Hoje estava fuçando o
facebook quando vi um post do querido Francisco Alexandrino sobre o livro
abaixo.
Imediatamente o título da
obra me chamou atenção, acendendo em mim a luz vermelha de preocupação: minha
nossa, só me faltava essa! Estou até vendo mães e pais consumidos pelo desejo
de educarem filhos gênios, aplicando letra por letra da leitura do livro. Estou
até vendo – como conseqüência – crianças sofrendo pelas pressões paternas e
maternas, sem conseguirem atender as expectativas de seus pais. E por fim, vejo
pais frustrados, crianças deprimidas, e nenhum gênio que tenha sido treinado
para isso através desta magnífica obra.
Minha nossa, um livro dessa
natureza é um risco a saúde social. Isso porque leva pais e mães a colocarem a
saúde mental de seus filhos em risco, motivados pela possibilidade de sucesso:
meta geral nesta sociedade pós-moderna, cujos valores capitalistas são tão
presentes.
O pior é que esta obra não é
uma publicação isolada. Apenas numa busca rápida pela internet achei mais de
dez livros cujas propostas são as mesmas das defendidas no livro aqui
apresentado: orientar pais a educarem filhos para serem gênios. Não é possível
que isso esteja acontecendo e nós, pedagogos, pais e mães estejamos
indiferentes a isso.
É preciso que questionemos
esta realidade, a partir de algumas reflexões. A primeira delas é: qual a
importância de que nossos filhos sejam gênios? Será que é porque acreditamos
que sendo eles demasiadamente inteligentes garantimos que terão sucesso
financeiro, quase como se isso fosse uma equação exata?
Ledo engano! Dias desses li
um estudo longitudinal, feito por pesquisadores norte americanos, cujo
acompanhamento de crianças com alto, médio e baixo desempenho permitiu afirmar:
não são as pessoas com maiores notas na escola que garantem o sucesso
profissional, mas a existência de projetos claros de vida. Isso quer dizer que
mais vale saber aonde se quer chegar do que ter 10 em todas as disciplinas do
boletim escolar.
Segundo, é possível
transformar nossos filhos em gênios? Para esta, a resposta é negativa. E, ainda
mais, ela é um risco, porque a vida de uma criança cuja meta paterna é
transformá-la em gênio vira um verdadeiro martírio: ela ouve Mozart desde o
nascimento, porque os pais ouviram que música clássica potencializa a
inteligência; ela faz inglês antes de aprender a falar sua língua materna; faz
aula de reforço antes de aprender a escrever seu próprio nome, freqüenta teatro,
cinema, exposição e tudo mais que possa fortalecer seu repertório cultural,
transformando o entretenimento sempre em possibilidade de desenvolvimento... A
criança gênio em potencial faz tudo... só não faz o que ela poderia fazer para
crescer saudável e feliz: ser criança.
Não estamos nos dando conta
de que estamos vivendo num mundo tão competitivo que
nos leva a adotar uma posição de competição incluindo a criança nisso. É preciso
que reconheçamos que cada criança é única, possuindo um ritmo de aprendizado
próprio, adequando aos seus níveis de desenvolvimento. Não adianta querer que
uma criança faça equações aos oitos anos, porque ela não tem condições
cognitivas para isso.
Na tentativa de
educarmos gênios estamos, na verdade, pulando fases e enlouquecendo as escolas
que, cada vez mais, se vêem obrigadas a alfabetizar as crianças com quatro ou
cinco de anos de idade, alimentando o ego dos pais que poderão dizer nas
festinhas infantis: meu filho lê e escreve aos cinco anos.
Gente, isso é um
absurdo, pois o sistema nervoso da criança ainda não está maturado para esse
tipo de atividade e forçá-la a realizar tarefas para as quais ainda não está
pronta pode levar a criança a apresentar dificuldades de aprendizagem um pouco
mais tarde.
Essa geração de
gênios é a mesma geração da depressão infantil, das crianças com distúrbios do
sono, com alterações alimentares, com fobias e tantos outros transtornos
psicológicos que até pouco tempo era “privilégio” do mundo adulto. Isso não é
coincidência.
Estamos, como
pais, tão preocupados com o futuro dos filhos que acabamos transmitindo para
eles nossas expectativas. Enquanto as crianças de antes fantasiavam sobre o
futuro imaginando se seriam astronauta ou estrela de cinema, as crianças
educadas para serem gênios imaginam, cada vez mais cedo, quantos carros terão
na garagem ou quantas viagens vão fazer ao exterior. A preocupação desta
geração que forma gênios está sempre ligada à riqueza material.
Não podemos
fazer nossos filhos acreditarem que dinheiro é o único sinal de sucesso e que a
obtenção desse sucesso virá através de boas notas. Corremos o risco de
estressar nossos filhos e, ainda mais, inibi-los na busca do que realmente
importa na vida: a busca pela felicidade.
É por isso que
eu penso que não precisamos de filhos geniais, mais de filhos que enxerguem em
nós o suporte emocional que precisam para se desenvolver saudável e feliz.
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