Dia
desses conversava com uma amiga e ela reforçava o quanto é difícil educar
nestes tempos atuais. Isso porque temos a impressão de que as crianças e jovens
de hoje apresentam mais problemas de comportamento dos que os de antigamente: birras,
desobediência, revolta, etc. Bem, isso
até que é verdade. Mas é preciso que sejamos capazes de refletir sobre como educar
na contemporaneidade já que, os tempos passados não voltam mais.
Mais
do que isso, é necessário que sejamos capazes de entender onde estamos errando
e quais as formas possíveis de educar meninos e meninas para que construam uma
sociedade diferente desta que nos está posta. Ah, certamente esse é o nosso
sonho!
Para
iniciar esta reflexão vou compartilhar uma das principais características da
educação que dou ao Tomaz, justificando um pouco esta opção. Começarei, assim, destacando
porque sempre lhe dou uma possibilidade de escolha no momento em que estou
agindo com ele na perspectiva de modificar um comportamento inadequado.
Pois
bem... Aqui em casa é assim: quando o Tom quer brincar com novos brinquedos, por
exemplo, eu oriento que ele guarde os objetos utilizados anteriormente.
Quando ele rejeita eu lhe digo:
-
Filho, escolha, ou guarda os anteriores ou não poderá pegar nenhum novo.
O que eu
faço neste momento é dar a ele uma possibilidade de escolha ao invés de uma
proibição imediata misturada com ameaça: se não juntar não vai brincar com mais
nada, como fazem muitos pais.
Sim,
compreendo que esta escolha é coercitiva, mas como adulto precisamos dar aos
nossos filhos opções de escolha não sobre o que fazer (que nesse caso seria
guardar ou não os brinquedos), mas sobre o que é possível fazer (dentre ações
aceitáveis).
Quando
decide não guardar, mesmo que ele chore, esbraveje, grite, eu não permito que
continue pegando novos objetos e, nesse momento, ele perde a brincadeira não por uma decisão
minha, mas por uma escolha dele, já que tinha a opção de guardar e permanecer
na diversão.
Esse tipo
de intervenção permite que ele cresça adquirindo algo que é necessário demais a
vida: que nos responsabilizemos pelas consequências naturais dos nossos atos. Ora,
se é escolha dele permanecer sem guardar os brinquedos, mesmo quando lhe damos
a opção de agir de forma contrária, é preciso que ele sofra as consequências de
suas ações, de suas escolhas, não por uma imposição minha, mas por uma opção
dele.
Tão
importante quanto isso é a forma utilizada para fazer a intervenção. Não grito,
não esbravejo, não fico desesperada por toda a confusão causada pelo choro ou
pela birra (que os adultos potencializam mais que as crianças). O meu papel é o
de manter o equilíbrio, já que sou a
adulta da relação.
E quando
ajo assim, controladamente, ensino ao meu pequeno algo que ainda lhe falta:
controle sobre as suas próprias emoções, transformando-as em palavras, em
formas mais evoluídas de resolução de conflitos do que os tapas e gritos
histéricos tão utilizados por adultos que “educam”.
Se
queremos ajudar as crianças no controle de suas birras, que nada mais é do que
a vontade incontrolável de que tudo aconteça ao seu próprio modo, não podemos
nós, os adultos, agirmos de forma birrenta dizendo, também, coisas do tipo: eu sei
gritar mais alto que você, por exemplo!
E no
momento em que ele, frustrado por não fazer exatamente o que quer (o que é natural
já que está numa fase bastante egocêntrica), chora muito, eu sou empática com
ele e lhe digo:
- poxa, filho, imagino o quanto você está
chateado por não continuar pegando novos brinquedos para a brincadeira, mas agora você terá que parar porque
foi assim que escolheu.
Nada
de sermão excessivo, nem nada de oprimir os sentimentos dele. Por mais errados que estejam (e isso é para nós e não para ele), os pequenos continuam tendo o
direito de ficar com raiva por terem sido contrariados.
Para
que uma criança aprenda a respeitar as outras pessoas é necessário que ela se
sinta respeitada naquilo que sente e isso não acontece como num passe de
mágica. A mudança de postura apenas é possível num ambiente no qual haja
relação de confiança com a autoridade, de modo que tendo construído por si um
auto-respeito sejam capazes de proporcionar o tão esperado respeito pelos
outros.
Certamente
não são os castigos, as surras, os gritos ou humilhações na frente de outros
que fazem das crianças seres educados e respeitosos. Contrariamente a isso, este
tipo de repreensão apenas são formas de fazer com que nossos filhos cresçam
como pessoas que, para se sentirem felizes precisam “mandar nos outros” ou serem
mandados a todo momento.
Não
estou dizendo, com isso, que temos que nos tornar amigos de nossos filhos. Ao
contrário, o que as crianças precisam mesmo é que nós, os adultos, sejamos
sujeitos que eles possam admirar e, por isso, a nossa educação deve pautar-se em princípios
e não em coações.
Tenho
certeza que um “bom tapa”, como julgam alguns, pode mudar rapidamente o
comportamento, trazendo a paz imediata que os pais esperam. Mas, infelizmente
(ou felizmente) essa ação não educa as crianças, fazendo-as aprenderem, apenas,
que são sujeitos com pouco valor. Outra consequência: eles entendem que a
violência se combate com violência e, por quererem ser iguais aos pais, adotam essa
mesma postura em suas relações com os outros.
Enquanto
essa mania de bater nos filhos ao invés de educá-los for legitimada,
ensinaremos aos nossos filhos, apenas, que o que eles têm de mais precioso: o
que sentem, o que pensam, o que são – não é importante. Como queremos, então,
que respeitem e reconheçam as outras pessoas?
A grande lição que precisamos, enquanto
adultos, é a seguinte: quando menos mostram respeito é quando nossos filhos
mais precisam ser respeitados.
Concluindo:
é preciso, sim, ser autoridade para nossos filhos. Disso não se pode abrir mão.
Mas o tipo de obediência que devemos esperar deles deve pautar-se em princípios
e não no autoritarismo. Nós, os pais, devemos educar moralmente as crianças.
Somos responsáveis, sim, por inseri-las no mundo da moral. E para isso, devemos
olhar para nossos filhos como quem ainda precisa aprender e isso nos ajuda a
tolerarmos mais as suas falhas, acolhendo, por isso, suas incertezas, seus
erros, seus medos e fracassos.
Por
fim, como disse Betinho: se não vejo na criança uma criança, é porque alguém
antes a violentou; e o que vejo é o que sobrou de tudo que lhe foi tirado.
Que
nós, como adultos que somos, consigamos aprender a reconhecer na criança aquilo
que ela é – sujeitos que precisam da nossa visão de mundo para construir as
suas próprias formas de viver; e na educação uma possibilidade de formar seres
humanos melhores que, assim o são, porque a vida e lhes permitiu!
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