Tenho observado, nesta minha mais
nova trajetória de mãe de múltiplos, que bebês gêmeos chamam muita atenção por
onde passam. Ao observarem dois carrinhos lado a lado, muitas pessoas se
aproximam, fazem perguntas e, obviamente, emitem comentários a partir de seus
julgamentos sobre como é viver a maternidade de mais de um bebê ao mesmo tempo.
Muitos desses comentários são bem
agradáveis e alegram o meu coração. Outros, entretanto, são repletos de
julgamentos e me entristecem, posto que viver essa experiência é, para mim,
maravilhosamente linda. Desde que soube que havia dois bebês em meu ventre, fui
tomada de uma alegria e de uma sensação de que estava sendo duplamente
agraciada. O que de melhor alguém pode receber do que ter um filho? Somente ter
dois ou mais. Por isso, ouvir julgamentos que tratam a maternidade de dois de
forma pejorativa ou demasiadamente penosa é algo que eu, realmente, não gosto.
Justo por isso decidi escrever esse
post com o título: o que nunca dizer a uma mãe ou a um pai de gêmeos. As
observações aqui colocadas são fruto de minha pouca experiência neste campo, já
que os meus meninos só possuem três meses. Mesmo assim, ela expressa alguns
comentários pouco empáticos que temos ouvido e que, de alguma forma, chateiam
nossos lindos dias.
1- Que trabalhão, não é?
Nove em cada dez pessoas que se
aproximam de nós emitem esta frase dentre as primeiras que pronunciam. Sim,
bebês dão trabalho. Fazem isso não porque são mimados, mas, sim, por serem
totalmente dependentes dos adultos tanto fisicamente quanto emocionalmente.
Acordar a noite para alimentar ou acalentar, trocar fraldas, dar banho, entre
outras coisas faz parte da rotina de qualquer recém-nascido. No caso de gêmeos
não é diferente e este tipo de trabalho deve ser totalmente previsível quando
se deseja ter um ou mais bebês.
O problema não está, ao meu ver, nas
pessoas reconhecerem este trabalho. A questão chata é que isso seja dito logo
de cara como o fator mais relevante. Parece que o mais importante é o trabalho
que se tem e não o amor que se vive.
2- São seus primeiros filhos? Vai fechar
a fábrica, não é?
Parece-me que há uma “lei” atual de
que as pessoas só podem ter dois filhos. Vivemos no Brasil um sistema
ditatorial (do julgamento alheio) que determina quantos bebês você tem o
direito de ter: no máximo dois. Superar a expectativa social tem sido enxergado
como uma afronta e tratado, por grande parte das pessoas, de forma muito
desrespeitosa.
Como meus gêmeos vieram após um menino mais
velho, as pessoas, quando me fazem a pergunta sobre serem os primeiros escutam:
- Não, já tenho um mais velho de seis
anos.
Neste momento, me olham com ar
piedoso e completam:
- Nossa, você é doida? Gosta de ter
filhos, não é?!
Bem, eu gosto sim de ter filhos e
sempre quis ter três crianças em casa. Na verdade, queria até mais, mas as
condições biológicas, sociais e financeiras não me permitem. Acho muito
desagradável quem julga quantos filhos você está autorizado a ter. Essa é uma
decisão que diz respeito, unicamente, aos pais e quanto menos julgamento
melhor. Por isso, jamais emende a pior pergunta: Vai fechar a fábrica, não é?
Lembrem sempre que esta é uma decisão da família. Somente os pais sabem de seus
desejos e suas condições. Sua curiosidade em saber as pretensões do casal não deve nunca ser maior que o respeito às decisões dos outros.
3- Vai tentar a menininha?
Me parece existir, além da ditadura
do número de filhos, uma crença generalizada de que todas as pessoas desejam
ter meninos e meninas. Não entendo porque todos acham que qualquer pessoa,
sobretudo as mulheres, desejam ter uma mini versão de si mesmas.
