terça-feira, 25 de abril de 2017

O jogo da Baleia Azul sob o olhar atento de quem educa


Um jogo que surge na Rússia em 2015 e, a partir de uma fake news (notícia falsa), se espalha na internet... 
Pais e professores se assustam e ficam amedrontados com as notícias e com a possibilidade de seus filhos “jogarem” o Baleia Azul. 
Mas, o que leva jovens a participarem de um jogo com uma sucessão de etapas e tarefas que causam dor e riscos; que levam a uma preparação cruel ao suicídio?
O jogo é um caso de cyberagressão, pois os “curadores” procuram os alvos certos, frágeis. Há etapas que são comuns a todos os jogadores. Mas há aquelas que são escolhidas para cada um dos pobres participantes que, ao entrarem, são obrigados pelo medo e pela imposição dos curadores a permanecerem no jogo.
E quem são os alvos? 
Ainda pela novidade do fenômeno, pouco sabemos de suas características. Ao que tudo indica, podem ser meninos e meninas que não possuem uma autoimagem positiva, não se sentem valor e, portanto, são frágeis psicologicamente, não conseguindo enfrentar a situação sofrida e que parecem precisar provar para si mesmo o quanto têm valor.  Esses, muitas vezes fascinados pela ideia da própria superação, parecem se submeter aos castigos físicos e psicológicos impostos a si mesmos como uma espécie de resgate de seus valores.
O fato é que a preocupação dos pais é relevante. Família e escola, duas instituições responsáveis pela educação do ser humano, ainda que possuam papéis diferentes, precisam intervir.  
        Infelizmente com fatalidades reais, esses casos podem nos alertar sobre as formas com que estamos educando nossos filhos, ou melhor, qual o “estilo” de educação estamos adotando na difícil tarefa de formar meninos e meninas.  
        Certamente, o estilo de educação parental interfere no comportamento e maneira de agir dos filhos e filhas. A dinâmica da família, os estilos de educação dos pais e das mães podem converter-se em fatores protetores ou de risco para crianças e adolescentes, podendo ser autores ou alvos de bullying. 
Apresentemos, resumidamente, cada um deles, já amplamente descritos na literatura da Psicologia:  
1.   Pais que adotam um estilo permissivo: valorizam o afeto e o diálogo, mas estabelecem pouquíssimas regras, limites ou responsabilidades às crianças; cedem constantemente às suas exigências.  
As consequências: as crianças e adolescentes tendem a ser impulsivos e imaturos, com pouco autocontrole e responsabilidade social.  
2.   Pais que adotam um estilo negligente: há ausência de envolvimento dos pais na vida dos filhos, pouca demonstração de afeto e pouca imposição de regras e limites; seus interesses são centrados em suas próprias necessidades.  
Consequentemente... os filhos e filhas tendem à depressão, baixa autoestima, insegurança e são mais vulneráveis ao uso de drogas, atos infracionais, alto nível de agressividade, dificuldades escolares e sociais. 
3.   Pais que adotam um estilo autoritário: os pais são pouco afetuosos e comunicativos, rígidos, controladores e muito exigentes, valorizando a obediência às normas e às regras por eles definidas sem qualquer explicação para os filhos; diante da transgressão, fazem uso de ameaças e do castigo físico.  
Por consequência: os filhos tendem à timidez, apreensão, conformismo e diminuição da autoestima, tendo dificuldades para emitir opiniões, argumentar, tomar decisões, resolver seus conflitos de forma satisfatória para todos, expor e discutir seus sentimentos. Podem apresentar baixo índice de habilidade social, rebeldia; convivem com problemas relacionados à depressão.  
4.   Pais que adotam um estilo autoritativo: não deixam de ser a autoridade da relação, mas possibilitam a participação do (a) filho (a) na construção de determinadas regras, oferecendo oportunidades para que faça pequenas escolhas e negocie com o adulto; pais participativos que mantêm uma relação de equilíbrio e respeito compreendem as necessidades e opiniões de seus filhos; diante de uma situação de conflito, os pais oportunizam o pensar e incentivam a busca de uma melhor forma de agir sem prejudicar a si e ao outro.  
Consequências: filhos que, como todos, têm conflitos, mas os enfrentam com autocontrole e assertividade.  

Todos nós sabemos que a família tem papel importante no fortalecimento de meninos e meninas para não serem vítimas e agressores de bullying; necessitam de uma educação que os direcionem a admirar valores morais tão desejáveis como o respeito, a tolerância e a justiça e não o poder sobre o outro, ou a não aceitação da diferença. Falhamos, corrigimos, revemos e voltamos a atuar... este é o sentido de educar. As características destacadas têm exatamente esse objetivo: que possamos refletir sobre como tem sido nossa relação com os filhos e o quanto temos usado do melhor instrumento humano que pode humanizar: o diálogo.
Feitas tais reflexões, é preciso ainda que, como pais, estejamos atentos a algumas ações que podemos ter:  
- ficar atentos a mudança de comportamento dos filhos (isolamento, irritação, agressividade, resistência a ir à escola, poucos amigos...); 
- ter uma supervisão equilibrada da vida intra e extra escolar e do uso das redes sociais (não com a intenção de vigiar, mas de acompanhamento, preocupação e cuidado); 
- primar por uma comunicação construtiva (espaço para que nossos meninos e meninas possam falar do que sentem e pensam, cuidando para dar a devida consideração a estas dimensões – pois assim podem se sentir respeitados e, ao se sentirem respeitados, podem exigir respeito a si); 
- Falar abertamente do jogo possibilitando a reflexão das consequências e das razões com as quais algumas pessoas sentem a necessidade de aceitar os desafios propostos;
- estabelecer regras claras e constantes, fazendo uso de sanções por reciprocidade que possibilitem a reparação; 
- atribuir limites frente a ações destituídas de valores morais. Comportamentos em que faltam o respeito, a justiça e a tolerância devem ser desaprovados pelos pais, porém pelo diálogo e não pela imposição da força.
- favorecer a empatia, ou seja, a importância de se colocar no lugar do outro e se comover com a sua dor (os pais são referências para seus filhos e, por isso, é preciso pensar: que princípios morais legitimamos em nossa convivência diária?); 
- através de uma educação autoritativa, estabelecer vínculos de confiança na relação com filhos (as) – saber com quem saem, com quem conversam virtualmente ou na vida real.
Sabemos que educar moralmente é papel da família e da escola, que também deve e precisa reavaliar suas condutas na formação de seus alunos. Contudo, como pais que somos, dar o nosso “melhor” é, para nós, condição para que nossos filhos sejam mais equilibrados, justos e felizes.  

Este texto é uma produção do GEPEM- Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Moral e foi escrito pelas pesquisadoras Luciene Tognetta e Sandra de Nadai. 

Para ver mais textos destes profissionais acessem ao site Somos Contra o Bullying






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