Um jogo que surge na Rússia em 2015 e, a partir de uma fake news (notícia falsa),
se espalha na internet...
Pais e professores se assustam e ficam amedrontados com
as notícias e com a possibilidade de seus filhos “jogarem” o Baleia Azul.
Mas, o que leva jovens a participarem
de um jogo com uma sucessão de etapas e tarefas que causam dor e riscos; que
levam a uma preparação cruel ao suicídio?
O jogo é um caso de cyberagressão, pois os
“curadores” procuram os
alvos certos, frágeis. Há
etapas que são comuns a todos os jogadores. Mas há aquelas que são escolhidas
para cada um dos pobres participantes que, ao entrarem, são obrigados pelo medo
e pela imposição dos curadores a permanecerem no jogo.
E quem são os alvos?
Ainda pela novidade do fenômeno, pouco sabemos de suas
características. Ao que tudo indica, podem ser meninos e meninas que não
possuem uma autoimagem positiva, não se sentem valor e, portanto, são frágeis
psicologicamente, não conseguindo
enfrentar a situação sofrida e que parecem
precisar provar para si mesmo o quanto têm valor. Esses, muitas vezes fascinados
pela ideia da própria superação, parecem se submeter aos castigos físicos e
psicológicos impostos a si mesmos como uma espécie de resgate de seus valores.
O fato é que a preocupação dos pais é relevante. Família e
escola, duas instituições responsáveis pela
educação do ser humano, ainda que possuam papéis
diferentes, precisam
intervir.
Infelizmente com
fatalidades reais, esses casos podem nos alertar sobre as formas com que
estamos educando nossos filhos, ou melhor, qual o “estilo” de educação estamos adotando na
difícil tarefa de formar meninos e meninas.
Certamente, o estilo de
educação parental interfere no comportamento e maneira de
agir dos filhos e filhas. A dinâmica da família, os estilos de educação dos
pais e das mães podem converter-se em fatores protetores ou de risco para
crianças e adolescentes, podendo ser autores ou alvos de bullying.
Apresentemos, resumidamente, cada um deles, já amplamente
descritos na literatura da Psicologia:
1. Pais que
adotam um estilo permissivo: valorizam o afeto e o
diálogo, mas estabelecem pouquíssimas
regras, limites ou responsabilidades às crianças; cedem constantemente
às suas exigências.
As consequências: as crianças e
adolescentes tendem a ser impulsivos e imaturos, com pouco
autocontrole e responsabilidade social.
2. Pais que
adotam um estilo negligente: há ausência de
envolvimento dos pais na vida dos filhos, pouca demonstração de afeto e pouca
imposição de regras e limites; seus interesses são centrados em suas próprias
necessidades.
Consequentemente... os filhos e filhas
tendem à depressão, baixa autoestima, insegurança e são mais vulneráveis ao
uso de drogas, atos infracionais, alto nível de
agressividade, dificuldades escolares e sociais.
3. Pais que
adotam um estilo
autoritário: os pais são
pouco afetuosos e comunicativos, rígidos,
controladores e muito exigentes, valorizando a obediência às normas e às regras
por eles definidas sem qualquer
explicação para os filhos; diante da transgressão, fazem uso de ameaças e do castigo
físico.
Por consequência: os filhos tendem
à timidez, apreensão, conformismo e diminuição da autoestima, tendo dificuldades
para emitir opiniões, argumentar, tomar decisões, resolver seus conflitos de
forma satisfatória para todos, expor e discutir seus sentimentos. Podem apresentar baixo índice de habilidade
social, rebeldia; convivem com problemas
relacionados à depressão.
4. Pais que
adotam um estilo autoritativo: não deixam de
ser a autoridade da relação, mas possibilitam a participação do (a) filho (a) na construção de
determinadas regras, oferecendo oportunidades para que faça pequenas escolhas e
negocie com o adulto; pais participativos que mantêm uma relação de
equilíbrio e respeito compreendem as necessidades e opiniões de seus filhos;
diante de uma situação de conflito, os pais oportunizam o pensar e incentivam a
busca de uma melhor forma de agir sem prejudicar a si e ao outro.
Consequências: filhos que, como
todos, têm conflitos, mas os enfrentam com autocontrole e assertividade.
Todos nós sabemos que a família tem
papel importante no fortalecimento de meninos e meninas para não serem vítimas
e agressores de bullying; necessitam de uma educação que os direcionem a admirar
valores morais tão desejáveis como o respeito, a tolerância e a justiça e não o poder sobre
o outro, ou a não aceitação da diferença. Falhamos,
corrigimos, revemos e voltamos a atuar... este é o sentido de educar. As
características destacadas têm exatamente esse objetivo: que possamos refletir
sobre como tem sido nossa relação com os filhos e o quanto temos usado do
melhor instrumento humano que pode humanizar: o diálogo.
Feitas tais reflexões, é preciso ainda que, como pais,
estejamos atentos a algumas ações que podemos ter:
- ficar atentos a mudança de comportamento
dos filhos (isolamento, irritação, agressividade, resistência a ir à escola,
poucos amigos...);
- ter uma supervisão equilibrada
da vida intra e extra escolar e do uso das redes sociais (não com a intenção de vigiar, mas de
acompanhamento, preocupação e cuidado);
- primar por uma comunicação
construtiva (espaço para que nossos meninos e meninas possam falar do que
sentem e pensam, cuidando para dar a devida consideração a estas dimensões –
pois assim podem se sentir respeitados e, ao se sentirem respeitados, podem
exigir respeito a si);
- Falar abertamente do
jogo possibilitando a reflexão das consequências e das razões com as quais
algumas pessoas sentem a necessidade de aceitar os desafios propostos;
-
estabelecer regras claras e constantes, fazendo uso de sanções por reciprocidade
que possibilitem a reparação;
-
atribuir limites frente a ações destituídas de valores morais. Comportamentos em que faltam o respeito, a justiça e a tolerância
devem ser desaprovados pelos pais, porém pelo diálogo e não pela imposição da força.
- favorecer a empatia, ou seja, a importância de se colocar no
lugar do outro e se comover com a sua dor (os pais são referências para seus
filhos e, por isso, é preciso pensar: que princípios
morais legitimamos em nossa
convivência diária?);
- através de uma
educação autoritativa, estabelecer
vínculos de confiança na relação com filhos (as) – saber com quem saem, com
quem conversam virtualmente ou na vida real.
Sabemos que educar moralmente é
papel da família e da escola, que também deve e precisa
reavaliar suas condutas na formação de seus alunos. Contudo, como
pais que somos, dar o nosso
“melhor” é, para nós, condição para que nossos filhos sejam mais equilibrados,
justos e felizes.
Este texto é uma produção do GEPEM- Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Moral e foi escrito pelas pesquisadoras Luciene Tognetta e Sandra de Nadai.
Para ver mais textos destes profissionais acessem ao site Somos Contra o Bullying
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