No meu caso tenho três meninos e me
sinto completa e realizada assim. Caso a pergunta fosse: deseja ter mais
filhos? Talvez eu respondesse que sim, mas, mais uma vez, o sexo seria
completamente indiferente, já que amo pessoas e não o sexo ou gênero que elas
apresentam.
Poderia ter quatro filhos e quatro
meninos. Não me faria nenhuma diferença a presença de meninas ou meninos, mas,
sim a possibilidade de amar e ser amada por mais filhos sendo todos meninos,
todas meninas ou meninos e meninas. Nunca tive preferências a este respeito e isso pode ser absolutamente normal.
4- Eles são idênticos? Mas a mãe sempre
reconhece, não é?
Sim, no meu caso eles são idênticos.
Nem todo gêmeo é igual ao outro, mas, em meu caso, sendo univitelinos, a
probabilidade é imensa de que sejam completamente iguais. De tão parecidos, a
família vai encontrando formas de diferenciá-los, prestando atenção aos mínimos
detalhes e a variáveis de personalidade.
Nem sempre a mãe sabe quem é. Nem
sempre o pai, a vó, as tias sabem quem é quem. Mas parece que somente a mãe
carrega esta obrigação tácita de diferenciá-los e, não distinguir imediatamente
cada um dos bebês é tratado como algo inconcebível para uma “boa mãe”.
Aqui em casa, agora, tem sido um
pouco mais fácil diferenciar Théo de Thales. Nem sempre isso é possível e eu, a
mãe das crianças, já os confundi algumas vezes. Por isso, sabendo que nem
sempre a mãe reconhece quem são, apostamos em cores de chupeta diferentes,
roupas diferentes e a utilização de pulseira com nome para que Théo não vire
Thales nem Thales vire Théo.
Por isso, esse tipo de pergunta
coloca sobre as mães uma responsabilidade que elas não dão conta e cria uma
culpa imensa nelas, visto que elas acreditam que todas as mães de gêmeos
possuem a capacidade sobrenatural de diferenciá-las, o que não é verdade.
5- Foi natural ou fez inseminação?
Dentre as perguntas mais
inconvenientes feitas às mães de gêmeos esta me parece a Top One entre as
piores. Qual a diferença entre o método de fecundação? É mais mérito ser
natural ou fertilização in vitro?
No meu caso, meus meninos vieram numa
gravidez natural, mas, poderiam ter vindo por fertilização que não seria
problema algum. É possível que venha uma gravidez de gêmeos naturalmente, mesmo
quando não há ninguém na família com este histórico prévio. Esse é o meu caso.
Eu não teria problemas em falar sobre
tratamentos para engravidar, mas há mulheres que não gostam e elas têm o
direito de não quererem falar sobre isso. O mais engraçado é que quando as
pessoas veem um bebê único, dificilmente, perguntam sobre o método de
fecundação.
Saibam que há gêmeos que,
naturalmente, são gerados. Há gêmeos que, por fertilização, são gerados. É
exatamente igual aos casos de bebês únicos. O importante é que eles foram
desejados, amados, esperados e cuidados. A forma como foram gerados não faz
diferença e não diz respeito a ninguém além dos pais. Por isso, embora esta
seja a última coisa que não se deve dizer aos pais de gêmeos neste texto, deve ser a primeira a ser evitada.
Há perguntas alternativas e bem mais
agradáveis a se fazer às mães e aos pais gemelares: Como tem sido viver esta
experiência? Como é incrível, não é?
Precisam de ajuda? Posso colaborar com algo?
Caso não consiga pensar em nada
melhor do que as cinco frases/expressões acima, apenas sorria para mãe ou para
o pai e elogie suas crias. Nada é mais feliz para quem vive a
maternidade/paternidade do que ouvir um: "como são fofos seus bebês!" Certamente,
apenas com elogio, não correrá o risco de ser desagradável justo num momento em
que mãe e pai estão super felizes.