Tenho acompanhado, cada vez
mais, pais angustiados para que seus filhos leiam rápido, escrevam rápido,
façam contas de cabeça, etc. Parece que esperam que os filhos leiam aos quatro,
falem inglês aos seis e, quiçá, mandarim aos oito.
Além dessas expectativas contrariarem tudo que
sabemos sobre desenvolvimento infantil na atualidade, elas geram uma ansiedade
imensa que se potencializa, ainda mais, no contexto competitivo que vivemos.
Compreendemos que toda essa ansiedade é fruto de uma vida cada vez mais competitiva
que nos leva a acreditar ser preciso, sempre, sair na frente. Que angústia para
esses pais! Que angústia, maior ainda, para as crianças que sofrem a pressão
para que tudo seja rápido, muito rápido e precocemente (nuca falamos tanto em
depressão e ansiedade infantil).
Bem, diferente do que
acreditamos, sair na frente não é, sempre, garantia de que chegaremos primeiro
(a Fábula da Lebre e da Tartaruga que o diga, não é?). Estudos já evidenciaram
que a alfabetização precoce pode trazer mais prejuízos do que vantagens e,
mesmo assim, não é raro encontrar pais angustiados porque o filho do vizinho de
cinco anos já lê enquanto o dele ainda não. Além disso, quem garante que quem
leu primeiro chegou na frente, não é?
É nesse contexto que fico
pensando muito sobre o que Tomaz, no auge de seus cinco anos, precisa,
realmente saber. Para que eu não caia nesta paranoia (vigilância sempre atenta
a isso), fiz uma lista de tudo que ele precisa aprender/saber nesta idade tão
linda e curiosa em que ele está:
1- Ele
deve saber que é amado incondicionalmente pelos seus pais, mesmo quando estamos
tristes ou bravos com ele;
2- Ele
deve saber que uma pessoa merece sempre respeito e que ele pode ter amigos mais
queridos que outros, mas não pode destratar ninguém por suas preferências;
3- Ele
deve saber que ninguém vive só para si e, mesmo sendo egocêntrico em função da
pouca idade, deve aprender que podemos cuidar uns dos outros e contar com os
amigos em momentos difíceis;
4- Deve
saber que temos direitos e deveres e que é importante brigar pelos direitos e,
ao mesmo tempo, cumprir as obrigações mesmo quando não queremos fazê-las;
5- Ele
precisa, aos cinco anos, entender que há regras na vida e, mesmo sem entender
(ainda) os princípios que as regulam, tem o direito de que as regras sejam
explicadas a ele e que ele pode fazer tais exigências (por que tenho que fazer
isso?);
6- Ele
precisa aprender a brincar sem brinquedos, a usar a imaginação, a fazer avião
com caneta, carrinho com caixa de papelão e espada com jornal;
7- Aos
cinco anos é importante que ele saiba seu nome e o quanto ele marca sua
identidade (levando em consideração que a escrita é comunicação e que ele ainda
não usa este tipo de linguagem em suas interações, basta que ele valorize seu
nome, ainda não precisa escrevê-lo);
8- Ele precisa saber que as crianças têm um modo
próprio de pensar o mundo e que nós adultos faremos um esforço para reconhecer
e valorizar suas formas de pensar;
9- Ele
precisa aprender que seus sentimentos são reconhecidos e valorizados e que os
motivos que despertam tristeza nele são sérios e não bobagens de criança para
nós;
10- Ele precisa aprender que o prazer que sentimos
ao compartilhar algo com alguém é infinitamente superior ao prazer de ter algo
todo para nós.
E todas estas coisas que eu
penso que meu pequeno precisa saber aos cinco anos ele não aprenderá numa mesa,
sentado, fazendo a lição de casa. Ele aprenderá nas interações com seus pares,
na convivência com seus familiares, na vida real de carne e osso. Não tenho
dúvida, há muito mais sabedoria num montinho de areia do parque do que em todos
os cursos de pós-graduação que fiz ao longo de minha vida. Se todos nós
soubéssemos o quanto é importante conviver eticamente na escola e fora dela a
vida seria bem mais justa e boa.
Pensando nisso e nas formas
como podemos pensar a aprendizagem de nossos filhos ajudando-os a saberem o que
realmente importa, finalizo este post com um texto do Rubem Alves que muito nos
diz sobre a intervenção do adulto frente ao desenvolvimento das crianças:
“Sabe quando você
tem duas taças de cristal? Elas estão em silêncio. Aí a gente bate uma na outra
e elas reverberam sonoramente.
Uma taça não
influenciou a outra. Uma taça fez a outra emitir o som que vivia, silencioso,
no seu cristal.
Assim é a educação:
um toque para provocar o outro soar a sua música”.
Que sejamos sempre a taça que
leva o outro a soar sua música, compreendendo que cada idade tem uma trilha
sonora que deve ser ouvida e valorizada nas suas diferenças, nas suas
particularidades.
Muito bonito o texto!!! Sensível e assertivo!!!
ResponderExcluirQue sorte a de Lucas que tem um pai como você, Diogo.
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