo toma um banho...Seja solidário, se ponha no lugar do seu parente.
ResponderExcluirVocê falou a palavra chave, Elizangela: solidariedade. Que consigamos, cada um exercê-la.
ExcluirNa minha opinião e experiência a família toda está empenhada na vida do filho. Neto, sobrinho.
ExcluirTudo que faz é um avanço, uma alegria
Ás!vezes sinto como se o"problema" fosse só meu é bem complicado contar com outras pessoas, são tão atarefados com suas prioridades que fica complicado olhar ao lado. Se quero um banho mais tranquilo, madrugo para isso.Sou insulinodependente, tomo 4 por dia, além de monitorar a glicemia diariamente duas vezes. Por vezes sou surpreendida por uma hipoglicemia, não é raro passar da hora de me alimentar. assim sendo, muito ainda precisar para a conscientização acontecer.
ResponderExcluirSandra, receba meu carinho e compreensão. Imagino como se sente. Torço que tenhas sorte na caminhada e apoio.
Excluir:) <3
ExcluirMinha luta é incansável tenho 2 crianças dentro do espectro autista logo no primeiro diagnóstico meus familiares mais próximos se afastaram de mim,me causou grande sofrimento eu espera que eles me apoiassem pois sempre estive ao lado deles em todos os momentos...depois de um certo tempo me tornei forte e hoje me sinto forte enfrentando os desafios do dia á dia,levando as crianças pras terapias a única pessoa com quem posso contar de verdade é meu esposo meu único companheiro nessa luta.
ResponderExcluirQue bom que podes contar com seu esposo. Que continuem assim.
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