quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Primeira sugestão: Seja uma mulher completa.



Filhos, ser mãe não é fácil nem, tampouco, natural. A gente aprende a ser mãe na relação com vocês e conosco mesmo. Saibam que há muita ditadura em torno da maternidade perfeita. Muitas mulheres acreditam que a boa mãe é aquela que se dedica integralmente e exclusivamente às crias, abrindo mão de trabalhar ou fazer outras coisas que goste e ache importante.
Saibam que eu amo vocês acima de tudo, mas amo, também, meu trabalho e outras vidas que eu tenho além da materna. Por isso, eu desejo trabalhar, me divertir, estudar e fazer outras coisas além de cuidar de vocês. Além disso, eu também preciso do meu emprego. Ao trabalhar, eu espero que vocês entendam que as mulheres gostam do que fazem, se realizam no exercício profissional e podem e devem conciliar os muitos papéis que desempenham porque são completas. Isso não quer dizer nunca que eu deva bancar a supermulher e retroalimentar o discurso machista de que as mulheres fazem mil coisas ao mesmo tempo, diferentemente dos homens.
Espero que aprendam, também, que mulheres e homens, juntos, devem batalhar pelo provimento da família e que nunca se julguem como os únicos que precisam trazer os alimentos para casa. Os adultos da relação precisam garantir o sustento e, se por alguma razão sua esposa ganhar mais do que você, não se constranja por isso. Numa família não importa de quem venha a renda, sobretudo porque o que é de um deve ser de todos. 
Aprendam, também, que pessoas devem fazer mil coisas ao mesmo tempo quando precisam e não fazer nada quando podem, incluindo, nisso, homens e mulheres. Para dar conta das muitas demandas, divida as tarefas em casa com suas esposas e não trate como ajuda aquilo que faz na educação dos filhos. O casal precisa refletir sobre como conciliar carreira e filhos e não apenas a mulher. Aprendam, por fim, que homens e mulheres desempenham múltiplos papeis e o trabalho feminino conciliado com a maternidade é tão natural quanto o trabalho masculino conciliado com a paternidade.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Para educar meninos feministas: um manifesto.




Estes dias nós estávamos em casa quando Tomaz começou a assistir ao desenho animado da Luluzinha. No episódio assistido houve a seguinte fala de Bolinha:
- As mulheres são fracas e não mandam em nada.
Quando pensei  em fazer alguma intervenção para descontruir a asneira dita, escuto Tomaz falar a um amigo que dormia em nossa casa:
- Nossa, Bolinha não sabe de nada. Dilma é mulher e era presidente do país antes de roubarem o governo dela.
Ao ouvir Tomaz falar isso me deu um alívio enorme quanto a eficácia da educação feminista que adotamos em casa. Confesso que sempre me preocupei muito, sendo mãe de meninos, em educá-los numa perspectiva de equidade de gênero porque acredito que superar o machismo não deve somente ser uma luta das mulheres, mas de todos os cidadãos e cidadãs. Eu, como mãe de meninos num país tão machista, me vejo envolta à necessidade de educá-los para reconheçam essa necessária equidade e possam, com isso, respeitar as mulheres e, também, a forma de masculinidade que eles escolham viver.
Homem chora! Homem fraqueja! Homem sofre! Cotidianamente eu e meu marido trabalhamos questões desta natureza em nossa casa e acreditamos que os meninos poderão viver seus sentimentos sem que seja necessário pensar sobre o que é permitido ou negado aos meninos. Sentimentos, em nossa casa, são tratados como algo inerente aos humanos e não às mulheres.
No meio de minhas reflexões sobre educação feminista li o livro: Para educar crianças feministas: um manifesto (Companhia das Letras) escrito pela Ngozi Adichie. Gostando muito do conteúdo pensei o quanto era “limitada” a obra ter sido escrita para falar como educar uma menina feminista. Educar mulheres empoderadas já é um discurso que circula com certa aceitação, embora ainda esteja iniciando. Entretanto, quase impossível é encontrar reflexões em torno da educação de meninos que seja respeitosa e que valide a igualdade de direitos entre os gêneros, máxima de uma educação feminista.
Por isso, decidi eu mesma, inspirada por este livro, fazer minhas reflexões sobre como educar meus garotos feministas. Penso isso porque acho que não é suficiente eles não serem machistas. É preciso ir além e reconhecer que homens e mulheres podem ser feministas quando reconhecem o que já nos anunciou Simone de Beauvoir:
Não acredito que existam qualidades, valores, modos de vida especificamente femininos: seria admitir a existência de uma natureza feminina, quer dizer, aderir a um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de se afirmar como mulher, mas de tornarem-se seres humanos na sua integridade.
Por isso, acreditando que não existe modos de vida puramente femininos ou masculinos, resolvi reescrever o manifesto incluindo minhas reflexões sobre educar meninos feministas. Para isso, segui a ordem da autora na sequência da obra, posto que ela nos traz quinze sugestões fundamentais para esta perspectiva educacional. São estas sugestões, uma a uma, que serão traduzidas aqui para mim, mãe de três meninos, a fim de que eu nunca as esqueça nas relações que estabeleço com minhas crianças e que, por serem interações sociais, estão permeadas de valores que os educam. Vamos lá...

