quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Fome e sede de vida


Amo ler, sobretudo poesia, porque as palavras me fazem percorrer por ideias inusitadas e, boa parte delas, é capaz por promover uma melhora em mim (eu sei que vocês já sabem disso, mas não custa repetir)

 Foi realizando uma dessas minhas viagens literárias que tive o privilégio de ler um texto que me fez refletir muito e, justamente por isso, resolvi postar aqui para que ele possa fazer o mesmo por vocês.

O texto em questão trata de um tema muito caro para nós que somos mães: as necessidades dos nossos filhos. A melhor parte do texto é que ele foge do óbvio e nos leva a necessária constatação de que, assim como cantou o Titãs, nossas crianças não querem e não precisam apenas de comida, mas sim de comida, diversão e arte.

Acontece que o texto aqui em questão amplia a ideia defendida acima, nos fazendo pensar no toque, nas trocas, na cumplicidade, na interação... componentes fundamentais para um desenvolvimento sócio-emocional de qualidade. Eis o texto:


Nutrir a criança?

Sim

Mas não só com o leite.

É preciso pegá-la no colo,

É preciso acariciá-la, embalá-la

E massageá-la.

É necessário conversar com sua pele,

Falar com suas costas,

Que têm sede e fome,

Como sua barriga.

(Frédérick Leboyer)


E foi lendo estas poucas palavras que pensei: Tomaz tem fome de que? Tomaz tem sede de que? Nossa, que coisa mais complexa... As ideias não pararam de girar em minha mente e a inquietude eterna dessa mãe ficou ainda mais intensa.

Certamente ele tem sede e fome de um monte de coisa. Ele tem fome/sede de brincar, porque aprende a conhecer, aprende a fazer, aprende a conviver e, sobretudo, aprende a ser.

Ele tem fome/sede de atenção, porque é através de mim, do pai e de todo mundo que convive com ele que o mundo passa a ser descoberto... que as convenções sociais passam a ser adquiridas e ele consegue se construir melhor com um sujeito social.

Ele tem fome/sede de fome de brinquedo, porque é através desses objetos que ele pode se comportar de formas variadas, indo além do comportamento habitual de sua idade, crescendo e se desenvolvendo pelo desequilíbrio que o brinquedo provoca.

Ele tem fome/sede de carinho, porque através do toque meu sobre ele e no toque dele sobre mim que ele pode se sentir mais confiante em receber amor e dar amor, que, sem dúvidas, é a razão maior pela qual estamos no mundo.

Ele tem fome/sede de arte, porque através da arte ele desenvolve a sua sensibilidade, a imaginação, a percepção, a intuição e a inteligência, sensibilizando os seus olhos para ver o mundo em cores mais vivas do que as que temos visto.

Resumindo, ele tem fome/sede de vida, de experiências de relações, porque a vida é feita de gente e as variadas gentes são feitas de carne e de sentimento. Se meu filho for tendo ao longo da vida todas essas fomes/sedes atendidas, certamente ele conseguirá entender o real significado da palavra humano.
Meu filho, para viver temos que comer/beber mais do que nossos pão de cada dia (no seu caso, o leite de cada dia.)

Um comentário: