Cada
vez mais as estatísticas evidenciam o alto percentual de crianças e
adolescentes envolvidos em situações de bullying e os impactos negativos que
estas vivências trazem ao desenvolvimento de todos os envolvidos no ato
violento, seja na posição de alvo, autor ou espectador.
Diante
do post do domingo passado, no qual eu relatava conflitos envolvendo meu pequeno,
muitas pessoas mantiveram contato perguntando-me se meu Tom estava sofrendo
bullying na escola. Posso lhes garantir que não. Primeiro porque não era uma
coisa recorrente direcionada especificamente a ele. Segundo, porque a criança
que estava batendo não tinha a intenção clara de fazer isso e agia, desse modo,
por dificuldades com autocontrole. Terceiro porque a plateia (os outros
coleguinhas da turma), não viam esta violência como algo de valor, valorizando
o que agredia nem, tampouco, o Tom se via como responsável pelo ocorrido.
Sim,
para que uma violência seja bullying é preciso que ela tenha algumas
características específicas:
1-
Ser repetida;
2-
Intencional;
3-
Numa relação de paridade (embora de poder desequilibrado);
4-
Praticado por um autor mal-intencionado, em relação a um alvo indefeso, diante
de uma plateia que valoriza e reforça as violências.
A
situação de meu pequeno não se encaixava nestas especificidades do fenômeno e,
por isso, era apenas um conflito eventual entre crianças que foi bem gerido
pela escola e está em fase de resolução. (A escola tem proposto ações em que as
crianças se ajudam, cuidam umas das outras, trocam conversas, desenhos e se
responsabilizam de forma coletiva. Ou seja, a escola tem focado no clima entre
os meninos e meninas e na qualidade do ambiente, o que favorece a superação dos
conflitos e de toda forma de violência, incluindo o bullying).
Mesmo
não sendo bullying, me coloquei a pensar e resgatar as pesquisas para pensar o
que nós, como mães e pais, podemos fazer para que nosso filho não sofra
bullying (nem pratique). Ou, ainda, quais as nossas características favorecem a
formação de filhos alvos de bullying? Sim, eu sei que muitos fatores
(psicológicos, sociais, culturais) influenciam uma pessoa estar ou não
envolvida em situações de bullying na escola e sei que focar apenas nas
relações pais e filhos pode ser um erro grande. Mas sei, também, que o papel
dos pais é determinante e pode ser decisivo.
Isso
porque o bullying é um problema moral e, se queremos combater este problema, é
preciso compreender o que os envolvidos nele valorizam em suas identidades e
nas relações com os outros. Nesse sentido, a família contribui na construção
dos valores que as crianças legitimam e precisam se repensar se querem, de
fato, que os filhos não sofram na escola, mas, também, não causem sofrimento.
Por
isso, o texto de hoje tratará deste assunto e de como nós e as formas que
usamos para educar os pequenos contribuem para que eles sejam, ou não,
vitimizados por seus pares nas relações que estabelecem na escola. Nos próximos
tratarei do papel dos pais diante dos autores e dos espectadores da violência. Isso não quer dizer que estou desprezando as outras variáveis, mas, apenas, que estou refletindo sobre o papel dos pais.
Com
isso, a primeira reflexão é sobre o quanto somos super protetoras e resolvemos tudo pelas crianças. Aqueles que
sofrem perante seus pares precisam se indignar diante dos maus tratos e agir.
Não podem permitir que os colegas os agridam e têm que se desvencilhar destas
ações reconhecendo que isso é possível.
Mães
e pais super protetores não favorecem o desenvolvimento na criança de que ela é
capaz de resolver seus problemas e agir diante das violências vividas. Não
estou dizendo, com isso, que devemos deixar as crianças a própria sorte. Estou
dizendo, apenas, que devemos encorajá-la a reconhecer, em sua paridade,
condições de sair do conflito.
Desse
modo, antes de ir na escola resolver pela a criança podemos dizer:
- O
que você pode fazer para que isso não aconteça mais?
- O
que você pode fazer para não deixar que ele lhe agrida?
Diante
das respostas das crianças vamos treinando com ela habilidades importantes para
superação do conflito: “diga-lhe que não sente medo dele!” “fale com o peito
estufado: não deixarei que faça isso comigo!”
Além
disso, podemos dizer: “Converse com a escola. Você fará isso sozinho ou precisa
de minha ajuda?”. Vejam, com isso damos a criança oportunidade de escolher e decidir se precisa antes de dizermos: "vou na escola falar com sua professora!" Com
estas colocações nos mostramos disponíveis, mas não resolvemos pelos filhos um
conflito que lhes pertence. Ajudamos, mas não resolvemos, o que fará muita
diferença.
Além
disso, pais e
mães perfeccionistas também podem favorecer no filho a posição de vitimizados. Isso
porque, há nos que sofrem uma concordância a respeito da identidade pouco
valorizada que os demais fazem sobre ele. Quanto mais perfeccionistas somos,
mas temos dificuldades em olhar com valor o que o outro faz (incluindo nosso
filho) e, com isso, terminamos por educar filhos inseguros e mais suscetíveis
ao bullying.
Desse
modo, se queremos educar filhos e filhas que não sejam vitimizados pelos pares
deveremos, também, cuidar da forma como nos relacionamos com nossas crianças e
de como ajudamos a trabalhar a auto estima delas. Devemos lembrar que a criança é, ainda, pequena e que não consegue, muitas vezes, atender as nossas expectativas.
Devemos lembrar, ainda, que os filhos não vieram ao mundo para suprir nossas frustrações nem, tampouco, para realizar nossos sonhos. Eles são pessoas que tem potencialidades e limitações e valorizar o primeiro e respeitar o segundo é muito importante.
Além
disso, pais e
mães que fazem uso da violência na educação dos filhos também podem contribuir no
desenvolvimento das crianças envolvidas em bullying na escola. Um estudo
realizado na Universidade de São Carlos (clique aqui) evidenciou que a violência dos pais em relação aos
filhos está associada ao envolvimento das crianças em situações de intimidações
na escola. Isso porque, os participantes que declararam ter sido vítima de
qualquer tipo de violência por parte da mãe tinham, aproximadamente, três vezes
mais probabilidade de se envolver em bullying como alvo ou como alvo/autor e os
que afirmavam ter sofrido violência do pai aumentava em 3,1 vezes a
probabilidade de ser alvo de intimidação e em 4,3 vezes, de ser alvo/autor.
Estes são apenas
alguns aspectos que nos mostram como agir na educação dos filhos para que eles
não sofram bullying na escola. Podemos começar, por exemplo, abandonando a superproteção,
o perfeccionismo e o uso da violência. Isso já ajudará bastante no desenvolvimento
de crianças mais assertivas e na possibilidade de que elas consigam se desvencilhar do
bullying na escola.
Quem tiver
interesse sobre o tema, pode continuar fazendo leituras no site: Somos Contra o Bullying).
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