Tomaz, Théo e Thales, meus amores. A mamãe acredita muito num mundo no qual todas as pessoas, sem distinção de crença, etnia, gênero ou qualquer outra diferença sejam tratadas como humanas. Por isso, ela investe numa educação não racista e não sexista para vocês, desejando, com todo o coração, que valores de igualdade, respeito, justiça e generosidade estejam contemplados na identidade de vocês.
É por isso, a mamãe investe numa educação feminista, pois, para ela, estes valores são marcas desta forma de educar. É claro que apenas acreditar nisso e investir na educação de vocês não garante que os formarão como garotos feministas. É preciso que eu lhes garanta, também, autonomia de pensamento, pois decidir entre o que é certo e errado depende muito do contexto. É por isso que em nossa casa nos dialogamos, respeitamos o sentimento uns dos outros e valorizamos as escolhas pautadas nos valores dos quais não abrimos mão. Eu acredito que, a partir dos valores que vivemos em nossa casa, vocês serão capazes de julgar as relações e agir pautados no respeito mútuo.
Por isso, a mamãe reescreve este manifesto, na verdade, mais para ela do que para vocês. Ela reescreve para que consiga pensar sobre o feminismo dela mesma e, com isso, as práticas educativas de vocês. Ela escreve, ainda, para ajudar outras mães, também feministas, a pensarem sobre a educação de seus meninos.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

O que não dizer a uma mãe ou a um pai de gêmeos


Tenho observado, nesta minha mais nova trajetória de mãe de múltiplos, que bebês gêmeos chamam muita atenção por onde passam. Ao observarem dois carrinhos lado a lado, muitas pessoas se aproximam, fazem perguntas e, obviamente, emitem comentários a partir de seus julgamentos sobre como é viver a maternidade de mais de um bebê ao mesmo tempo.
Muitos desses comentários são bem agradáveis e alegram o meu coração. Outros, entretanto, são repletos de julgamentos e me entristecem, posto que viver essa experiência é, para mim, maravilhosamente linda. Desde que soube que havia dois bebês em meu ventre, fui tomada de uma alegria e de uma sensação de que estava sendo duplamente agraciada. O que de melhor alguém pode receber do que ter um filho? Somente ter dois ou mais. Por isso, ouvir julgamentos que tratam a maternidade de dois de forma pejorativa ou demasiadamente penosa é algo que eu, realmente, não gosto.
Justo por isso decidi escrever esse post com o título: o que nunca dizer a uma mãe ou a um pai de gêmeos. As observações aqui colocadas são fruto de minha pouca experiência neste campo, já que os meus meninos só possuem três meses. Mesmo assim, ela expressa alguns comentários pouco empáticos que temos ouvido e que, de alguma forma, chateiam nossos lindos dias.

