segunda-feira, 18 de maio de 2015

Suavizar o Coração

Hoje li uma frase do Knost que dizia: “não é nossa função endurecer nossas crianças para que elas possam encarar um mundo cruel e sem coração. Nossa função é criar crianças que farão do mundo um lugar um pouco menos cruel e com mais coração”.
Este pequeno texto mexeu muito comigo e me levou a pensar na forma como temos concebido a educação das crianças, sempre focando no futuro (no que as crianças estão por vivenciar), fatalizando-o por um presente, na maioria das vezes, negativo.
- “Temos que deixar sofrer, para que ele fique forte”
- “Deixe ele se virar, porque no futuro ele não terá quem faça as coisas por ele”;
- “Eu prefiro bater no meu filho quando ele ainda é criança para que no futuro a polícia não precise bater nele” (esse é o tipo de afirmação que mais me mata!)
Nossa, esse tipo de situação é uma das coisas que mais me incomoda nessa minha "Viagem de Mãe", sobretudo porque evidencia o fato das pessoas acreditarem que só aprendemos através da dor e que o abandono é o que trará aprendizagem. Ademais, eu penso que é pelo fruto dessa crença que nós vamos construindo práticas educativas que, ao meu ver, mais se caracterizam por abandono afetivo e pouco ensinam aos pequenos sobre como lidar com a vida.
Um exemplo claro disso é quando vamos intervir para ajudar o nosso filho a solucionar um problema. Nestas horas, muito comumente, escutamos pessoas que nos repreendem dizendo: - “deixa ele se virar”.
-Ah, como assim se virar?
O que a criança precisa mesmo é encontrar elementos para solucionar seus problemas o que, dificilmente, conseguirá se estiver sozinha. Isso porque os pequenos, por possuírem um repertório ainda limitado de estratégias para solucionar os conflitos vivenciados precisam ser orientados pelos adultos para que se sintam seguros e consigam transpor suas dificuldades da forma mais assertiva possível. 
O Tom mesmo vivenciou isso dia desses. Ao andar no carro à noite ele gosta que deixemos a luz interna acesa. Sem me lembrar disso eu apaguei e ele, imediatamente, gritou um alto e sonoro NÃOOOOOOOOO!
Imediatamente eu lhe disse: Não se deve gritar assim com as pessoas, meu filho. Ele, meio que tentando entender o que acontecia, foi logo me dizendo:
-Então como é que se pede para apagar a luz sem gritar?
Nessa hora eu pensei o quanto as crianças precisam de nós para aprenderem formas mais assertivas de relacionamento e o quanto o fato de sermos nós, também, sujeitos com pouca habilidade sociais terminamos por contribuir para que se perpetue essa sociedade que educa filhos duros para uma vida dura.

Ao invés de gritar com meu pequeno ou bater nele (usando o argumento de que fiz isso para a polícia não fazer mais tarde) eu lhe expliquei como ele poderia falar e ele me respondeu na maior inocência infantil:
- Tá certo, mamãe, eu não sabia! Não foi malcriação.
Nessa hora eu tive a certeza do quanto eles precisam de nós, das nossas diretrizes e o quanto podemos, mesmo numa vida dura, educar filhos mais amáveis, mais cuidadosos e mais gentis.

Certamente, para isso, teremos nós, os adultos, que desenvolver estes aprendizados. Talvez um caminho seja abandonar estas crenças de que, por vivermos na dureza, precisarmos educar nossos filhos sempre com espinhos. Para uma nova vida, é necessário novas formas de vivê-la e para filhos mais amáveis é preciso de ações com mais cheiro e textura de rosas. 

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