quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Pelo direito de ficar em casa

O Tom é um menino muito único (sim, eu sei que todas as crianças o são) e eu e o pai dele decidimos que seria prioridade número 1 em nossa casa respeitar as suas singularidades, o seu tempo e as suas preferências, já que queremos que ele seja autônomo e feliz.
Isso não significa dizer que pretendemos deixá-lo fazer tudo o que quer, mas que reconhecemos que algumas coisas podem ser escolhidas e, que nesses casos, ele terá suas preferências respeitadas.
Escolhemos esse modelo de Educação porque acreditamos no que nos disse o Rubem Alves quando afirmou que Educação é o processo pelo qual os nossos corpos vão ficando iguais às palavras que nos ensinam. E, assim sendo, quanto mais as palavras utilizadas na educação dele forem respeitosas e de acolhimento, mais respeitoso e acolhedor será seu corpo e suas relações.
Entretanto, fazer a escolha por uma educação que rompe com modelos sociais que são hegemônicos não é muito fácil, pois além de não ter muito respaldo teórico e empírico para atuar, você também encontra muitas críticas ao modo como educa seu filho (todos sabem educar os filhos dos outros), sejam diretas -através de palavras de reprovação, sejam indiretas apenas por olhares.
Além disso, formar para autonomia pode também ser mais trabalhoso. Sim, certamente o é! Decidir a roupa que o filho usará na festinha da escola pode fazer com que ele fique pronto em 10 minutos, ao passo que permiti-lo escolher a roupa que vestirá poderá lhe render bons 30 minutos de indecisão e uma escolha que não seja a que julgava mais bonita.
Entretanto, como tudo na vida, temos que tomar decisão e a nossa aqui em casa é que mais vale um menino com bermuda listrada e camisa estampada do que uma criança insegura que precisa sempre de alguém que decida por ela. E foi por isso que decidimos: há coisas negociáveis e coisas inegociáveis.
Ir à escola, ao médico, ao dentista, à natação estão no rol daquelas que aqui em casa não negociamos. A não ser que esteja doente, ele precisa ir à escola todos os dias, pois faz parte de seus compromissos; frequentar às aulas de natação, visto que sua segurança depende disso e comparecer regularmente às suas consultas, pois sua saúde é prioridade.
No mais, quase tudo pode ser conversado. Ele precisa comer, mas pode decidir o que vai almoçar; ele precisa tomar banho, mas pode escolher se vai ser rápido ou lento na banheira; ele precisa guardar os brinquedos, mas pode decidir a forma como fará isso.
 No momento, por exemplo, ele tem demonstrado gostar muito de ficar em casa, o que tem sido visto como negativo por alguns. Entretanto eu me pergunto: que mal pode haver em um menino de 3 anos que gosta de seu lar? Não seria isso algo positivo?
Certamente podem me dizer: ao ficar em casa ele deixa de brincar, de conhecer outras crianças. Sim, eu concordo que isso também é importante, mas reconheço que ele tem uma necessidade de interação que é só dele e que no momento em que ele não quiser passear os brinquedos, a televisão e o ambiente dele podem estar oferecendo as suas necessidades afetivas, sendo até mais interessantes.
Vejam, a formação de um ser humano autônomo apenas é possível quando a autoridade adulta é diminuída e se estabelece uma relação na qual haja respeito mútuo entre as pessoas, incluindo entre os pais e os filhos. O Tom será cada vez mais respeitoso a medida que puder construir seus valores morais a partir das negociações feitas em nossa família, se nela houver respeito às suas opiniões e preferências.
Desde que seus desejos não prejudiquem a ele ou aos outros, por que eu deveria obrigá-lo a algo que eu desejo, mas ele não? Não é possível pensar numa educação para autonomia se eu, a adulta da relação, não reconhecer que ele é uma criança com particularidades próprias e não um saco de realização das minhas vontades ou dos adultos que estão a sua volta.
É claro que preservo o desenvolvimento social de meu filho. Mas para que ele aconteça da forma mais natural possível, é preciso que o Tom esteja  tranquilo e desejoso de momentos compartilhados.
Ele não precisa sair de casa quando eu quero. Do mesmo modo que eu não preciso me render aos seus desejos e ficar em casa sempre acompanhando-o. Nós podemos sair e conviver quando esta for a vontade de cada um de nós e ficar em casa e sossegar, pois é muito bom, também, ser feliz onde se mora.
É por isso que, mesmo contrariando os julgamentos alheios, me manterei respeitando as vontades do meu filho, porque observo que assim ele tem crescido saudável e feliz. É assim que ele tem aprendido que é muito bom ser feliz com os amigos (e ele demonstra o maior interesse neles quando estão juntos), mas para ser feliz com alguém temos que ser felizes, primeiramente, conosco mesmo.  
E quando o Tom quiser ir ao parquinho, o balde e a pá que ele tanto gosta estarão a postos, mas quando ele quiser ficar na sua casinha, como ele carinhosamente se refere ao nosso lar, isso será tratado da forma mais natural possível.
Do mesmo jeito que eu fiz a minha escolha quanto ao modelo educativo que assumo como mãe e luto para que ele seja respeitado, meu filho também poderá tomar as suas decisões. A mim, cabe apenas ensiná-lo a lutar por elas com toda a sua força, mesmo que isso tenha a desaprovação de alguns.


Um comentário:

  1. Tom ta cada dia mais lindo. Concordo cata. Autonomia e educacao e uma uniao que choca muita gente ainda. As pessoas precisam aprender a respeitar as decisoes dos pais, principalmente quando estas decisoes deixam as criancas mais seguras de si. Isso faz um bem danado ao corpo e alma nao so do individuo, mas tb daqueles que o rodeiam. Todos so tem a ganhar com isso. Parabens cata e pery. Xero

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