1-    Que trabalhão, não é?

Nove em cada dez pessoas que se aproximam de nós emitem esta frase dentre as primeiras que pronunciam. Sim, bebês dão trabalho. Fazem isso não porque são mimados, mas, sim, por serem totalmente dependentes dos adultos tanto fisicamente quanto emocionalmente. Acordar a noite para alimentar ou acalentar, trocar fraldas, dar banho, entre outras coisas faz parte da rotina de qualquer recém-nascido. No caso de gêmeos não é diferente e este tipo de trabalho deve ser totalmente previsível quando se deseja ter um ou mais bebês.
O problema não está, ao meu ver, nas pessoas reconhecerem este trabalho. A questão chata é que isso seja dito logo de cara como o fator mais relevante. Parece que o mais importante é o trabalho que se tem e não o amor que se vive.

2-    São seus primeiros filhos? Vai fechar a fábrica, não é?

Parece-me que há uma “lei” atual de que as pessoas só podem ter dois filhos. Vivemos no Brasil um sistema ditatorial (do julgamento alheio) que determina quantos bebês você tem o direito de ter: no máximo dois. Superar a expectativa social tem sido enxergado como uma afronta e tratado, por grande parte das pessoas, de forma muito desrespeitosa.
 Como meus gêmeos vieram após um menino mais velho, as pessoas, quando me fazem a pergunta sobre serem os primeiros escutam:
- Não, já tenho um mais velho de seis anos.
Neste momento, me olham com ar piedoso e completam:
- Nossa, você é doida? Gosta de ter filhos, não é?!
Bem, eu gosto sim de ter filhos e sempre quis ter três crianças em casa. Na verdade, queria até mais, mas as condições biológicas, sociais e financeiras não me permitem. Acho muito desagradável quem julga quantos filhos você está autorizado a ter. Essa é uma decisão que diz respeito, unicamente, aos pais e quanto menos julgamento melhor. Por isso, jamais emende a pior pergunta: Vai fechar a fábrica, não é? Lembrem sempre que esta é uma decisão da família. Somente os pais sabem de seus desejos e suas condições. Sua curiosidade em saber as pretensões do casal não deve nunca ser maior que o respeito às decisões dos outros. 

3-    Vai tentar a menininha?

Me parece existir, além da ditadura do número de filhos, uma crença generalizada de que todas as pessoas desejam ter meninos e meninas. Não entendo porque todos acham que qualquer pessoa, sobretudo as mulheres, desejam ter uma mini versão de si mesmas.
No meu caso tenho três meninos e me sinto completa e realizada assim. Caso a pergunta fosse: deseja ter mais filhos? Talvez eu respondesse que sim, mas, mais uma vez, o sexo seria completamente indiferente, já que amo pessoas e não o sexo ou gênero que elas apresentam.
Poderia ter quatro filhos e quatro meninos. Não me faria nenhuma diferença a presença de meninas ou meninos, mas, sim a possibilidade de amar e ser amada por mais filhos sendo todos meninos, todas meninas ou meninos e meninas. Nunca tive preferências a este respeito e isso pode ser absolutamente normal.   

4-    Eles são idênticos? Mas a mãe sempre reconhece, não é?

Sim, no meu caso eles são idênticos. Nem todo gêmeo é igual ao outro, mas, em meu caso, sendo univitelinos, a probabilidade é imensa de que sejam completamente iguais. De tão parecidos, a família vai encontrando formas de diferenciá-los, prestando atenção aos mínimos detalhes e a variáveis de personalidade.
Nem sempre a mãe sabe quem é. Nem sempre o pai, a vó, as tias sabem quem é quem. Mas parece que somente a mãe carrega esta obrigação tácita de diferenciá-los e, não distinguir imediatamente cada um dos bebês é tratado como algo inconcebível para uma “boa mãe”.
Aqui em casa, agora, tem sido um pouco mais fácil diferenciar Théo de Thales. Nem sempre isso é possível e eu, a mãe das crianças, já os confundi algumas vezes. Por isso, sabendo que nem sempre a mãe reconhece quem são, apostamos em cores de chupeta diferentes, roupas diferentes e a utilização de pulseira com nome para que Théo não vire Thales nem Thales vire Théo.
Por isso, esse tipo de pergunta coloca sobre as mães uma responsabilidade que elas não dão conta e cria uma culpa imensa nelas, visto que elas acreditam que todas as mães de gêmeos possuem a capacidade sobrenatural de diferenciá-las, o que não é verdade.

