domingo, 18 de janeiro de 2015

10 respostas sobre porque não bato no meu filho

Quem convive comigo (ou ao menos me conhece) sabe que balanço a bandeira de que não se educa crianças com violência e, por isso, penso que não exista a palmada pedagógica. Talvez por isso, recorrentemente, eu seja submetida a uma pergunta que me causa, ao mesmo tempo, espanto e indignação: como você consegue educar seu filho sem bater nele?
Em primeiro lugar confesso que nestas horas sou imediatamente tomada de um espanto enorme, pois a minha vontade é de responder com outra indagação: como alguém consegue bater numa criança, já que não há, em minha opinião, nenhuma covardia maior que essa?
Ao mesmo tempo uma indignação imensa me domina, pois a pergunta, normalmente, é feita por pessoas que julgam a palmada um recurso  indispensável na educação das crianças e, por isso, legítima.
Bem, o post de hoje é fruto de uma reflexão feita sobre a fatídica pergunta e, de tão recorrente, a reflexão se tornou prioridade número 1 para esclarecer, de uma vez por todas, “como consigo não bater no meu filho”.
Primeiro: Eu não bato no Tomaz porque não sinto vontade, já que qualquer forma de violência nunca fez parte do rol de estratégias que eu recorro, mesmo que na mente, na hora de educar o pequeno. Assim, como não cogito essa possibilidade, jamais tive que controlar a raiva e a vontade de bater nele, pois nunca a senti.
Vejam bem: qual brasileiro (exceto os de paladar refinado e bolso tão refinado quanto) já sentiu vontade de comer escargot? Certamente nenhum, já que esse prato não faz parte das opções mais disponíveis no Brasil. É o mesmo quanto a vontade de bater no filho: quanto menos essa prática for legitimada ou cogitada, mais distante ela estará de nossas ações.
Segundo: eu entendo que a maioria das coisas que ele faz são típicas da idade e não ações premeditadas para tirar minha paciência. Um exemplo claro aconteceu hoje, no café da manhã, quando  metade de seu prato de cuscuz foi parar no chão, porque a coordenação motora dele ainda não é boa o suficiente para que ele coma sem sujar-se ou sujar o espaço. Se eu, a adulta, me deixar tomar por uma chateação abrupta quando pegar a vassoura para limpar a sujeirada certamente sentirei raiva, ao passo que se eu entender que essa atividade faz parte do processo de crescimento dele e que, justo por sujar-se ele aprenderá a comer adequadamente, respeitando o desenvolvimento da criança, menos irritada eu ficarei quando ele errar e eu tiver que limpar.
Terceiro: eu sou a adulta nesta relação mãe e filho e, justo por isso, preciso ensinar ao Tom as estratégias disponíveis para resolver problemas de formas mais assertivas.  Se a cada conflito eu grito, esbravejo ou bato nele, deixo de ofertá-lo algo que ainda lhe falta: o controle sobre suas próprias emoções e a transformação do que sente em palavras, em formas mais evoluídas de resolução de conflitos que os tapas e gritos.
Quarto: Se eu legitimo bater como uma prática que pode ser utilizada nos momentos de conflito, ensino ao meu filho que quando ele tiver um problema pode resolvê-lo  batendo. Vejam que grave ensinamento.
Quinto: “Diversos estudos já demonstraram que a punição, o castigo, os gritos, os beliscões, o chamar a atenção de alguém na frente dos outros não são maneiras eficazes de conseguir o progresso do autorrespeito e do respeito ao outro (...), são formas de fazer com que nossos meninos e meninas cresçam sendo pessoas que, para se sentirem felizes, precisam “mandar nos outros” ou “ser mandados por eles” o tempo todo”. (TOGNETTA, 2014).
Sexto: Apenas quem se sente respeitado pode respeitar os outros. Desse modo, se mesmo no momento em que eu estiver com muita raiva ou muito triste eu continuar respeitando meu filho, embora disciplinando-o , ele aprenderá que o respeito não pode ser circunstancial.
Sétimo: Jean Piaget (1896-1980), estudioso do desenvolvimento da inteligência, dizia que o castigo físico leva ao conformismo (quando a pessoa só sabe obedecer) e ao cálculo de risco (em que a obediência é proporcional ao medo do castigo). Portanto, bater para obter um bom comportamento é a receita para formar pessoas que receiam o novo ou que, no futuro, não hesitam em fazer algo errado, desde que a probabilidade de punição seja baixa.
Oitavo: A cultura da violência precisa abrir espaço para a do diálogo e, por isso, as surras devem ser substituída por orientações e ensinamentos que efetivamente levem a criança a pensar e, assim, modificar suas posturas.
Nono: Do ponto de vista legal, o Estatuto da Criança e Adolescente determina que é dever do adulto deixar a criança a salvo de situações humilhantes, degradantes e vexatórias e, justo por isso, os pais devem proteger os filhos e não violentá-los.
Décimo: eu sou a mãe dele e não seu algoz.

A partir de hoje, cada pessoa que me fizer esta famigerada pergunta terá que ouvir estes dez argumentos que, se não são os mais convincentes, são os que regulam as relações aqui em casa. Relações estas, sem palmadas. 

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