domingo, 26 de março de 2017

Como os pais e as mães podem favorecer o envolvimento do filhos em situações de bullying

Cada vez mais as estatísticas evidenciam o alto percentual de crianças e adolescentes envolvidos em situações de bullying e os impactos negativos que estas vivências trazem ao desenvolvimento de todos os envolvidos no ato violento, seja na posição de alvo, autor ou espectador. 
Diante do post do domingo passado, no qual eu relatava conflitos envolvendo meu pequeno, muitas pessoas mantiveram contato perguntando-me se meu Tom estava sofrendo bullying na escola. Posso lhes garantir que não. Primeiro porque não era uma coisa recorrente direcionada especificamente a ele. Segundo, porque a criança que estava batendo não tinha a intenção clara de fazer isso e agia, desse modo, por dificuldades com autocontrole. Terceiro porque a plateia (os outros coleguinhas da turma), não viam esta violência como algo de valor, valorizando o que agredia nem, tampouco, o Tom se via como responsável pelo ocorrido. 
Sim, para que uma violência seja bullying é preciso que ela tenha algumas características específicas: 

1- Ser repetida; 
2- Intencional; 
3- Numa relação de paridade (embora de poder desequilibrado); 
4- Praticado por um autor mal-intencionado, em relação a um alvo indefeso, diante de uma plateia que valoriza e reforça as violências. 

A situação de meu pequeno não se encaixava nestas especificidades do fenômeno e, por isso, era apenas um conflito eventual entre crianças que foi bem gerido pela escola e está em fase de resolução. (A escola tem proposto ações em que as crianças se ajudam, cuidam umas das outras, trocam conversas, desenhos e se responsabilizam de forma coletiva. Ou seja, a escola tem focado no clima entre os meninos e meninas e na qualidade do ambiente, o que favorece a superação dos conflitos e de toda forma de violência, incluindo o bullying).
Mesmo não sendo bullying, me coloquei a pensar e resgatar as pesquisas para pensar o que nós, como mães e pais, podemos fazer para que nosso filho não sofra bullying (nem pratique). Ou, ainda, quais as nossas características favorecem a formação de filhos alvos de bullying? Sim, eu sei que muitos fatores (psicológicos, sociais, culturais) influenciam uma pessoa estar ou não envolvida em situações de bullying na escola e sei que focar apenas nas relações pais e filhos pode ser um erro grande. Mas sei, também, que o papel dos pais é determinante e pode ser decisivo. 
Isso porque o bullying é um problema moral e, se queremos combater este problema, é preciso compreender o que os envolvidos nele valorizam em suas identidades e nas relações com os outros. Nesse sentido, a família contribui na construção dos valores que as crianças legitimam e precisam se repensar se querem, de fato, que os filhos não sofram na escola, mas, também, não causem sofrimento.
Por isso, o texto de hoje tratará deste assunto e de como nós e as formas que usamos para educar os pequenos contribuem para que eles sejam, ou não, vitimizados por seus pares nas relações que estabelecem na escola. Nos próximos tratarei do papel dos pais diante dos autores e dos espectadores da violência. Isso não quer dizer que estou desprezando as outras variáveis, mas, apenas, que estou refletindo sobre o papel dos pais. 
Com isso, a primeira reflexão é sobre o quanto somos super protetoras e resolvemos tudo pelas crianças. Aqueles que sofrem perante seus pares precisam se indignar diante dos maus tratos e agir. Não podem permitir que os colegas os agridam e têm que se desvencilhar destas ações reconhecendo que isso é possível.
Mães e pais super protetores não favorecem o desenvolvimento na criança de que ela é capaz de resolver seus problemas e agir diante das violências vividas. Não estou dizendo, com isso, que devemos deixar as crianças a própria sorte. Estou dizendo, apenas, que devemos encorajá-la a reconhecer, em sua paridade, condições de sair do conflito.
Desse modo, antes de ir na escola resolver pela a criança podemos dizer:
- O que você pode fazer para que isso não aconteça mais?
- O que você pode fazer para não deixar que ele lhe agrida?
Diante das respostas das crianças vamos treinando com ela habilidades importantes para superação do conflito: “diga-lhe que não sente medo dele!” “fale com o peito estufado: não deixarei que faça isso comigo!”
Além disso, podemos dizer: “Converse com a escola. Você fará isso sozinho ou precisa de minha ajuda?”. Vejam, com isso damos a criança oportunidade de escolher e decidir se precisa antes de dizermos: "vou na escola falar com sua professora!" Com estas colocações nos mostramos disponíveis, mas não resolvemos pelos filhos um conflito que lhes pertence. Ajudamos, mas não resolvemos, o que fará muita diferença.
Além disso, pais e mães perfeccionistas também podem favorecer no filho a posição de vitimizados. Isso porque, há nos que sofrem uma concordância a respeito da identidade pouco valorizada que os demais fazem sobre ele. Quanto mais perfeccionistas somos, mas temos dificuldades em olhar com valor o que o outro faz (incluindo nosso filho) e, com isso, terminamos por educar filhos inseguros e mais suscetíveis ao bullying.  
Desse modo, se queremos educar filhos e filhas que não sejam vitimizados pelos pares deveremos, também, cuidar da forma como nos relacionamos com nossas crianças e de como ajudamos a trabalhar a auto estima delas. Devemos lembrar que a criança é, ainda, pequena e que não consegue, muitas vezes, atender as nossas expectativas. 
Devemos lembrar, ainda, que os filhos não vieram ao mundo para suprir nossas frustrações nem, tampouco, para realizar nossos sonhos. Eles são pessoas que tem potencialidades e limitações e valorizar o primeiro e respeitar o segundo é muito importante. 
Além disso, pais e mães que fazem uso da violência na educação dos filhos também podem contribuir no desenvolvimento das crianças envolvidas em bullying na escola. Um estudo realizado na Universidade de São Carlos (clique aqui) evidenciou que a violência dos pais em relação aos filhos está associada ao envolvimento das crianças em situações de intimidações na escola. Isso porque, os participantes que declararam ter sido vítima de qualquer tipo de violência por parte da mãe tinham, aproximadamente, três vezes mais probabilidade de se envolver em bullying como alvo ou como alvo/autor e os que afirmavam ter sofrido violência do pai aumentava em 3,1 vezes a probabilidade de ser alvo de intimidação e em 4,3 vezes, de ser alvo/autor.
Estes são apenas alguns aspectos que nos mostram como agir na educação dos filhos para que eles não sofram bullying na escola. Podemos começar, por exemplo, abandonando a superproteção, o perfeccionismo e o uso da violência. Isso já ajudará bastante no desenvolvimento de crianças mais assertivas e na possibilidade de que elas consigam se desvencilhar do bullying na escola.
Quem tiver interesse sobre o tema, pode continuar fazendo leituras no site: Somos Contra o Bullying). 




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