5-    Foi natural ou fez inseminação?

Dentre as perguntas mais inconvenientes feitas às mães de gêmeos esta me parece a Top One entre as piores. Qual a diferença entre o método de fecundação? É mais mérito ser natural ou fertilização in vitro?
No meu caso, meus meninos vieram numa gravidez natural, mas, poderiam ter vindo por fertilização que não seria problema algum. É possível que venha uma gravidez de gêmeos naturalmente, mesmo quando não há ninguém na família com este histórico prévio. Esse é o meu caso.  
Eu não teria problemas em falar sobre tratamentos para engravidar, mas há mulheres que não gostam e elas têm o direito de não quererem falar sobre isso. O mais engraçado é que quando as pessoas veem um bebê único, dificilmente, perguntam sobre o método de fecundação.
Saibam que há gêmeos que, naturalmente, são gerados. Há gêmeos que, por fertilização, são gerados. É exatamente igual aos casos de bebês únicos. O importante é que eles foram desejados, amados, esperados e cuidados. A forma como foram gerados não faz diferença e não diz respeito a ninguém além dos pais. Por isso, embora esta seja a última coisa que não se deve dizer aos pais de gêmeos neste texto, deve ser a primeira a ser evitada.

Há perguntas alternativas e bem mais agradáveis a se fazer às mães e aos pais gemelares: Como tem sido viver esta experiência?  Como é incrível, não é? Precisam de ajuda? Posso colaborar com algo? 
Caso não consiga pensar em nada melhor do que as cinco frases/expressões acima, apenas sorria para mãe ou para o pai e elogie suas crias. Nada é mais feliz para quem vive a maternidade/paternidade do que ouvir um: "como são fofos seus bebês!" Certamente, apenas com elogio, não correrá o risco de ser desagradável justo num momento em que mãe e pai estão super felizes.



quarta-feira, 13 de junho de 2018

Estimulando os Gêmeos - terceiro mês


Aqui em casa tem bebezinhos que estão crescendo. Semana que vem os gêmeos farão três meses e, como todo bebezinho (sobretudo os prematuros), precisam de muitos estímulos.
O post de hoje é para compartilhar um pouco de nossos dias, das atividades que temos feito e de como tem sido divertido o dia-a-dia e as propostas de atividades que temos vivenciado.
Como temos duas crianças e apenas uma mãe, a proposta é que as atividades sejam feitas no chão, pois é mais firme para favorecer o desenvolvimento do que uma cama. Como eles ainda são pequenos, o que faz com que não tenham pleno domínio da cabecinha, fiz a opção por adquirir um tapete emborrachado, a fim de garantir a estabilidade para os movimentos e a maciez necessária para que acidentes sejam evitados.


Buscando inserir as atividades em nossa rotina, uso todos os dias o mesmo repertório musical, a fim de que Théo e Thales compreendam que os momentos no qual escutam aquelas canções eles estão fazendo suas atividades. O disco escolhido foi do Palavra Cantada – Pauleco e Sandreca, pois as músicas, além de lindas, são bem animadas.
As atividades, normalmente, se repetem. Começo com as estimulações auditivas, utilizando chocalhos para que eles direcionem o olhar para o lado de onde vem o som. Neste momento, também canto bastante e fico utilizando sons (ba-ba-ba-ba) repetitivos, buscando estimulá-los no início dos primeiros sons. O objetivo, com esse tipo de estímulo, que meus pequenos percebam que podem brincar com os sons.
Depois fazemos muitas estimulações visuais. Para este momento eu faço uso do espelho. Tem sido muito interessante observar com eles têm demonstrado interesse em olhar para a imagem deles refletida no espelho. Além disso, produzimos um cabide com fitas coloridas, que eu brinco passando próximo a eles, buscando que eles olhem, mas, também, tentem tocar.

