Estes dias soubemos que Tomaz
estava apanhando de um coleguinha na escola com certa regularidade. Como aconteceria
com todos os pais, nós nos preocupamos muito com o fato e nos angustiamos em sabermos que nosso filho estava sofrendo justo em um espaço no qual deveria
ser protegido.
Entretanto, como uma pessoa
que, além de mãe, estuda o tema em questão, não me desesperei e tratei de
racionalizar sobre as maneiras de ajudar meu pequeno a sair desta situação tão
delicada e difícil. Foi então que algumas questões vieram a minha mente:
1- Ele
precisa se defender!
2- Acreditar
na necessidade de defesa não significa induzi-lo a bater também na outra
criança (não devo aproximar Tomaz daquilo que condeno nas outras pessoas.
Afinal, bater não é ruim apenas quando ele sofre, mas, também, quando ele
pratica);
3- Devo
falar com a escola para que ela se implique na resolução do problema.
A partir destas questões
começamos a agir. Falamos com a escola que passou a olhar para situação com
mais atenção. Não era apenas um conflito eventual entre crianças, mas um fato
recorrente que estava trazendo consequências negativas ao meu pequeno. Não exigi que a escola fizesse algo, mas busquei parceria da instituição para que ela inserisse em seu currículo a gestão dos conflitos como uma necessidade não apenas para
Tomaz, mas para todos que ali estão.
Também empoderamos Tomaz,
levando-o a perceber que ele deveria agir, não permitindo que o colega fizesse
isso com ele. Não queremos filhos violentos, mas não podemos deixar que ele
seja submisso a uma situação tão nefasta. Para isso, a primeira pergunta que
lhe fizemos foi:
- O que você pode fazer para
que ele não faça mais isso com você? (falamos isso de forma séria, para que ele
percebesse que não gostamos nada do fato dele estar apanhando de alguém).
Imediatamente ele nos
respondeu:
- Fugir!
Sim, respondemos a ele que
poderia fugir e perguntamos: o que mais?
Como ele não conseguiu pensar
em mais nenhuma alternativa, fomos levantando, ainda, outras possibilidades.
Deixamos claro que ele não deveria se submeter às violências e fomos firmes em
dizer que não queríamos que ele apanhasse de ninguém, porque não se bate nas
pessoas.
Eu lhe disse:
- Não quero que você apanhe de ninguém! Não podemos deixar que isso aconteça!
Então ele percebeu minha indignação e, heterônomo como é (Tomaz só tem cinco anos. Não tem nenhuma condição de ser autônomo moralmente e, por isso, ainda necessita muito da figura de autoridade para se indignar) percebeu que a coisa não estava certa.
Então fomos, juntos, pensando em formas de agir nesta situação. Dentre as possibilidades
levantadas lhe dissemos:
- Diga a ele que não sente
medo dele, que ele não pode lhe bater!
-Segure o braço dele e diga
que ele não lhe baterá mais!
- Seja firme com ele: estufe o
peito e lhe diga: eu não tenho medo de você!
- Peça ajuda aos seus amigos!
Em grupo você está mais forte.
Com isso fomos treinando com
ele habilidades mais assertivas de resolução de conflitos, mostrando-lhe que poderia
se defender, que ele tinha condições para isso e não poderia se submeter às agressões
do colega. É muito importante mostrar isso a criança, pois alguém que está
sofrendo com frequência não consegue, sozinho, enxergar possibilidades de sair
daquela situação.
Com isso, Tomaz foi se empoderando
e, no dia seguinte, se defendeu. Após agir, chegou em casa nos contando:
- Vocês ficarão muito tristes
comigo! Quando fui segurar o braço de “fulaninho” minha unha bateu no rosto
dele e ele chorou. Até saiu um pouco de sangue.
Imediatamente lhe dissemos:
- Não estamos tristes com você, meu filho.
Entendemos que foi a única coisa que você conseguiu fazer neste momento. Mas o
que poderá fazer em outros para não machucar de novo o amigo e nem deixar que
ele lhe bata?!
