domingo, 7 de junho de 2015

A birra, os pais e a educação que transforma

Dia desses conversava com uma amiga e ela reforçava o quanto é difícil educar nestes tempos atuais. Isso porque temos a impressão de que as crianças e jovens de hoje apresentam mais problemas de comportamento dos que os de antigamente: birras, desobediência, revolta, etc.  Bem, isso até que é verdade. Mas é preciso que sejamos capazes de refletir sobre como educar na contemporaneidade já que, os tempos passados não voltam mais.
Mais do que isso, é necessário que sejamos capazes de entender onde estamos errando e quais as formas possíveis de educar meninos e meninas para que construam uma sociedade diferente desta que nos está posta. Ah, certamente esse é o nosso sonho!
Para iniciar esta reflexão vou compartilhar uma das principais características da educação que dou ao Tomaz, justificando um pouco esta opção. Começarei, assim, destacando porque sempre lhe dou uma possibilidade de escolha no momento em que estou agindo com ele na perspectiva de modificar um comportamento inadequado.   
Pois bem... Aqui em casa é assim: quando o Tom quer brincar com novos brinquedos, por exemplo, eu oriento que ele guarde os objetos utilizados anteriormente. Quando ele rejeita eu lhe digo:
- Filho, escolha, ou guarda os anteriores ou não poderá pegar nenhum novo.
O que eu faço neste momento é dar a ele uma possibilidade de escolha ao invés de uma proibição imediata misturada com ameaça: se não juntar não vai brincar com mais nada, como fazem muitos pais.
Sim, compreendo que esta escolha é coercitiva, mas como adulto precisamos dar aos nossos filhos opções de escolha não sobre o que fazer (que nesse caso seria guardar ou não os brinquedos), mas sobre o que é possível fazer (dentre ações aceitáveis).
Quando decide não guardar, mesmo que ele chore, esbraveje, grite, eu não permito que continue pegando novos objetos e, nesse momento, ele perde a brincadeira não por uma decisão minha, mas por uma escolha dele, já que tinha a opção de guardar e permanecer na diversão.
Esse tipo de intervenção permite que ele cresça adquirindo algo que é necessário demais a vida: que nos responsabilizemos pelas consequências naturais dos nossos atos. Ora, se é escolha dele permanecer sem guardar os brinquedos, mesmo quando lhe damos a opção de agir de forma contrária, é preciso que ele sofra as consequências de suas ações, de suas escolhas, não por uma imposição minha, mas por uma opção dele.
Tão importante quanto isso é a forma utilizada para fazer a intervenção. Não grito, não esbravejo, não fico desesperada por toda a confusão causada pelo choro ou pela birra (que os adultos potencializam mais que as crianças). O meu papel é o de manter o equilíbrio,  já que sou a adulta da relação.
E quando ajo assim, controladamente, ensino ao meu pequeno algo que ainda lhe falta: controle sobre as suas próprias emoções, transformando-as em palavras, em formas mais evoluídas de resolução de conflitos do que os tapas e gritos histéricos tão utilizados por adultos que “educam”.
Se queremos ajudar as crianças no controle de suas birras, que nada mais é do que a vontade incontrolável de que tudo aconteça ao seu próprio modo, não podemos nós, os adultos, agirmos de forma birrenta dizendo, também, coisas do tipo: eu sei gritar mais alto que você, por exemplo!
E no momento em que ele, frustrado por não fazer exatamente o que quer (o que é natural já que está numa fase bastante egocêntrica), chora muito, eu sou empática com ele e lhe digo:
- poxa, filho, imagino o quanto você está chateado por não continuar pegando novos brinquedos para a brincadeira, mas agora você terá que parar porque foi assim que escolheu.
Nada de sermão excessivo, nem nada de oprimir os sentimentos dele. Por mais errados que estejam (e isso é para nós e não para ele), os pequenos continuam tendo o direito de ficar com raiva por terem sido contrariados.
Para que uma criança aprenda a respeitar as outras pessoas é necessário que ela se sinta respeitada naquilo que sente e isso não acontece como num passe de mágica. A mudança de postura apenas é possível num ambiente no qual haja relação de confiança com a autoridade, de modo que tendo construído por si um auto-respeito sejam capazes de proporcionar o tão esperado respeito pelos outros.
Certamente não são os castigos, as surras, os gritos ou humilhações na frente de outros que fazem das crianças seres educados e respeitosos. Contrariamente a isso, este tipo de repreensão apenas são formas de fazer com que nossos filhos cresçam como pessoas que, para se sentirem felizes precisam “mandar nos outros” ou serem mandados a todo momento.
Não estou dizendo, com isso, que temos que nos tornar amigos de nossos filhos. Ao contrário, o que as crianças precisam mesmo é que nós, os adultos, sejamos sujeitos que eles possam admirar e, por isso, a nossa educação deve pautar-se em princípios e não em coações.
Tenho certeza que um “bom tapa”, como julgam alguns, pode mudar rapidamente o comportamento, trazendo a paz imediata que os pais esperam. Mas, infelizmente (ou felizmente) essa ação não educa as crianças, fazendo-as aprenderem, apenas, que são sujeitos com pouco valor. Outra consequência: eles entendem que a violência se combate com violência e, por quererem ser iguais aos pais, adotam essa mesma postura em suas relações com os outros.
Enquanto essa mania de bater nos filhos ao invés de educá-los for legitimada, ensinaremos aos nossos filhos, apenas, que o que eles têm de mais precioso: o que sentem, o que pensam, o que são – não é importante. Como queremos, então, que respeitem e reconheçam as outras pessoas?
A grande lição que precisamos, enquanto adultos, é a seguinte: quando menos mostram respeito é quando nossos filhos mais precisam ser respeitados.
Concluindo: é preciso, sim, ser autoridade para nossos filhos. Disso não se pode abrir mão. Mas o tipo de obediência que devemos esperar deles deve pautar-se em princípios e não no autoritarismo. Nós, os pais, devemos educar moralmente as crianças. Somos responsáveis, sim, por inseri-las no mundo da moral. E para isso, devemos olhar para nossos filhos como quem ainda precisa aprender e isso nos ajuda a tolerarmos mais as suas falhas, acolhendo, por isso, suas incertezas, seus erros, seus medos e fracassos.
Por fim, como disse Betinho: se não vejo na criança uma criança, é porque alguém antes a violentou; e o que vejo é o que sobrou de tudo que lhe foi tirado.

Que nós, como adultos que somos, consigamos aprender a reconhecer na criança aquilo que ela é – sujeitos que precisam da nossa visão de mundo para construir as suas próprias formas de viver; e na educação uma possibilidade de formar seres humanos melhores que, assim o são, porque a vida e lhes permitiu!     

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