Para estimular a motricidade, eu os coloco de bruço e fico emitindo sons no alto, a fim de que eles comecem a levantar a cabeça buscando a direção do som. O objetivo é fortalecer a musculatura dos ombros e pescoço, garantindo melhor domínio de cabeça.
Também introduzimos esta semana a leitura de livrinhos. Com esta atividade eu busco inserir a leitura no cerne das atividades prazerosas, buscando criar um ambiente leitor em nossa casa. Como a visão deles ainda é comprometida, eu tenho feito uso de livros grande, coloridos e que trazem Pop ups (aquelas imagens que saltam das páginas). Tem sido muito divertido ler junto com os pequenos.
Também brincamos livremente, com o que dá na minha cabeça. Brincamos porque estar junto é muito legal e a brincadeira, de toda forma que for feita, contribui para estreitar os vínculos e apresentar o mundo aos meus meninos que estão, pouco a pouco, passando a conhece-lo.


domingo, 6 de maio de 2018

Carta para o meu filho mais velho



Tom, nossa vida, há pouco tempo, mudou demais, não foi? Nossa rotina, nossas atividades, tudo que fazíamos juntos, de repente, parece ter ficado difícil de acontecer desde que nos tornamos uma família maior com cinco pessoas.
Imagino que a forma como as coisas estão acontecendo são bem diferentes de tudo que você esperava e desejou, não é? Você não desejou uma mãe e um pai sem tempo; você não desejou ter que ficar em casa porque agora temos dois bebês que não podem sair para passear; você não desejou que a mamãe e o papai estivessem tão cansados porque acordam a noite inteira para alimentar seus irmãos e cuidar para que eles estejam bem. Você queria, justamente, o contrário.
Conhecendo teu coração generoso e amigo, sei que o que querias era ter sempre companhia, era conviver com amigos que moram na sua mesma casa, era ter uma rotina de mais diversão e alegria. Justo por isso, a chegada dos bebês em casa foi um grande balde de água fria, não é? Esses dois menininhos vieram trazendo o contrário de tudo que você queria e esperava.
Sei bem que pode estar sendo tudo muito frustrante para você que imaginava que Théo e Thales trariam ainda mais aventura para nosso dia-a-dia e que tudo seria bem mais legal com eles junto de nós. Sim, você esperava que eles já soubessem brincar, que te fizessem companhia, não é? Seria bem legal se fosse assim, mas a vida é diferente. Eles chegaram junto de nós ainda muito pequenos e precisam que estejamos atentos às necessidades deles, cuidando para que cresçam bem e possam, no futuro, se tornarem crianças alegres e saudáveis como você.
Tudo que você desejou vai chegar, mas precisamos esperar e isso nem sempre é uma coisa fácil para um menino como você que ainda tem seis anos. Tão crescido para desejar irmãos e, ainda, tão pequeno para lidar com a chegada de uma duplinha completamente diferente das suas idealizações. Saiba que a mamãe, sendo adulta, compreende tudo que sentes e que respeita cada um dos teus sentimentos como legítimos e verdadeiros.
