Ontem
à tarde, fomos ao cinema eu, Tom, o pai dele e um amiguinho que meu pequeno
convidou para ir junto conosco. A escolha do dia foi O PEQUENO PRÍNCIPE, uma história
cujo livro é admirado por mim desde a infância e que eu queria muito que meu filho
pudesse começar a conhecer.
Como a
maioria das pessoas, o que mais me impressiona na obra literária é a profundidade
e leveza com que coisas tão lindas são ditas. Eu jamais me esquecerei, durante
toda a minha vida, das frases tradicionais que li no livro e que me acompanham durante
todos os momentos: “o essencial é invisível aos olhos”; “só se vê bem com os
olhos do coração”; “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que
cativas”; “a gente só conhece bem as coisas que cativou” e tantas outras que me
ensinam, sem dúvida, a ser uma pessoa melhor (ou ao menos tentar).
Fui ao
cinema permeada pelo mais ambivalente dos sentimentos: expectativa e
insegurança. Isso porque toda vez que um livro é traduzido para as telonas chovem críticas que afirmam: o livro é muito superior! Assim, decidi
embotar a expectativa e me aventurar a, durante a sessão, me deixar cativar. Pensei:
mesmo que não valha tanto a pena, alguma coisa eu ei de apreciar e logo lembrei
da frase do Pequeno Príncipe: “é preciso que eu suporte duas ou três larvas se
eu quiser conhecer as borboletas!”
Entretanto,
a borboleta me apareceu logo que sentei na poltrona, de modo que desde a primeira
cena a fotografia me impressionou, a trilha sonora me sensibilizou e a
delicadeza das falas das personagens me emocionaram tanto que, muitas vezes,
foi impossível segurar as lágrimas. Nessa hora, lembrei da raposa e pensei: “ a
gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar” e percebi que
eu estava completamente apaixonada por este filme, cada vez mais.
A obra é leve e profunda. Não é uma tradução pura e simples da obra de Saint-Exupéry, mas uma imersão da sua poética na história de uma garotinha, cuja mãe é uma controladora obsessiva que possui como meta de vida a sua aprovação na melhor escola da cidade.
Para
isso, a mãe embota a infância da menina, controlando, a todo momento, todos os
passos e ações da garota: estudar, ler, fazer exercício, comer... Tudo
minimamente programado. A mãe esquece, apenas, de que do outro lado, aquele ser, que mais parece um robô, é uma criança que já tem sentimentos e que precisa ser
feliz.
Diálogos
como “você será uma grande pessoa quando crescer, minha filha!” são muito
comuns nas trocas entre mãe e filha e evidenciam uma concepção materna muito
clara: a mãe percebe a filha como um
projeto para seus sonhos pessoais, não como uma criança que sente, pensa e
vive.
A infância, de verdade, começa a se evidenciar quando a garotinha faz amizade com o aviador que lhe apresenta o texto do pequeno príncipe de modo despretensioso, sem obrigações nem, tampouco, aplicabilidade.
A menininha, que até então só lia o que servia para sua aprovação na famosa escola,
começa a imaginar, a viajar pelo mundo da fantasia bem característico às
crianças, fazendo-a descobrir o que, de verdade, é importante ao mundo e a nós
mesmos.
O filme fala de infância, mas fala, sobretudo, da efemeridade das relações, de como nós, os adultos, valorizamos coisas secundárias, subjugando o que essencial e invisível aos olhos sem reconhecer que há coisas que são inacessíveis ao dinheiro.
O filme fala de infância, mas fala, sobretudo, da efemeridade das relações, de como nós, os adultos, valorizamos coisas secundárias, subjugando o que essencial e invisível aos olhos sem reconhecer que há coisas que são inacessíveis ao dinheiro.
Ah, para
mim, essa foi uma das partes mais marcantes do filme. Em uma das cenas mais
lindas, o Pequeno Príncipe se encontra com o homem de negócios que contava as estrelas do céu, julgando-se dono
delas. Quanto mais estrelas contava, mais rico se sentia. Apoderara-se das
estrelas que jamais tinham sido reivindicadas. Sua fortuna brilhava no céu,
impalpável, como a ilusão de todas as riquezas do mundo e, percebendo
isso, o principezinho lhe pergunta: o que fazes tu dessas estrelas?
- O
que faço delas?
-Sim.
-Nada.
Eu as possuo.
- Tu
possuis as estrelas?
- Sim.
- Mas
eu já vi um rei que...
- Os
reis não possuem. Eles “reinam” sobre. É muito diferente.
- E de
que te serve possuir as estrelas?
-
Serve-me para ser rico.
- E
para que te serves ser rico?
- Para
comprar outras estrelas, se alguém achar.
(...)
-
Basta isso? - E prosseguiu – Tu não podes colher as estrelas.
- Não,
mas posso colocá-las no banco.
- Só
isto?
- E
basta...
- É
divertido - pensou o principezinho. Eu possuo uma flor que rego todos os dias.
Possuo um vulcão que revolvo toda semana, porque eu revolvo também o que está
extinto. A gente nunca sabe. É útil para os meus vulcões, e útil para minha flor
que eu os possua. Mas tu não és útil às estrelas.
O
homem de negócios abriu a boca, mas não achou nada a responder. Desiludido com
a ganância do homem, o principezinho seguiu a sua jornada, mas não sem
antes nos tocar profundamente e nos fazer refletir sobre como temos “colecionado
estrelas” que em nada iluminam nossos dias. Como temos deixado pouco tempo para
a convivência com os filhos, com os amigos, com aqueles que amamos, desprezando
o ensinamento de “que foi o tempo que dedicastes a tua rosa que fez dela
importante”.
Não pude sair do filme sem estar profundamente mexida... sem olhar para meu filho pensando o quanto tenho necessidade dele, pois “ele é, para mim, único no mundo e eu serei, sempre, para ele única também”, e mesmo que um dia nós já não estejamos juntos (infelizmente as mães não são para sempre), eu espero que ele tenha aprendido que basta que ele fique contente por ter me conhecido, e que ao lembrar de mim, ele perceba que passamos toda a nossa vida nos cativando e, justo por isso, estaremos sempre juntos, mesmo que não nos vejamos mais, porque “o essencial é invisível aos olhos”.
Filme lindo e emocionante, muito mais apreciado
por mim do que pelo Tom, que ainda não entende o que significam aquelas palavras, mas já sente o quão grande é o amor que elas traduzem. Sai do cinema, realmente, cativada.
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