Com isso nós reconhecemos o
sentimento dele e, ao mesmo tempo, deixamos claro que bater não é uma estratégia
que devemos legitimar como a melhor opção, embora ele tenha recorrido a ela.
Evidenciamos, também, que ele não deve bater, mas que não pode apanhar.
Foi então que ele nos disse:
- Vou falar firme a ele: não
tenho medo de você!
Assim, e a partir de outras formas, ele foi encontrando o caminho, foi enfrentando o problema. Pediu ajuda aos
amigos, falou firme com o colega, segurou o braço dele e, com isso, tem
conseguido se defender. Perguntei a ele se tem melhorado e ele disse:
- Sim, mamãe! Ele quase não bate
mais.
Nenhum de nós queremos que
nosso filho apanhe na escola. Mas ajudar a passar por isso de forma assertiva é
uma responsabilidade que todos nós devemos assumir. Devemos entender que Tomaz
também aprende com isso e que uma situação de convivência é privilegiada para
manifestação dos conflitos e, também, para sua superação.
Devemos, então, manter a razão
diante de uma situação como essa e ponderar o que é razoável diante do caos. Se
abominamos que nosso filho apanhe, porque o ensinamos a bater? Sim, as vezes
ele fará isso por falta de recursos, por ser a única possibilidade. Não iremos
puni-lo por se defender, mas iremos, juntos, encontrar outras formas de defesa
que não seja pela via violenta. Se o adulto legitima o uso da violência como
uma estratégia adequada de resolução de conflitos a crianças vai recorrer a ela
não como última das alternativas, mas como a melhor das possibilidades.
Assim, se queremos ajudar as crianças vamos:
1- Reconhecer o sofrimento delas;
2- Ajudá-las a encontrarem estratégias de enfrentamento;
3- Se mostrar disponível para colaborar junto com a escola: Você vai falar com sua professora ou precisa da minha ajuda para isso?
O importante é que ajudemos nossas crianças a viverem numa sociedade sem submissão, mas, também, sem violência.
Ainda não tenho filhos, mas aprendi muito com essa discussão. Realmente é uma situação que muitos crianças enfrentam e que merece mais atenção por parte dos pais e comuns escolar.
ResponderExcluirQue bom que gostou, Lúcia. Grande abraço.
ExcluirAhhh que saudade de ler seus textos Catarina.
ResponderExcluirJã passamos por isso também na antiga escola, foi muito ruim pois o menino era grande e forte e conseguia bater em 3/4 de uma só vez, e recentemente o Rafa me relatava que estava chatiado com o amigo que vivia chamando ele de "RAFAELA" e ele chegou a me dizer que quebraria a cara do amigo ������... Como assim quebrar cara de alguem Rafa, não!!!
Perguntei a ele qual era o nome do amigo e ele me disse que era Ricardo... Disse a ele fala pro Ricardo que vc não gosta que te chame assim e ensine ele a falar seu nome direito, imediatamente ele disse que ja tinha feito isso. Então disse a ele que da proxima vez ele chame o amigo de "Ricarda" kkkk
Pronto não teve mais problema pois o Ricardo aprendeu a chama lo pelo seu nome Rafael rsrrs
Bjs fiquem com Deus
É sempre difícil passar por isso, não é? O importante é tentar acertar e reconhecer que a violência não pode ser legitimada como a melhor alternativa.
ExcluirAh que saudades de escutar você, aprendi tanto e pude mudar minha forma de agir, hoje sou uma mãe melhor!
ResponderExcluirNós sempre podemos ser melhores, não é? Um grande abraço!
ExcluirSempre aprendendo com suas experiências.
ResponderExcluirAdorei! Infelizmente uma situação que acontece com frequência nas escolas e quase sempre nós pais, incentivamos os filhos a se defender batendo também. #Anotado
ResponderExcluirFico feliz em ver o quanto voce crescer.Seus textos sao sempre muito instrutivos para nos professora e para os pais que os leem. Bjs
ResponderExcluirBateu, levou. Simples assim. Ensinei o meu filho a não provocar uma briga. Mas, se ele for agredido, deve responder NA MESMA MEDIDA.
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