Eu sei que há milhares de crianças que estão vivendo isso que você vive neste exato momento, mas isso não faz com que eu julgue que seu sofrimento é menor por ser comum. Na verdade, apesar da alegria enorme que sinto agora pela chegada de seus irmãos, eu também me sinto, muitas vezes, arrasada em saber que sofres e se arrependes de ter desejado tanto ter irmãos. Muitas vezes, fico dividida querendo que meu tempo se triplique para que eu possa ser inteira integralmente para cada um de meus filhos. Infelizmente, não consigo e aprender a dividir minha atenção e meu tempo será algo que terei que aprender com vocês.
Imagino que essa parte seja, particularmente, mais difícil para você. Théo e Thales nunca me tiveram somente para eles, aprendendo a me dividir desde o pouco espaço que eu tinha para eles na vida intrauterina. Você não, não é filho? Você me teve, por seis anos, exclusivamente para você.
Teu sofrimento e tudo que te envolve, meu amor, me diz respeito e mexe comigo. Se estais feliz eu estou feliz, e se estais triste, mesmo o momento sendo único, eu fico triste também e me ocupo em pensar como posso te fazer entender melhor o momento e o quanto é mágico tudo que estamos vivendo. Sim, Théo e Thales vão crescer, mas isso requer tempo. Théo e Thales dividem, apenas, meu tempo contigo, mas eles trouxeram como eles para mim uma capacidade ainda maior de amar e hoje eu sou capaz de amar cada um de vocês três ainda mais intensamente.
Como não posso te arrancar a frustração, eu queria apenas te ajudar a perceber, como você mesmo já me disse, que irmãos são os presentes mais preciosos que podemos receber. Te falo isso com segurança porque tenho duas irmãs que são as pessoas que mais amo e as únicas que tenho certeza que estarão sempre comigo, mesmo uma morando no outro lado do oceano lá na terra da rainha.
Quero te dizer, também, que a chegada de seus irmãos não diminui em nada o amor que sinto por você e que tu terás, eternamente, um lugar muito especial na minha vida materna, por ter sido tu quem me ensinou a ser mãe. Seus irmãos serão sempre gratos a ti por isso.
Queria te dizer, ainda, que tudo isso que vivemos hoje será muito pequeno diante de tudo que viveremos juntos e que nós cinco (eu, você, papai e os gêmeos), de agora em diante, teremos a certeza de que nunca estaremos sozinhos, porque somos uma família que se ama e se cuida. Oh, meu Tom, que alegria eu sinto em saber que te dei o presente de ter dois irmãos para chamar de seus e conviver cuidando e respeitando. Por mais que hoje seja difícil perceber a grandeza disso, no futuro tu vais saber bem do que estou falando.
Sim, dizer que será pequeno não significa dizer que seja pequeno hoje. Neste domingo, que tu querias tanto a minha companhia para sair e passear, sei que não a ter é um grande problema e reconhecer seu sofrimento é algo que eu nunca quero deixar de fazer. Obrigada por estar comigo nesta vida para vivermos junto a chegada desses novos amores. Obrigada, mais ainda, por me mostrar que a vida é bem ambivalente e que podemos não nos sentir amados mesmo quando o outro julga nos dar todo amor do universo.
Vamos em frente superando os obstáculos e construindo o amor que une nós cinco para sempre! Te amo, meu ontem pequeno e hoje grande Tom.


