Ontem passei o dia dando aula (isso
mesmo, em pleno sábado). Quando cheguei em casa meu marido tinha tirado um
monte de fotos do pequeno Tom que, tenho que confessar, me deixaram inquieta.
Vou explicar: nas fotos meu bebê anunciava que está ficando grande e eu pensei
que as coisas estão correndo mais rápidas do que eu desejo.
Por pura ironia do destino, quando
abro meu e-mail encontro um lindo texto enviado pela amiga Jhose Freire, o qual
compartilho a seguir. Espero que tenham tempo de ler antes que seus filhos
cresçam...
Há um
período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.
É que as crianças crescem. Independentes de nós, como árvores, tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença. Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular. Entre os estupros dos preços, os disparos dos discursos e o assalto das estações, elas crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.
É que as crianças crescem. Independentes de nós, como árvores, tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença. Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular. Entre os estupros dos preços, os disparos dos discursos e o assalto das estações, elas crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.
Mas não
crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente. Um dia se
assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade que você
sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.
Onde e como
andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê aquele cheirinho
de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de
aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal?
Ela está
crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está
agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas
apareça. Ali estão muitos pais, ao volante, esperando que saiam esfuziantes
sobre patins, cabelos soltos sobre as ancas. Essas são as nossas filhas, em
pleno cio, lindas potrancas.
Entre
hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão elas, com o uniforme de sua
geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou, então com a suéter amarrada
na cintura. Está quente, a gente diz que vão estragar a suéter, mas não tem
jeito, é o emblema da geração.
Pois ali
estamos, depois do primeiro e do segundo casamento, com essa barba de jovem
executivo ou intelectual em ascensão, as mães, às vezes, já com a primeira
plástica e o casamento recomposto. Essas são as filhas que conseguimos gerar e
amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura
das horas. E elas crescem meio amestradas, vendo como redigimos nossas teses e
nos doutoramos nos nossos erros.
Há um
período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.
Longe já vai o momento em que o primeiro mênstruo foi recebido como um impacto de rosas vermelhas. Não mais as colheremos nas portas das discotecas e festas, quando surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e inglesa. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Só nos resta dizer “bonne route, bonne route”, como naquela canção francesa narrando a emoção do pai quando a filha oferece o primeiro jantar no apartamento dela.
Longe já vai o momento em que o primeiro mênstruo foi recebido como um impacto de rosas vermelhas. Não mais as colheremos nas portas das discotecas e festas, quando surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e inglesa. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Só nos resta dizer “bonne route, bonne route”, como naquela canção francesa narrando a emoção do pai quando a filha oferece o primeiro jantar no apartamento dela.
Deveríamos
ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir sua alma respirando
conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes
cobertores daquele quarto cheio de colagens, posteres e agendas coloridas de
pilô. Não, não as levamos suficientemente ao maldito “drive-in”, ao Tablado para
ver “Pluft”, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes
compramos todos os sorvetes e roupas merecidas.
Elas
cresceram sem que esgotássemos nelas todo o nosso afeto.
No
princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, comidas,
engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhas. Sim, havia as brigas
dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de sorvetes e sanduíches
infantis. Depois chegou a idade em que subir para a casa de campo com os pais
começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma
aqui na praia e os primeiros namorados. Esse exílio dos pais, esse divórcio dos
filhos, vai durar sete anos bíblicos. Agora é hora de os pais na montanha terem
a solidão que queriam, mas, de repente, exalarem contagiosa saudade daquelas
pestes.
O jeito é
esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e
estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por
isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os
netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.
Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.
Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.
Affonso Romano de Sant'Anna
É verdade...! É, e este texto me fez sentir que realmente precisamos aproveitar os momentos por mais simples que seja. Vê só!... Hoje acordei imaginando que o meu pimpolho esta semana já foi fazer os exames para uma nova etapa de sua vida que é ingressar no Exército brasileiro. Poxaaaa... Meu filho... Sentei-me a mesa com ele na hora do café matinal e em um diálogo tentei mostra-lo que realmente se aproxima uma nova fase, e agora de uma tamanha responsabilidade pois estará sendo um adulto maior de idade. Catarina, agente sabe que um dia este momento chegará, mas dá um calafrio quando agente percebe que as coisas as vezes ocorrem tão depressa e a gente nem se dar conta. E mas... existem momentos que as vezes queremos interferir e tentar ajudar em algo, mas entendo que é necessário deixa-lo passar sozinho para adquirir sua própria experiencia.
ResponderExcluirPor este motivo até onde posso estarei ao seu lado e por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.
Nossa, Gilva... Imagina quando chegar a minha vez? Realmente temos que aproveitar tudo antes que eles cresçam.
Excluirexto lindo! Me vi com meu pai em algumas situações, anos atrás, e imaginei a nossa pequena Júlia num futuro não tão distante. A mensagem de que aproveitemos o tempo com nossos filhos é tão verdadeira quanto necessária! ;0) Obrigada por compartilhar!
ResponderExcluirAlzira, quando nos tornamos pais temos mais facilidade de nos colocarmos no lugar dos nossos, não é? Obrigada por passar por aqui.
ExcluirLindo! To chorando...
ResponderExcluirO tempo passa, Paloma. Que pena!!!
ExcluirLindo mesmo!!! Me achei grávida porque morri de chorar...
ResponderExcluirVocê realmente está grávida, Bia Campos.
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