Educar é tomar decisões, sempre. Não tenho a menor dúvida com
relação a isso. Mas como tomamos as decisões na hora de educar, visto que, nem
sempre, as recionalizamos? Pensei muito sobre isso ontem observando Tomaz
entrar no mar com o pai dele.
A cena foi: Os dois se dirigiam, de mãos dadas, para o mar.
Diante de um corredor de sargaço, Tomaz pede ao pai que lhe ponha no colo.
Neste momento, o pai tem que decidir: encoraja o filho a enfrentar o medo e
ultrapassar o sargaço ou acolhe a criança e seu medo e coloca Tomaz no colo durante
a ultrapassagem? A cena demorou menos de 10 segundos, mas o suficiente para que
eu a olhasse cheia de admiração. Não tinha dúvidas do que aconteceria: o pai
acolheria o filho no colo.
Diante do enfrentamento pensei: e se ele tivesse encorajado
Tomaz a enfrentar os sargaços, qual tipo de contribuição ele teria dado ao
nosso menino? Certamente, para alguns, ele teria ajudado Tomaz a reforçar sua
coragem diante da vida, o que seria positivo para o enfrentamento de desafios
futuros. Sim, não tenho dúvidas quanto a isso e não tenho dúvidas, também, que
a coragem é uma virtude importante diante da vida. Sobretudo se pensarmos com
Comte-Sponville quando ele afirma que a coragem é a capacidade de superar o
medo e a covardia é se entregar ao medo. Digo isso para afirmar que, uma outra
pessoa vendo a cena, pode ter pensado que o pai embotou a coragem e estimulou a
covardia, não permitindo que Tomaz enfrentasse seu medo sozinho.
Mas como já disse, educar é fazer escolhas e, para nossa
família, a coragem só precisa ser estimulada quando é percebida do ponto de
vista moral e se põe em favor do outro. A coragem dos valentões não nos interessa
e, com isso, acolher Tomaz diante de seu medo é algo mais relevante do que torná-lo
um valentão.
Acreditamos que quanto mais segura for uma criança, mas ela
terá coragem diante da vida e, para tal segurança, é importante saber que não
podemos enfrentar tudo e, muito menos, fazer tal enfrentamento sozinho. A
coragem não é ausência do medo, mas, sim, a capacidade de enfrentá-lo, de
dominá-lo. Saber que há um colo para subir, vez ou outra, é muito importante na
vida e o que Tomaz aprendeu ontem no colo de seu pai foi, ao meu ver, muito
mais importante do que a aprendizagem forçada de enfrentar o desconhecido (neste
caso em particular o sargaço) de toda e qualquer forma.
Me deu um orgulho danado do pai que escolhi para meu filho.
Me deu um orgulho danado das decisões que estamos tomando, juntos, na educação
dos pequenos. Sei que educar é fazer escolhas e que, nesta estrada da vida,
nossas escolhas poderão ser equivocadas. Mas sei, também, que mesmo erradas,
tais decisões estarão amparadas num amor sem tamanho e na crença de que acolher
o outro é sempre mais importante do que abandoná-lo a própria sorte.
É sobre isso que vamos decidindo, é sobre estas crenças que
vamos caminhando. Espero que com a chegada dos nossos dois pequenos que estão a
caminho, Théo e Thales, consigamos manter nossas escolhas pautadas neste amor
tão grande que nos une e nos encoraja a decidir sempre.