quinta-feira, 5 de abril de 2018

A chegada de um (ou dois) irmãos e a invisibilidade do primogênito


A chegada de um irmão (ou dois) é sempre um misto de sentimentos para o irmão mais velho. Aqui em casa não haveria de ser diferente. Embora Tomaz tenha desejado muito um irmãozinho e tenha ficado eufórico em descobrir que ao invés de ganhar um ganharia dois irmãos, ele tem sentido muito o nascimento dos gêmeos.
Tudo começou quando, no momento do nascimento, os pequenos precisaram ir, mediatamente, para UTI. Com isso, Tomaz não pôde vê-los e começou a sentir muito por não ter condições cognitivas nem afetivas de construir estes irmãos sem vê-los.
Com a estadia dos pequenos na UTI neonatal e, pelo fato de serem dois, a mãe e o pai precisavam estar sempre presentes no hospital e, em função disso, o ex pequeno (agora grande) Tomaz começou a sentir, ainda mais, a chegada dos irmãos.
Tom fez de tudo. Adoeceu, chorou muito, cobrou atenção, disse que a gente não amava mais ele e fez tudo o que uma pessoa, muito enciumada, é capaz e fazer. Isso ocorre porque as crianças pequenas representam o amor de seus pais pela atenção que deles elas recebem. Como a atenção foi comprometida, é natural que a criança fique insegura em relação a este amor que, para ela, é estruturante.
Para lidarmos com esta fase que é difícil para todo mundo, sobretudo para Tomaz, temos buscado uma dose extra de empatia, para nos colocarmos, mais ainda, no lugar desse menino lindo que, durante 6 anos, foi o centro das atenções e agora precisa ceder espaço para duas criaturinhas que ele ora ama e ora não ama tanto assim (Jamais devemos obrigar os mais velhos a verbalizarem que amam os mais novos).
Com esta empatia, buscamos sempre reconhecer o sentimento dele e damos legitimidade para que ele possa sentir tais emoções sem culpa. Assim, sempre que podemos nós lhe dizemos:
- Você está chateado, Tom? E quando ele responde afirmativamente, eu complemento:
- Os irmãos estão chorando e mamãe precisa, agora, dar atenção a eles. Ela sabe que você também queria ficar com ela agora, não é? Eu posso ficar contigo daqui a pouco e, se você quiser a companhia de alguém agora, posso pedir para o papai ficar com você, pode ser?
Com isso, além de legitimarmos que ele pode estar chateado, sentir raiva dos irmãos ou outro sentimento que desperte nele sensações desagradáveis, demonstramos que estamos atentos e nos importamos com o que ele sente, embora, nem sempre, consigamos deixar o que estamos fazendo para atendê-lo em todos os momentos.
Além disso, eu ou o pai estamos buscando ficar disponíveis para ele, enquanto o outro, com a ajuda da família ou das pessoas que colaboram em nossa casa, dar conta dos pequenos, alimentando-os e cuidando deles. Por mais difícil que seja, temos tentado manter a rotina de Tomaz, levando ele na escola, pegando ele na escola, acompanhando nas lições de casa, descendo para brincar embaixo do prédio, ajudando na alimentação, etc.
O importante é que os adultos da relação entendam que o momento da chegada de novos membros à família é difícil para todos, mas que cabe aos adultos darem o suporte às crianças, a fim de que a fantasia do abandono possa ir sendo, pouco a pouco, ressignificada. Para dar este suporte, faz-se urgente tirar este mais velho da invisibilidade, questão muito recorrente quando um novo bebê chega ao recinto e, com sua fofura, ganha todos os olhares.
Sobre esta invisibilidade do primogênito, Luci Lima (@luciglima) traz um relato emocionante, que a mim e ao pai do Tom muito tocou ao ponto de nos arrancar lágrimas. Pela profundidade do texto, decidi compartilhá-lo aqui, para que todos pudessem, também, se emocionar.

O menino invisível (lindo!)

“Outro dia ao usar o elevador do prédio, eu, meu filhão e minha bebê, encontramos alguns vizinhos.
Durante o trajeto, os vizinhos foram brincando com a bebê, perguntando nome, idade... Quando saímos do elevador, meu filho diz:” mãe, já percebeu que parece que eu estou invisível? Ninguém mais me nota, só olham para a minha irmãzinha. Os vizinhos nem me deram bom dia! “ .
Tomei um susto quando ouvi, e na hora me veio a resposta (normalmente isso não acontece, mas nesse dia fluiu): “eu te entendo filho, você já percebeu que ninguém pergunta como eu estou? Se eu consigo dormir bem, se estou sentido alguma dor, nada. Só querem saber da bebê.”
Ele me deu um abraço e disse:” é mãe o jeito é a gente se ajudar.” “Mas filho, eu não fico triste. Quando você era bebê acontecia a mesma coisa, todo mundo só queria saber de você e eu e o papai ficamos invisíveis, mas felizes porque todos queriam conhecer o mais novo membro de nossa família.
Você vai ver, já, já essa novidade passa e tudo volta ao normal.
Passando alguns dias, a cena no elevador se repetiu.
Como que por proteção olhei imediatamente para ver como meu filho estava reagindo aquela bajulação dos vizinhos com a irmã. Ele estava sorrindo e quando viu que eu estava olhando para ele, segurou minha mão e me deu uma piscadinha com um dos olhos. Tive vontade de parar tudo e esmagá-lo de beijos.
Quando saímos do elevador perguntei para ele: ”filho , está tudo bem?“
A resposta dele me surpreendeu: “não se preocupe, mamãe. Eu já entendi que a neném é novidade, um dia eu passei por isso, agora é a vez dela”.
Simples assim, resolvido e superado. Ao menos por hoje.
Como ele me ensina.
Ele pode até estar invisível para alguns, mas para mim ele brilha.”

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Educar é fazer escolhas

Educar é tomar decisões, sempre. Não tenho a menor dúvida com relação a isso. Mas como tomamos as decisões na hora de educar, visto que, nem sempre, as recionalizamos? Pensei muito sobre isso ontem observando Tomaz entrar no mar com o pai dele.
A cena foi: Os dois se dirigiam, de mãos dadas, para o mar. Diante de um corredor de sargaço, Tomaz pede ao pai que lhe ponha no colo. Neste momento, o pai tem que decidir: encoraja o filho a enfrentar o medo e ultrapassar o sargaço ou acolhe a criança e seu medo e coloca Tomaz no colo durante a ultrapassagem? A cena demorou menos de 10 segundos, mas o suficiente para que eu a olhasse cheia de admiração. Não tinha dúvidas do que aconteceria: o pai acolheria o filho no colo.
Diante do enfrentamento pensei: e se ele tivesse encorajado Tomaz a enfrentar os sargaços, qual tipo de contribuição ele teria dado ao nosso menino? Certamente, para alguns, ele teria ajudado Tomaz a reforçar sua coragem diante da vida, o que seria positivo para o enfrentamento de desafios futuros. Sim, não tenho dúvidas quanto a isso e não tenho dúvidas, também, que a coragem é uma virtude importante diante da vida. Sobretudo se pensarmos com Comte-Sponville quando ele afirma que a coragem é a capacidade de superar o medo e a covardia é se entregar ao medo. Digo isso para afirmar que, uma outra pessoa vendo a cena, pode ter pensado que o pai embotou a coragem e estimulou a covardia, não permitindo que Tomaz enfrentasse seu medo sozinho.
Mas como já disse, educar é fazer escolhas e, para nossa família, a coragem só precisa ser estimulada quando é percebida do ponto de vista moral e se põe em favor do outro. A coragem dos valentões não nos interessa e, com isso, acolher Tomaz diante de seu medo é algo mais relevante do que torná-lo um valentão.
Acreditamos que quanto mais segura for uma criança, mas ela terá coragem diante da vida e, para tal segurança, é importante saber que não podemos enfrentar tudo e, muito menos, fazer tal enfrentamento sozinho. A coragem não é ausência do medo, mas, sim, a capacidade de enfrentá-lo, de dominá-lo. Saber que há um colo para subir, vez ou outra, é muito importante na vida e o que Tomaz aprendeu ontem no colo de seu pai foi, ao meu ver, muito mais importante do que a aprendizagem forçada de enfrentar o desconhecido (neste caso em particular o sargaço) de toda e qualquer forma.
Me deu um orgulho danado do pai que escolhi para meu filho. Me deu um orgulho danado das decisões que estamos tomando, juntos, na educação dos pequenos. Sei que educar é fazer escolhas e que, nesta estrada da vida, nossas escolhas poderão ser equivocadas. Mas sei, também, que mesmo erradas, tais decisões estarão amparadas num amor sem tamanho e na crença de que acolher o outro é sempre mais importante do que abandoná-lo a própria sorte.

É sobre isso que vamos decidindo, é sobre estas crenças que vamos caminhando. Espero que com a chegada dos nossos dois pequenos que estão a caminho, Théo e Thales, consigamos manter nossas escolhas pautadas neste amor tão grande que nos une e nos encoraja a decidir sempre.